e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Adélia Prado


Perdi o medo de mim. Adeus.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Leitura das férias I



Dentre várias outras coisas, o bom das férias é a liberdade para ler. Ler o que quiser. Ler sem a preocupação com os planos de aulas nem com as ementas dos cursos que roteirizam a vida do professor.



Nunca tinha ouvido falar de Buell Quain – o etnólogo americano que tinha fascínio por ilhas e viagens. Gostava de escrever cartas e adormecer embalado por histórias. Cientista suicida que bebia e fumava, fazendo do próprio corpo um laboratório. Um homem silencioso que carregava segredos e “arrastava alguém no seu rastro”.



Lendo “Nove noites”, o premiado romance do Bernardo Carvalho, descobri este viajante que viveu entre os índios krahô. Ele morou numa pensão da Lapa, no Rio, e suicidou-se aos 27 anos em Carolina – uma cidadezinha morta no interior de Goiás. Cheia de mistérios, sua morte envolve problemas com afeto, dinheiro e família. Não necessariamente nesta ordem.



Criado em torno de cartas, entrevistas, fotos e relatos, este belo romance é baseado em fatos reais, mas inscreve uma forma contemporânea repleta de “memória e imaginação”.  O autor tematiza tempos modernos: o Brasil na era Vargas; os costumes e o desmatamento da selva; os roteiros de Rondon e dos irmãos Villa Boas;  o encontro de Buell Quain com Lévi-Strauss, em Cuiabá; e até a queda das torres americanas no 11 de setembro...



Sem nenhum desejo de ser governado pelos mortos, o narrador de “Nove noites” ouve os vivos que é uma beleza. Com a fome de quem atravessa o sertão e necessita de um rosto real, ele sabe que “a realidade é o que se compartilha”.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Palavra poética, cor e história

 
Maria Aparecida Andrade Salgueiro*


 

Acaba de ser lançada, pela Editora da UFMG, "Literatura e Afro-descendência no Brasil: Antologia crítica".  Trabalho de fôlego, reúne em quatro volumes, resultado de pesquisa liderada ao longo de mais de dez anos pelo Professor Eduardo de Assis Duarte, daquela Universidade. Fruto da colaboração de 61 pesquisadores de 21 universidades brasileiras e 06 estrangeiras, tendo contado com o apoio de órgãos de fomento, diferentes instituições e inúmeros cidadãos e estudantes da UFMG, a obra necessariamente conduz a novas formas de pensar a Literatura Brasileira.



Lançando foco sobre 100 escritores afro-descendentes, vindos de tempos e espaços diversos, através de ensaios e referências biográficas e bibliográficas sobre cada um deles, dos tempos coloniais até os dias de hoje, a coletânea procura organizar a ainda dispersa reflexão acadêmica atual sobre o tema, num percurso histórico que vai de clássicos (Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Sousa) a contemporâneos (Nei Lopes, Paulo Lins, Ana Maria Gonçalves), passando por nomes importantes ‘esquecidos’ (Maria Firmina dos Reis, José do Nascimento Moraes). A Antologia deixa claro que seu real objetivo é “mostrar que existe uma produção literária importante que caminha na contracorrente das normas ainda vigentes no circuito literário”. Buscando mapear e conceituar, a Antologia “inclui escritos daqueles que mesmo não assumindo explicitamente um projeto literário afro-brasileiro (termo e conceituação contemporâneos), apresentam traços discursivos que os situam, em muitos momentos, numa órbita de valores socioculturais distintos dos abraçados pelas elites brancas. E que, de uma forma ou de outra, expressam tais valores, transformando-os em linguagem literária”.



Nesse sentido a obra se insere em categoria relevante dos Estudos Literários na contemporaneidade – a do resgate. Resgate de obras que, nas palavras da autora afro-americana Alice Walker, “por instintos contrários”, ou por questões múltiplas de relações de poder e hegemonia acabaram, como tantas outras, ‘perdidas’ ou ‘esquecidas’, apesar de produção literária consistente e valorosa. Rotas que necessariamente avançam na contemporaneidade ao se discutir identidade e Literatura. Nessa ótica, o trabalho de pesquisa liderado pelo Professor Eduardo de Assis Duarte trilha caminhos próprios, porém, semelhantes àqueles que foram decisivos nos Estados Unidos, para o reconhecimento e a visibilidade da produção literária dos afro-descendentes, tal como o trabalho do renomado crítico afro-americano Henry Louis Gates, Jr., e seus estudos de arqueologia literária. Ligados a estudos pós-coloniais de Literatura, ao cruzar gênero e etnia, apresentou descobertas absolutamente impensáveis até anos atrás entre os autores literários, e que passaram, então, a embasar os currículos e redimensionaram os estudos da Literatura Estadunidense.



Assim, em época de revisões, quando as ações afirmativas estão em torno dos dez anos nas Universidades no Brasil, a “Antologia Crítica”, ao lançar um novo olhar sobre a Literatura Brasileira torna-se obra de referência e de encontro identitário para o amplo grupo de alunos afro-descendentes que ingressou na Universidade pelo sistema de cotas e que tem sido submetido a currículos fundamentalmente eurocêntricos. É obra que servirá como fonte de referência para aqueles que devem aplicar a Lei 10.639/2003 que estabelece que “nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileiras.”



Com metodologia rigorosa, liderança firme, metas claras e definidas, a obra constitui um marco, um ponto capital, e destaca-se no cenário da pesquisa propositiva em Letras em nosso país. Apresenta produto de trabalho sério e orgânico, organização, consistência e conteúdo crítico. Ao se impor o desafio de realizar pesquisa em todas as regiões do país (fato incomum na área, em geral voltada para aspectos pontuais) com vistas ao mapeamento (absolutamente inédito) e estudo da literatura produzida pelos afro-descendentes desde o período colonial, traz contribuição de peso para os estudos dessa literatura em nosso país, nos colocando, inclusive, em posição de destaque na Afro-América Latina.



Em brevíssimas linhas, um pouco da riqueza de cada um dos volumes. O Volume I – Precursores - parte do século XVIII e se dedica a 31 autores e autoras nascidos até 1930. Passando por clássicos como Machado de Assis, Lima Barreto e Cruz e Souza, chama a atenção também para escritores ‘esquecidos’ ou ‘pouco lembrados’ como o poeta do século XVIII, Domingos Caldas Barbosa, e os pioneiros de meados do século XIX, Luiz Gama e Maria Firmina dos Reis – autora de “Úrsula” (1859), o primeiro romance abolicionista do Brasil, cuja republicação em 2004, após mais de um século fora de circulação, vem contribuindo para a reescrita de nossa história literária. Chega ao século XX com Solano Trindade, Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento, entre outros. O volume abre com denso ensaio introdutório - “Entre Orfeu e Exu, a Afrodescendência toma a palavra” - de autoria de seu Organizador, Eduardo de Assis Duarte, e nele são traçadas de forma assertiva os pressupostos da Antologia Crítica.



O Volume II – Consolidação – nos apresenta mais 30 autores e autoras nascidos nas décadas de 1930 e 1940, entre eles, os eminentes intelectuais afro-brasileiros, Joel Rufino dos Santos e Muniz Sodré, o poeta e romancista, Domício Proença Filho, membro da Academia Brasileira de Letras, e o compositor, escritor e pesquisador da cultura afro-brasileira Nei Lopes. Entre as mulheres, a poeta, contista, romancista e ensaísta, Conceição Evaristo. O título do volume marca época quando se consolida a existência de uma vertente afro na literatura brasileira.



O Volume III – Contemporaneidade – reúne 39 autores e autoras, nascidos na metade do século XX. Entre eles, o poeta e ficcionista Cuti; Marcio Barbosa e Esmeralda Ribeiro, mantenedores da decisiva série “Cadernos Negros”, publicação ativa desde 1978; Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”; Ana Maria Gonçalves, autora do romance histórico “Um defeito de cor”, vencedor do prestigiado prêmio Casa de las Américas. E ainda, Miriam Alves, Lia Vieira e, na nova geração, Cristiane Sobral, Cidinha da Silva e Allan da Rosa, entre outros, com temática predominante urbana e voltada para as populações marginalizadas nos grandes centros brasileiros.



O Volume IV – História, teoria, polêmica – co-organizado com Maria Nazareth Soares Fonseca, encerra a presente série e abre novas perspectivas de avanços e formulações. Estruturado a partir de diferentes visões e impressões da sociedade brasileira e da literatura produzida por escritores afro-descendentes, reúne depoimentos de escritores e intelectuais negros, reflexões sobre a produção literária e sobre o próprio conceito de literatura afro-brasileira, refletindo a multiplicidade e a diversidade características da contemporaneidade. Os textos críticos problematizam a questão e são assinados, entre outros, por Octávio Ianni e Silviano Santiago.



A obra terá lançamento nacional, em pelo menos seis capitais do Brasil e um lançamento oficial no Rio de Janeiro, no Teatro Machado de Assis da Biblioteca Nacional, com a presença de autores incluídos na Antologia e uma homenagem a Abdias Nascimento. É o início da visibilidade do que até então não era visível ou conhecido, almejada ao longo de todo o texto por seu Organizador.



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Maria Aparecida Andrade Salgueiro é Professora da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Pesquisadora da FAPERJ e Visiting International Scholar do Dartmouth College, nos Estados Unidos.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Perseu

 
No Dicionário de Símbolos, o mito de Perseu ilustra a complexidade da relação pai-filho, filho-pai, existente em todo homem. Apesar de complexa, essa relação pode ser leve (com Perseu e Medusa, Calvino abre a proposta da Leveza em "Seis propostas para o próximo milênio").



Perseu não tem pai humano. Descende diretamente de Zeus. Esse mito alado me lembra um amigo que, como Perseu, nunca teve pai. Ele era pai do seu próprio pai. Até que esse pai do meu amigo morreu. E depois dessa morte o meu amigo continuou eternamente pai. Pai para toda obra.



Paternal e alado, Perseu corta a cabeça da Medusa (simbologia da culpa). Com esse corte, ele abole  a sua própria culpa. Poucos lembram que, depois da Medusa morta, nasce Pégaso - um cavalo cujo coice abre uma fonte (ok, mestre Yoda, eu falo a sua língua). "Coice que abre uma fonte" é um bom título.




Dizem que quem prova daquela fonte é possuído por uma sede infinda. Perseu mata a sede. É o mito que simboliza o ideal realizado. Mas não pensem que é fácil. Esse ideal tem preço. Ele é realizado ao preço de combates e escolhas. Difíceis combates e escolhas corajosas, engenhosas.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Nelson Freire amanhã no Rio



O músico mineiro apresenta, dentre outros, Schumann e Liszt no teatro municipal, às 17 h. De graça. No link abaixo, a uol disponibiliza 5 faixas do cd de 1980, gravado ao vivo neste mesmo teatro do Rio onde Nelson se apresenta neste domingo.


http://www.radio.uol.com.br/#/album/nelson-freire/ao-vivo-no-tatro-municipal-do-rio-de-janeiro/19687

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ao modo da seca

para Nonato Gurgel



Da épica resta o esqueleto da lira:
arcadas de carneiros despidas
de suas próprias cordas, cujas peles,


antes de secas no curtume do baldio,
são escritas por bizarras partituras
para grasnos e crocitos,


não com as onívoras plumas,
pelos cálamos de garras e bicos,
as carcaças da epopéia se transmutam


em elegias aos homens e odes ao pó,
onde nada é potável a vida viceja
entre larozes e fungos, vermes e lesmas,


cria-se o húmus na penumbra idílica,
e as notas recomeçam sem a escala
de sol, e sob a pedra ainda resta,


na acústica concha de um caracol,
a umidade lírica.


Marco Antonio Saraiva, Sol Sustenido, Rio de Janeiro: Mundo das Idéias, 2011.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates Brasileiro

José Miguel Wisnik


Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira
Deu um pique filosófico ao nosso futebol
O sol caiu sobre a grama e se partiu
Em cacos de cristais
As cores vestiram os nomes
E fez-se a luta entre os homens
Até os apitos finais
(Disseram os deuses imortais)



A história não esquece que a bola
Se negou mas chorou nosso gol
E vai se lembrar para sempre
Da beleza que nada derrotou
Mas quem será que diz que venceu
No país em que o ouro se ganhou e perdeu
(Derreteu)



O futebol é a quadratura do circo
É o biscoito fino que fabrico
É o pão e o rito o gozo o grito o gol
Salve aquele que desempenhou
E entre a anemia a esperança
A loteria e o leite das crianças
Se jogou



Com destino e elegância dançarino pensador
Sócio da filosofia da cerveja e do suor
Ao tocar de calcanhar o nosso fraco a nossa dor
Viu um lance no vazio herói civilizador
(O Doutor)


sábado, 3 de dezembro de 2011

somos ossos de Ovídio?

Entrevista concedida ao escritor Lohan Lage, editor do blog Autores S/A.


Lohan: Olá, Nonato Gurgel. Primeiramente, é um prazer imenso recebê-lo aqui, no blog Autores S/A. Nesta semana, o tema proposto aos poetas concorrentes do concurso foi: O Sertão. Esta ideia foi concebida a partir de uma homenagem ao escritor Euclides da Cunha, autor do livro Os Sertões. O que esta obra proporcionou a você (reações, aprendizados, trabalhos...), e o que ela representa, na sua opinião, no cenário literário do nosso país?


Nonato Gurgel: Parabéns ao blog pela escolha do tema e do autor. É um prazer falar deste livro de Euclides da Cunha, um marco na Literatura Brasileira. O texto de “Os Sertões” rompe. Há nele uma ruptura de gêneros literários e a construção de uma outra forma estética que se situa entre o ensaio e o romance. Além disso, Euclides introduz a interdisciplinaridade entre artes e ciências, possibilitando uma infinidade de leituras ideológicas, formalistas, psicanalíticas...


Essas rupturas e os demais procedimentos estéticos dos quais Euclides faz uso nOs Sertões, dizem muito da violência social que o seu texto encerra. Com medo dessa violência, adiei durante anos a leitura do livro. Li o “Grande Sertão: veredas”, de Rosa, releitura assumida de Euclides, e atravessei sertões de Graciliano, José Lins, Cascudo e Cabral, mas sempre adiando solos e desertos de Euclides. Até que, atentando para a identidade do Brasil e suas contradições, deparei com a sua dimensão paradisíaca e violeta. Dimensão essa que Euclides traduziu muito bem neste livro híbrido e viril que traumatiza e vinga. Depois dele, a literatura deixou de ser “o sorriso da sociedade”.


Lohan: Em seu ótimo texto, Overdose do real, encontrado no blog Arquivo de Formas (http://arquivodeformas.blogspot.com/), você afirma que "o perfil literário contemporâneo surge em sintonia com os gráficos da mídia e do mercado, mas de ouvido aberto ao discurso da crítica". Seria possível um autor posicionar-se de modo a atender tanto aos estímulos mercadológicos quanto aos oriundos da crítica especializada? Qual autor você apontaria, hoje, com um perfil exemplar condizente com sua visão de autor contemporâneo?


NG: Esse perfil condiz com a maioria dos autores contemporâneos publicados pelas principais editoras. Autores que freqüentam as bienais e os mega eventos, a fim não apenas de autografar e comercializar os seus livros, mas principalmente de contatar o leitor – o grande personagem desta história.


Lohan: De acordo com sua experiência profissional e de vida, o que mais importa, em um certame como este: o autor, a sua obra ou o leitor/jurado? Na sua opinião, o leitor/jurado deve valorizar a trajetória do autor-competidor ou uma análise isolada de seus poemas seria mais justa?


NG: Sabemos que, desde a produção das vanguardas e a construção das poéticas modernas, no início do século XX, o autor perdeu muito da sua onipotência. Sabemos também que, a partir deste contexto estético e histórico da modernidade, o papel do leitor e a produção da obra ganharam leituras infindas e criaram procedimentos inusitados. Neste sentido, sou borgiano e prezo muito por uma poética da leitura. Para Borges, importavam muito mais as páginas lidas do que as páginas que ele escrevia. Na verdade, essa poética da leitura consiste numa descarada declaração de amor às formas herdadas da tradição literária. Por isso, um poeta contemporâneo como Paulo Leminski pergunta no seu belo “Catatau”: Não somos os ossos da tradição?


Lohan: Nonato, pra terminar, qual conselho você deixa aos poetas dessa competição em relação a esta temática, O Sertão? Você poderia dar alguma sugestão de leitura?


NG: Gosto muito desta temática do sertão. Não chega a ser um conselho, mas uma sugestão. Sugiro aos poetas a releitura de autores da tradição modernista que possuem o sertão como tema: Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, João Cabral, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Antonio Torres... No link abaixo encontra-se um texto nosso, sobre o tema do sertão, que acaba de sair na revista da Uniabeu: http://arquivodeformas.blogspot.com/2011/06/os-sertoes-e-alguma-coisa-do.html




sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

hoje é o dia do samba

Ouça Cara do Mundo  e + 4 canções de "Recanto" - o novo cd de Gal Costa

http://www.radio.uol.com.br/#/volume/gal-costa/recanto/25110

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

leve


Adivinhação da Leveza (2011), de Duda Machado, é um livro repleto de poemas aludindo à sombra, como “Revelação da sombra”, “Ok, sombra”, “Vulto”, “O que vem depois”... Outros poemas marcantes aludem à nuvem (“Explicitação da Nuvem” e “Nuvem”) e ao vento (“Como se fosse o vento”, “Nas quebradas”). O vento entra também no poema que abre o livro:



História Invisível



Era o vento entrando

pela casa, abrindo seus recessos

em varandas, instando pelo

espaço sem limites, até

se defrontar com o espelho

e logo se deter, cristalizado.



Vento sombra nuvem... Não pensem que esses signos naturais de filiação poética tradicional, sugerem alguma porção romântica do poeta moderno de “Hotel das Estrelas” (Gal Costa em Fatal, “Pela janela sozinha...”). Duda é um poeta do seu tempo. Fabrica linguagens densas. Exclui peso. Ele sabe que a leveza está nos procedimentos lingüísticos e estéticos; não nas certezas apresentadas pelas doutrinas.



Além dos signos naturais – vento sombra nuvem árvore montanha paisagem –, esta poética contemporânea possui nas idéias de reinício, retorno e recorrência (“A cada vez”, “A forma desde fora”) e na ação de refazer (“Onde estás” e “Enfim”) os procedimentos que o poeta utiliza para adivinhar o que é leve.



Nesta poética repleta de memórias, a ação de fazer parece que refaz o próprio poeta, e lembra muito uma assertiva do escritor argentino César Aira: e recomeçar era a tarefa mais repetida.