A campanha presidencial foi tão intensa que ainda ecoa na rua, no
trabalho, nas filas. Ecoa principalmente nas redes sociais. Em Natal, a vereadora
Eleika Bezerra voltou atrás, e retirou do facebook a postagem na qual sugeria
serem as regiões Norte e Nordeste uma Nova Cuba. Segundo a professora que apoiou
Aécio, a campanha resultou na divisão entre etnias, entre ricos e pobres.
De certa forma ela tem razão. Ao referir-se às
eleições no Brasil, a mídia internacional também fala na divisão entre ricos e
pobres. Já a mídia brasileira – em grande parte, filha da ditadura militar, não
esqueçamos – dá bandeira o tempo inteiro. Durante a apuração, tinha canal cuja bancada jornalística
mais parecia um velório, ao anunciar a reeleição da Dilma.
Voltemos à vereadora de Natal. Em nota, a professora lembra os altos números do analfabetismo no Nordeste (se não me engano, ela foi secretária de Educação do RN), mas esquece de registrar o bom crescimento econômico que a região teve nos últimos
anos. Um crescimento comparado ao da região Sudeste. Isso sem contar as melhorias advindas de programas sociais como o Bolsa família.
Nordeste produtivo? Parece difícil reconhecer que o problema eleitoral não se restingre apenas à alfabetização, ou
à questão do eleitor ser ou não informado, como sugeriu FH. Se assim fosse, Tirica seria reeleito um dos
deputados mais votados de São Paulo? Outro dado que contesta essa questão da falta de informação: os estados do RJ e MG não elegeram Aécio.
Sejamos diretos: o Nordeste votou em Dilma pelo mesmo
motivo que São Paulo vota em Aécio: o bolso. Pesou a economia. O Nordeste votou em Dilma porque ela assumiu, no seu discurso, as periferias e as minorias; sejam elas as mulheres (a maioria do eleitorado nesta eleição), os negros (é preciso reler a história) e os jovens (lembrar que do discurso do PSDB ecoava algo em prol da redução da maioridade penal, afe!).
O governo Dilma tem problemas graves, como o controle da inflação. É cercado
de corruptos. Tem mensalão e escândalos na Petrobras. O
povo deseja, desde junho de 2013, mudar. Apesar disso, não viu mudança num candidato que encenou a repetição ao mencionar a possibilidade do Arminio Fraga
(membro da equipe de FH), na área econômica. Esse filme a gente já viu, meu.
Nova Cuba ou não, é outro o Nordeste. É visível como evoluiu a região onde nasceram Caymmi e Cascudo. A diminuição do fluxo migratório
para o sul é sintomática. Não é apenas na
economia que é notória a mutação por que passa o Nordeste. Na área da educação,
não tem como comparar a implantação dos cursos profissionalizantes
nas principais cidades. Na educação, Cuba seja aqui.
Tudo isso é difícil para a tradicional classe política nordestina reconhecer.
Tudo isso é difícil para a tradicional classe política nordestina reconhecer.
p.s. Passada a campanha, uma pergunta não cessa: por que
será que o PT não ganha em São Paulo, onde foi criado, e o PSDB não conseguiu
ganhar em Minas Gerais, onde governava?