Comecei a ler a poética de Hilda Hilst nos
anos 80. Mergulhei em dois dos três gêneros por que ela transitou – a poesia e
a prosa –, embora desconheça, até hoje, a incursão que a autora fez pelo gênero
dramático, e que resultou numa dezena de peças teatrais. Devorei, espantado, Com os meus olhos de cão (1986), e
transcrevi, no ritmo trepidante de quem procura entender as relações entre literatura,
paixão e vida, alguns trechos das novelas que compõem este volume.
Hilda morreu em 2004. Em seus últimos anos,
permaneceu afastada do universo literário e com pouquíssimos leitores, editores
e tradutores. Dizia que era maldita, incompreendida. Possuía a maldição dos que
escrevem para depois. Mas, ao contrário de Clarice Lispector e de Ana C, que
após a morte ganharam reconhecimento da crítica e do público, Hilda continua pouco
lida, e sua ressonância no universo acadêmico é
mínima. Mesmo assim, planejei para 2014, na UFRRJ, o seminário “As mulheres de
minha vida: Clarice Lispector, Hilda Hilst e Ana Cristina Cesar”, e por este
motivo estou lendo um livro belíssimo organizado por Cristiano Diniz: Fico besta quando me entendem:
entrevistas com Hilda Hilst (2013).
Como o subtítulo anuncia, o volume reúne
algumas das entrevistas que a autora paulista concedeu, durante mais
de 50 anos de vida literária, para críticos, escritores e jornalistas, como Caio
Fernando Abreu, Nely Novaes Coelho, José Castello e Marilene Felinto, dentre
outros. A maioria deles inscreve a dificuldade e o assombro que a leitura de
Hilda provoca; outros a chamam de hermética, e demonstram como,
definitivamente, Hilda não é para principiantes. Assim como a Clarice de A paixão segundo G. H., ela sugere um
leitor de “alma já formada”. Sobre essa poética do mergulho e da sombra,
escreverei no próximo post.
Nenhum comentário:
Postar um comentário