e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Hilda Hilda Hilda, que seja do jeito que for



Comecei a ler a poética de Hilda Hilst nos anos 80. Mergulhei em dois dos três gêneros por que ela transitou – a poesia e a prosa –, embora desconheça, até hoje, a incursão que a autora fez pelo gênero dramático, e que resultou numa dezena de peças teatrais. Devorei, espantado, Com os meus olhos de cão (1986), e transcrevi, no ritmo trepidante de quem procura entender as relações entre literatura, paixão e vida, alguns trechos das novelas que compõem este volume.


Hilda morreu em 2004. Em seus últimos anos, permaneceu afastada do universo literário e com pouquíssimos leitores, editores e tradutores. Dizia que era maldita, incompreendida. Possuía a maldição dos que escrevem para depois. Mas, ao contrário de Clarice Lispector e de Ana C, que após a morte ganharam reconhecimento da crítica e do público, Hilda continua pouco lida, e sua ressonância no universo acadêmico é mínima. Mesmo assim, planejei para 2014, na UFRRJ, o seminário “As mulheres de minha vida: Clarice Lispector, Hilda Hilst e Ana Cristina Cesar”, e por este motivo estou lendo um livro belíssimo organizado por Cristiano Diniz: Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst (2013).

 
Como o subtítulo anuncia, o volume reúne algumas das entrevistas que a autora paulista concedeu, durante mais de 50 anos de vida literária, para críticos, escritores e jornalistas, como Caio Fernando Abreu, Nely Novaes Coelho, José Castello e Marilene Felinto, dentre outros. A maioria deles inscreve a dificuldade e o assombro que a leitura de Hilda provoca; outros a chamam de hermética, e demonstram como, definitivamente, Hilda não é para principiantes. Assim como a Clarice de A paixão segundo G. H., ela sugere um leitor de “alma já formada”. Sobre essa poética do mergulho e da sombra, escreverei no próximo post.


Nenhum comentário: