Ó mana, deixe eu ir/ para o sertão de Caicó
Villa Lobos e Teca Calazans
Para os professores Maria do Céu e Pe. Tércio
I – Chove
a cântaros sobre o Seridó
Chove aos pés da Serra de Sant´Ana. Chove na lavoura da memória.
Nos quintais sem fecho da infância chove. Ouço, na chuva, a alegria das aguas
que correm pelos riachos da fazenda Solidão, terreiros do Arapuá e telhados de
Jardim.
Um
trem do velho Oeste atravessa os sertões do Seridó. Os trilhos passam por
lugares com nomes de árvores e santos, como São João, São José, São Fernando,
Timbaúba, Timbaubinha, Ipueira. Onde se vive a seco passam rios – Piranhas,
Espinharas, Sabugi, Seridó, Barra Nova, Acauã...
Estradas de barro na tarde que cai. Na pele, poeira rural e viço. Drummond segue no
cofre do Jeep. Na mala, sementes colhidas no Góis. Na colheita dos grãos, a
lição dos homens que irrigam e aram, antes que eu lesse Clarice e a Descoberta
do mundo: o mundo também é rato.
Desde menino curto rádio. Escutava a Rádio Rural de Mossoró e de Caicó. Correspondia-me com uma rádio alemã. Ouvia anúncios da av. Cel. Martiniano, cuja extensão eu imaginava. Sobre ele, o Cel., sei agora: foi prefeito de Caicó no início do século XX.
Hóspede na av. Havia, na av. Cel. Martiniano, uma pensão com móveis de
madeira escura e uma luz amarela vindos de outro século. Anos depois, li Dante
Milano e Marguerite Youcenar no hotel Vila do Príncipe, nesta mesma av.
Eus do Pessoa na aula de Maria do Céu, no CERES-UFRN, e na estante de
madeira adquirida nA Sertaneja da Cel. Martiniano. Nela, a loja de vinis do
Baiano, e o cine Rio Branco onde assisti “Guerra dos Guararapes”, “Pra frente
Brasil” e “Eles não usam black-tie” – filmes que denunciam conflitos sociais,
prisões e torturas em plena ditadura militar. O cine era próximo ao BB.
Referência comercial do Seridó e metro quadrado mais caro da cidade, a antiga rua grande abrigou pensão, estante de livros, vinis, filmes políticos e conta bancaria. Na rua grande eu ouvi, depois vivi, uma belle époque tardia. Época que carrego comigo em meio aos “cenários em ruínas” de outras ruas por que transito.
Continuo atravessando a av. Cel. Martiniano.
Referência comercial do Seridó e metro quadrado mais caro da cidade, a antiga rua grande abrigou pensão, estante de livros, vinis, filmes políticos e conta bancaria. Na rua grande eu ouvi, depois vivi, uma belle époque tardia. Época que carrego comigo em meio aos “cenários em ruínas” de outras ruas por que transito.
Continuo atravessando a av. Cel. Martiniano.
Tempo do
ser - Tempo do sertão
Tempo do
Ceres - Tempo dos seres
VI – Escritas do sertão na cultura moderna: o
imaginário do fogo
Cascudo tinha uma rede armada e
um charuto aceso
“Primeira casa de pedra”, “O poço de Santana”, “Herói civilizador”,
“Igreja de Santana”, “Cadeia velha”, “Seridó, rio” e a “Serra da
formiga”.
IX –
Lembranças oferecidas ao meu filho Ulisses...
XI – Cidadão do Seridó
Isso aqui era uma terra abandonada
Manuel Cravino, do Góis
O preparo da terra
A derrubada das cercas
A escavação dos sulcos
Os canais de alvenaria
A instalação da rede elétrica
A ligação do motor-bomba
A divisão dos custos
no custeio dos grãos
O calendário para adubar
Milho feijão
beterraba
arroz cenoura algodão
na irrigação comunitária
das 22 famílias do Góis
em Jardim do Piranhas
no Rio Grande do Norte
XII – memórias do sertão no final do século XX
lírica
ferroviária: um trem atravessa o açude
épica
perene / narrativa vã / drama no alforje
no cofre
do Jipe da Emater/ um exemplar de Alguma poesia
Memórias
hídricas: o que será de quem mira /a brisa que vale o mel?