Uma
viagem à índia:
melancolia contemporânea (um itinerário)
Para o poeta João Batista de Moraes
Com alguma sombra de Pessoa –
maior ainda a
de Whitman – mas sem lágrimas
recalcadas.
Eduardo Lourenço, Uma viagem no
coração do caos
...
a biografia de um país
passa também pela gastronomia profunda: o que é um
povo
senão o que come?
Um
estrangeiro é sempre uma novidade, tanto verbal
como no número de hábitos que
traz para a paisagem.
Um
homem que fale demasiado/ é surdo
Foi
noite e choveu, agora está sol e amanhece.
O
que é um dia senão um jogo de dados/ entre vontade e matéria?
Um
homem apaixonado é um excesso/ de concentração
Paris
tem uma paisagem propensa à memória; / cada cidade privilegia certas áreas do
cérebro...
E
sabendo-se que os sonhos misturam vários estilos literários – p. 186
Em
sítios de calor os abraços de conforto/ não são assim tão importantes – p. 187
Como
alguém que acelera para não ver o mundo – p. 195
Só
ouço quem me diz Avança,/ eis a minha surdez... – p. 1999
Porque
nem em Paris é sempre Dezembro,/ nem no Brasil a rotação pára sempre no mês
quente. – p. 204
...
percebendo então o que falta/ aos mapas: o cheiro – p. 205
No
centro de tua queda/ se erguerá a tua tranquilidade... p. 208
O
rosto/ é manuscrito pelo punho dos inimigos/ – e esta é a primeira parte da
primeira aprendizagem - p. 215
Os
cães não tiveram/ os Gregos como antepassados – p. 218
...
mas até as doenças/ querem ser contemporâneas – p. 233
A
luz do sol – é bom relembrar o óbvio –,
não está no mundo para prestar bons serviços à literatura. p. 235
não está no mundo para prestar bons serviços à literatura. p. 235
O
poder é inimigo dos versos, eis o facto. p. 239
Ninguém
mente aos gritos, de longe. p. 243
de
longe, a maior invenção dos Homens/ é o beijo – p. 253
Cada
morte diz qual o bocado do corpo/ que afinal deverias ter defendido – p. 270
Ninguém
varre o que ama, e a natureza está a varrer/ a cidade – p. 274
No
meio dos piores momentos prepara-se o/ dia de sol e o cheiro mínimo das ervas
verdes – p. 276
Os
caminhos aumentam/ quando a cama é má – p. 298
O
Ganges é a biografia,/ em líquido, de todas as cidades próximas – p. 298
Bloom
sabia que só existe idade madura no corpo que/ atravessou uma doença ou a
compreendeu – p. 308
Um
insulto/ ou uma leve indelicadeza sintática/ podem estragar um/ dia biológico e
compacto – p. 313
No
azul deveremos enterrar a nossa estaca – p. 314
Vento
tão lento que parede um provérbio – p. 382
No
ócio o rosto desembaraça-se e sozinho ganha/ um estilo individual; portanto: perigoso
– p. 388
Como
a imobilidade e a atenção são sinônimos! p. 408
Uma estrada é interrompida/ por uma maçã
perfeita – p. 412
No
Ocidente o divino foi paginado cuidadosamente; / tem uma encadernação cara – p.
414