“Um herói negativo”. Esse é o título da Palestra apresentada pelo crítico literário João Luis Lafetá (USP) no Seminário “Viva Graciliano” – organizado na UFRN, em 1993, pelo professor Eduardo de Assis Duarte que disponibiliza o vídeo acima.
Partindo das teorias e críticas de Adorno, Northrop Frye, Alfredo Bosi e Antonio Candido, da leitura das vanguardas e dos diferentes contextos ideológicos do século XX, o crítico paulista tem no romance moderno de Graciliano Ramos o seu roteiro.
Autor de "O mundo a revelia" - ensaio onde focaliza, dentre outros, o tempo e a técnica narrativa de São Bernardo -, Lafetá dialoga com Carlos Nelson Coutinho: "A construção de um burguês: eis o conteúdo da primeira parte de S. Bernardo."
A obra de Graciliano começa a ser escrita nos anos 20 do século XX. Vai até os anos 50, embora ele seja um autor inscrito nos anos 30 (quando outro autor de "escritura branca", seca, linguagem sem ornamento, como a de Graciliano, começa a publicar: Camus).
A revolução de 30 provoca os artistas e intelectuais, quando Graciliano era ligado ao governo de Alagoas. Por isso ele escrevia relatórios oficiais. Alguns destes relatórios foram publicados em jornais cariocas. O homem que escrevia relatórios tinha "Caetés" na gaveta.
Os anos 30 são marcados pelas grandes marchas urbanas. Marchas populares organizadas depois em partidos, e pela consolidação de uma literatura engajada com as questões sociais. Contexto no qual se produz um romance que denuncia e tenta representar aspectos da sociedade brasileira.
O romance de 30 e o Nordeste do Brasil. O romance como instrumento de leitura da realidade social. O que é a realidade brasileira? Graciliano fazia críticas ao Modernismo, mas gostava dos estudos voltados para a identidade do Brasil.
Lafetá lê “Caetés” (1932) e a cidade de Palmeira dos Índios (fala Tetê Bezerra) como espaço representativo dos ritmos cotidianos do interior de um Brasil quase patriarcal.
“São Bernardo” é lido como texto mais adensado e veloz. Um romance realista "exemplar", que traduz o ritmo da modernização brasileira na ascensão de Paulo Honório - um sertanejo que vira fazendeiro - e no seu fim solitário. Final no escuro mas acordado.
“Angústia” choca Mario de Andrade? O romance narra a vida de um Luís da Silva funcionário público brasileiro. Um intelectual sertanejo sem possibilidades de produzir a própria obra.
“Vidas Secas”. Viventes esmagados pela natureza, pela sociedade, pela cultura. Seres de um mundo submerso.
“Infância” - um garoto tiranizado pela educação. O universo infernal de “Memórias do Cárcere”, e a prisão do homem moderno. Nenhum acusação legal. O velho Graça não acaba nunca.