e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Midia comercial em guerra contra Lula e Dilma




Leonardo Boff
Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.


Sou profundamente a favor da liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e xulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

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Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

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Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.


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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Caraúbas


Caraúbas é uma árvore. Árvore de casca amargosa e flores amarelas. Vem dessa árvore o nome da cidade onde nasci no Rio Grande do Norte. Sou, portanto, um caraubense potiguar. Coisa de índio: potiguar é o nome da nação tupi que habitou o litoral do RN. Em tupi quer dizer "comedor de camarão".

Vem de Caraúbas duas frases que escrevi no caderno da amiga Teresa Jácome. As frases que ela me devolve não possuem nenhuma genialidade, reconheço. O que me faz gostar delas, após mais de 30 anos, é a possibilidade de ver como pareço com aquele "menino quase adulto", como me chama a pintora Teresa.

As duas frases: "O mundo é como um teatro; a cada cena ganhamos melhor experiência e nos firmamos no espetáculo da vida" e "Somos uma construção inacabada onde falta sempre algum material imaterial para nos construir". Agradeço a Ceição Miranda pela foto.

domingo, 26 de setembro de 2010

Tramando mar

O mar faz barulho
porque não tem filho?


Trouxe-me o mar
e tudo o que nele há:
peixe pedra alga e algo
tecido na trama do tempo

Trouxe-me o lar
numa travessia corpórea
que me faz mergulhar
em costas terrestres

Trouxe-me o ar
de sua graça marítima
e o desejo mirante
de ser rio, onda



Natal, 1998

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Casa da Leitura em Laranjeiras

"Ao coração de uma casa, chega-se de olhos fechados. ... Esperava por ele uma boa roça de pasto, uma rede, um lençol alvo e uma conversa marcada por intervalos de silêncios."
.
Este trecho é parte do conto "A espera da volante", do livro Faca, de Ronaldo Correia de Brito. O conto será lido por mim, nesta quinta-feira, na Casa da Leitura. A referida leitura faz parte do evento V Arte de Laranejrias e Cosme Velho.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Oswald Hotel

Um canibal compõe a balada
do pau brasil e deste hotel
cujo mármore claro refrata
o rosa neon da esplanada

Antigos funcionários chuvosos
apagam com bocegos a noite
e a mancha que o espelho tece
aos olhos passantes no hall

No ap, o sonho voa outra vez
das Letras de Ana, Caio, Eli
da prova dos nove do carpete
puído de onde brota o sol

São Paulo, 1998

domingo, 19 de setembro de 2010

Esaú e Jacó

Como um segredo cansado
de sua mudez, bebeu a luz
da manhã e narinas abriu
ao pasto aberto sob o sol.
Vexado de tanta luz, bradei:

Tabuadas da minha infância,
oi Cartilhas, dai-me o gosto
de cobrir feras e descobrir,
a título de novos ares e elos,
Lili e o Lobo entre Letras.

sábado, 18 de setembro de 2010

desagrura

Com a alma azul de hoje,
continuava a ser de todos
os tempos, vãos e climas.
Ironia acesa nas retinas,

vira andorinha dispersa
num farfalhar de gestos
e pensou: agora um salto.
Do pé no chão brotou

um temperamento oposto
às ideias urtigas: glória
é amaciar agruras e arar
brotos de outra verdura

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Destino do Inacabado


São sempre verdíssimas
estas montanhas mineiras.
Folheio-me nelas ao som
de riachinhos que narram
sempre às mesmas margens.

Sem a pressa de quem
cedo nomeia, sem pose
e leitor da bula brutal
da paixão, cedo, ativo,
aos ritmos do meu tempo.

No silêncio do vale
escrevo versos às coisas.
Comigo acostumadas, elas
movem e ditam o destino
do inacabado: a criação

domingo, 12 de setembro de 2010

hoje não tem verbete

A música de Stacey Kent renova. Afaga alma. Seu timbre possui filiação joãogilbertiana, e ao ouvi-la em “Corcovado” senti falta de um cd da Adriana Calcanhoto cantando Bossa Nova.

Ouvi o jazz da bela e suave Kent num palacete das Laranjeiras, sob árvores iluminadas da floresta tropical. Da sua poltrona sob o céu, a atriz Andrea Maciel dizia-me de prazos e caminhos citando Clarice: “perder-se também é caminho”.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Verbetes V


Benjaminiano: 1- sujeito que lê com simpatia o camponês para entender o narrador, e anuncia a morte da narrativa. Ao invés de olhos, ele possui um par de faróis; por isso alguns leitores conceituais piscam quando o encaram. Sua visão compõe um bélico Breviário do Século XX; sua linguagem produz uma vitalidade tátil que abre ruas no corpo urbano em estado crítico. 2 - Crítico que atua num filme que se passa aqui e agora, de olho nos fatos e postos de gasolina, sem nenhuma aura ou nostalgia artística. Esse filme anuncia a Modernidade em cartaz e tem o cinema, a cidade de Paris e Kafka, dentre outros, como personagens cujos discursos pedem passagens. 3- Anjo de olhos afetuosos e em paz consigo que não faz alarido quando perde a mulher ou a mãe. Desiste, mas não derrama.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Verbetes VI



Barthesiano: 1- sujeito que ouve o rumor da língua e diz fazer a preparação do romance, embora faça algo totalmente diferente, tipo hai-kai. Sua neg-ação engendra corte, desvio, ruptura, desritmia muscular. Sua linguagem produz uma visível vontade de potência em relação à leitura, deixando em estado de escritura o corpo laboratório. 2 - Sujeito que vive uma perene utopia literária e afetiva. Essa utopia é anunciada no recorte do seu cânone particular lido em pequenas epígrafes, e na grandeza da língua como objeto no qual o poder se inscreve, gerando um discurso que engendra a culpa. 3- sujeito que derrama; faz escarceú quando perde a mulher ou a mãe.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

todo realismo é oportunista



Cruz e Souza é o Baudelaire americano