Sol na padaria. Desfruto do pequeno luxo que é tomar café no balcão, mudo ou dialogando, com ou sem açúcar. Começo encarando a caixa de sotaque nordestino, de quem fico amiguinho de infância, fácil fácil...
Escolher o local do balcão – espaço é poder – define quem terei ao lado. A degustação do café e do pãozinho na chapa tem muito a ver com o local no qual eles - o café, o suco, o pão - serão devorados com renovado desejo matinal.
Da caixa já sei naturalidade e estado civil. Acertei ao sentar no local próximo à pia (há um espaço vazio ao lado). E agora o principal: serei servido pela moça grávida, curva cheia de pulsações ou pelo homem reto que narra a história da pele?
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Saboreio como rei uma média deste alimento que contém a fé no próprio nome. Por isso não falha. Na cabeça, um samba de Cartola que diz "ninguém acerta sem primeiro errar", e uma frase de Clarice: "Perdão é um atributo da matéria viva". Perdoa, vai!