e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

House III



Um pequeno detalhe sonoro chama atenção nesta série de TV: o tom interrogativo da voz que prouncia “House” para chamar o comercial.



Sempre ouvi a palavra cafuné associada à cabeça. Cafuné como ação de afagar ou coçar levemente a cabeça de alguém. Mas quando pronunciado com tonalidade interrogativa e cheia de vigor,  “House” faz, de forma leve e certeira, um cafuné no ouvido de quem vê.



Atento às narrativas revistas, gravei algumas falas marcantes de House como “Informação salva vida” e “Eu sou o exame”. E esta que vale por uma sessão de análise: “É normal ser problemático. O ruim é romancear isso”.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

House II


Cético, humor oscilante, House é um médico cheio de testosterona e serotonina. Usa bengala e jeans. Dependendo da temperatura ou do clima afetivo, é capaz de enviar flores, tocar guitarra ou teclado.



Mas House atordoa. Apesar de inserido no sistema médico, ele ironiza a própria ordem hospitalar. Desafia e põe em cheque a eficácia social dos esquemas que o sistema medicinal elabora.



Testando drogas lícitas ou não, House faz do próprio corpo um laboratório. Faz diagnósticos rápidos, brilhantes. Tão brilhantes como os penetrantes olhos azuis com os quais ele provoca pacientes e familiares, desafia a equipe médica e fita o amigo Dr James Wilson.



O colega Wilson é interpretado por Robert Sean Leonard, exímio ator de Sociedade dos Poetas Mortos. Neste filme, o personagem de Robert estuda medicina. Na vida real, o sogro do ator é um médico. Tudo isso ajuda a tornar crível muito do que House diz.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

House I



Apresentada no Brasil pela Universal Channel, House é uma série de TV que fisga aos poucos. Vicia. Trata, com humor e ironia, de temas clássicos e contemporâneos como vida e morte, grotesco e sublime, moralidade e patologia, transplante de órgãos e desejo.



Além do bom texto e do surpreendente roteiro de base hospitalar, a série vicia principalmente por causa do personagem principal – o inusitado Dr. Gregory House, interpretado pelo ator, músico e escritor  Hugh Laurie (clique no nome).



House diz coisas que, embora a maioria concorde, poucos falam, tipo: “o mundo é louco”, “todo mundo mente”, “sem dor não há ganho”... Lembra a lucidez poética de uma louca da minha terra que dizia: todo mundo quer sem bom mas a lua falta uma banda.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Caro Euclides da Cunha




Para Vivi W


Só depois de ler
a biografia de D Pedro II
escrita por José Murilo de Carvalho
eu entendi a sua aflição de jovem
cadete contra a República
a ponto de lançar o próprio sabre
aos pés do ministro da guerra
durante uma solenidade na Urca
realizada na Escola Militar



Agora eu sei meu caro senhor
além de órfãos e fluminenses
o escritor e o político tinham
outras coisas em comum como
o respeito pela Monarquia e amor
às Letras, às Ciências, ao Brasil



Em comum eles tinham também
o apreço pelo positivismo e o IHGB
o gosto pela arte, a atividade epistolar
o exercício das viagens e admiração
por Victor Hugo e Benjamin Constant



A história registra em ambos
uma certa dificuldade ao lidar
com os afetos mais cotidianos
e um jeito de polir a aflição
lendo sem parar – livros livros
livros e os rostos ao redor cujos
letreiros anunciavam batalhas
políticas, militares ou amorosas



Isso sem contar a imensa
falta de sorte que tiveram –
caramba – o imperador e o sr
no trato com as mulheres:
a dele mancava; a sua, traía



Por isso qualquer um dos dois
poderia ter escrito “um tição
aceso no terreiro deserto”*



* Frase do livro "Os Sertões" (1902), de Euclides da Cunha. As demais informações sobre o escritor estão no livro "Retrato interrompido da vida de Euclides da Cunha" (2003), de Roberto Ventura


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

viagem como arte VIII

.

Cada viagem é uma idade.

Para viajar é preciso de uma aceleração do espaço.

"Criar espaço para abrir as asas"

As viagens em que acabamos chegando por partes: primeiro o corpo, depois a sombra.

De tempos em tempos a alma precisa ajustar-se ao corpo.

Quantas viagens contidas nas janelas!



Adolfo Montejo Navas, Pedras Pensadas

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

viagem como arte VII



Navegar é preciso, viver não é preciso.


Frase do general romano Pompeu (a.c.), dirigida aos marinheiros que recusavam viajar. Os marujos temiam guerras ou pirataria. Atribuída a esse contexto dos antigos navegadores, a frase é citada pelo filósofo Plutarco, na antiguidade clássica, e relida pelos poetas Fernando Pessoa ("Navegar é preciso") e Caetano Veloso ("Os argonautas") , no moderno século XX.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

viagem como arte VI



Sísifo carregando pedra é o avesso de Ulisses e sua viagem marítima?

Ulisses = água, movimento, deslocamento

x

Sísifo = pedra, estabilidade, repetição

A viagem terrestre do mito de Sísifo é repetitiva; não leva a lugar nenhum. Parece que a tarefa do seu ser nada completa. Seu roteiro não vinga. Seria Sísifo a própria pedra que ele carrega?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

viagem como arte V



Calvino lê Ulisses

... Em todas as situações Ulisses deve estar atento, se não quiser esquecer de repente... Esquecer o que? A Guerra de Tróia? O assédio? O cavalo? Não: a casa, a rota da navegação, o objetivo da viagem.



Ítalo Calvino, Por que ler os clássicos