Para a professora Lucia Helena e as turmas
do curso Letras/Parfor da UFRRJ
Cazuza mostra a sua cara no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Cazuza - misto
do Brasil urbano que toca na favela, no sertão e na periferia da metrópole. Ouvido de todas as raças e de todos os tons, ele canta vários credos ecumênicos e
gêneros sexuais. Mistura de ritmos com poesia, ele tem a manha do poeta rápido, rasteiro.
Cazuza é letra pop. Escrita cultural que a academia acolhe como produto da era da redemocratização, nos anos oitenta, quando ele cantava “a burguesia fede” e, contradizendo o seu próprio discurso demolidor, afirmava: “eu tenho esperança, eu fiz o que pude”.
Cazuza é letra pop. Escrita cultural que a academia acolhe como produto da era da redemocratização, nos anos oitenta, quando ele cantava “a burguesia fede” e, contradizendo o seu próprio discurso demolidor, afirmava: “eu tenho esperança, eu fiz o que pude”.
Além dessa esperança, Cazuza traz o sonho ("quem tem um sonho não dança") e a religiosidade ("Peço a deus que me perdõe no camarim") dos autores românticos ("adoro um amor inventado"). Cercado de paradoxos, ele vive no limite proposto pela
rapidez moderna de um tempo veloz e trepidante que não pára.
"Exagerado"
assumido, o poeta sabe que “viver é gastar a vida” (Mário de Andrade). Como o jagunço Riobaldo, ele aprendeu, através da carne e do verbo, que "viver é muito perigoso"; e viu que "virar pelo avesso é uma experiência mortal" (Ana C). Amigo do escritor Caio F, o compositor também se alimentava de "pequenas epifanias", "morangos mofados", o escambau...
Cazuza conjuga os verbos do seu tempo. Ele vive, gasta, vira, dá e pede. Pede até piedade. Pede muito: pede “uma” ideologia para viver, pede para o Brasil, corrupto e autoritário, mostrar a sua cara e respeitar as leis; e pede também, ao contrário do compositor social, que quando estiver cantando ninguém cante nem se aproxime muito dele.
feito de letras e verbos
Cazuza conjuga os verbos do seu tempo. Ele vive, gasta, vira, dá e pede. Pede até piedade. Pede muito: pede “uma” ideologia para viver, pede para o Brasil, corrupto e autoritário, mostrar a sua cara e respeitar as leis; e pede também, ao contrário do compositor social, que quando estiver cantando ninguém cante nem se aproxime muito dele.
Cheio de sarros e “segredos”, esse canto - às vezes ao pé do ouvido - põe no liquidificador cultural a bossa nova, o rock in rol, a tropicália, Cartola e o samba
canção. Cazuza junta a esses ritmos a poesia beat americana, a poética marginal brasileira,
a luz e a farpa de Clarice Lispector, e muito pó, muita pedra das minas do poeta Carlos Drummond.
Coração "batendo travado na escuridão do quarto”, ele é o primeiro espanto numa geração que, ao ver a cara da morte, assume ser “cobaia de Deus”, e numa MPB que canta “dois homens apaixonados”.
Político, poético, porralouca e religioso, ele é um desses que "viram messias e andam no mar”. Por isso, ao contrário do que sugeriu a revista Veja, nos anos 90, sua obra fica. Fica e eu creio que ele ainda será trilha de outras gerações.
Coração "batendo travado na escuridão do quarto”, ele é o primeiro espanto numa geração que, ao ver a cara da morte, assume ser “cobaia de Deus”, e numa MPB que canta “dois homens apaixonados”.
Político, poético, porralouca e religioso, ele é um desses que "viram messias e andam no mar”. Por isso, ao contrário do que sugeriu a revista Veja, nos anos 90, sua obra fica. Fica e eu creio que ele ainda será trilha de outras gerações.
12 comentários:
Linda leitura de Cazuza e desse momento tão amplo, tão denso, tão nosso: mundanamente pulsante.
Nanda querida, amei encontrar vc por aqui neste momento "pulsante".
Lembrei de vc quando vi a mostra
ontem, porque Cazuza amava Água Viva, de Clarice L, livro que alguns alunos leram no seu curso.
Vem mais Caju.
bjs
"vejo o cristo da janela", isso sempre será o nosso 'Caju'. 'viva a água', com toda a (im)possível clar(idade), querido Nonato, porque C.L. disse um dia que "um homem fino de um pé só tem um grande olho transparente no meio da testa" e, ainda, "quer tomar chá? E não espera resposta."
beijinhos moventes...rs V@l^*^
"vejo o cristo da janela"
valeu, Val, vou usar este verso do Caju no próximo post
bj
Nonato, vai ser um "trem...". ;)
bj e valeu!
V@l
"quem tem um sonho não dança"
lindo texto, Nonato.
bjs.
Mari ana, tantos sonhos num só nome. bj
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.Clarice Lispector.
Lindo texto professor,me rendi após conhecer alguns pensamentos de Cazuza. Valeu a pena. Bjs
Olá professor, gostei muito da colocação sobre a a mostra do Cazuza no Museu.Gostei de saber que ele usou o livro da Clarice para suas composições. Valeu!!
Débora e Ana, é bom saber que voces curtem a porção Lispector do Cazuza.
voltem, valeu
Meu amigo Nonato senti imenso prazer ao ler o seu texto. A obra de Cazuza ficará pois ela extrapola gerações e classes sociais. Um abração meu amigo.
Querida Carminha, saudades de vc
Fico feliz ao ver que o som de Cazuza continua ecoando em vc. Feliz Natal
bj
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