Olá, caro Nonato. É com muita satisfação que o
recebemos, mais uma vez como jurado, no Concurso de Poesia Autores S/A. Nonato,
como você enxerga a literatura contemporânea brasileira, diante de tantas
mudanças nos hábitos da leitura e da escrita, bem como da edição dos livros e
da divulgação dos trabalhos pelas diversas mídias disponíveis? Qual é a cara do
novo poeta brasileiro? Ele preza pela técnica, ele remete ao clássico, ou ele
possui raízes firmes no movimento modernista da década de 20/30, quebrando
paradigmas a seu modo?
NG: Agradeço pelo convite, Lohan. Parabenizo pelo concurso cuja continuidade deve
ser celebrada, e pela sugestão da mitologia como um tema repleto de
possibilidades. Parabéns principalmente para os autores classificados. Creio
que a qualidade cresceu.
Vamos à pergunta que, na verdade, são três ou
quatro. Quando penso em literatura contemporânea, falo principalmente do que
foi produzido nas letras das últimas décadas do século XX e neste início de
milênio. Na minha visão de leitor, essa produção tem pouco a ver com o que
chamamos, por exemplo, de Literatura no século XIX – o mais literário de todos
os séculos. Naquele contexto, a Literatura era feita basicamente do diálogo com
a própria Literatura – uma arte calcada principalmente nas noções de gênero e
oralidade que sedimentam a cultura clássica. Depois das vanguardas do início do
século XX e de toda arte de ruptura produzida pelo Modernismo, ninguém acredita
mais nisso.
O cotidiano do século XX produziu uma
sensibilidade maquínica e virtual onde os conceitos de tempo, espaço e
identidade são relidos, alterando as concepções artísticas do
Classicismo e do Romantismo. A lição de Walter Benjamin
nos ensina que quando mudam os meios de percepção de uma comunidade,
transformam-se suas formas de fazer arte, de produzir cultura. Ou seja: não dá
para viver no século XXI cercado de mídias, telas, teclas, Iphones e escrever
como se estivesse num campo árcade tocando flauta, ouvindo vento, sem IPTU
para pagar. Por isso creio que a cara do poeta contemporâneo seja a do sujeito
que, dialogando criticamente com o arquivo de formas que a tradição nos legou, consegue
inscrever a sensibilidade do seu tempo.
2.Independente do
estilo dessa nova geração literária, quero saber, na sua concepção, o que um
poema tem que ter/ser para receber a sua nota 10? Que técnica é imprescindível,
a seu ver? A teoria deve sobrepujar a subjetividade na produção de um poema?
NG: Teoria é um instrumento contextual e
produtivo que serve principalmente para dar aula. A poeta contemporânea Ana
Cristina Cesar escreveu que foi salva pela técnica. Quando pensamos em arte,
não há salvação sem técnica. Seja na vida ou no texto, é preciso o exercício de
uma forma. Além da imagem, a forma remete a sons, noções de sintaxe e de
extensão. Os materiais acústicos da forma têm a ver com ritmos e timbres,
dentre outros, demarcando uma voz, um jeito de dizer. Por isso não curto poeta
que não lê ou aprimora esse jeito. Independente de geração, a nota máxima vai
geralmente para o autor que acentua a sua voz. E essa acentuação vocal requer, hoje,
um diálogo com diferentes linguagens – verbais e não-verbais – e um domínio da
forma que leva em conta, dentre outros, as noções de rapidez, visibilidade e fragmentação.
Esta entrevista completa e os meus comentários sobre os poemas do referido concurso foram publicados em http://autoressa.blogspot.com.br/
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