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...já fui um bobo que acreditava no poema como essência. Hoje o arrasto o máximo possível para junto da prosa, onde pelo menos não vejo a linguagem andar com aquele narizinho empinado de quem trava relações privilegiadas com o oculto e o mistério. Como é ridículo agir assim no chiqueiro cotidiano, espremidos entre o favelizado comércio criminal e o fascismo assassino dos choques de ordem. E olha que eu vim de uma ideologia estética que considerava a linguagem poética em oposição à linguagem cotidiana, que seria “automatizada” e “não-criativa”, mera moeda de troca. Hoje até os formalistas russos entenderiam que a linguagem poética é que está automatizada na sua caixinha de sonoridades, enquanto a linguagem cotidiana exerce a criatividade possível e impossível de quem enfrenta o contato furioso da existência.
Carlito Azevedo, Jornal do Brasil, 2009
Carlito Azevedo, Jornal do Brasil, 2009
2 comentários:
é, e ainda tem gente atrás de trabalho de linguagem, arghh!
Saudades das nossas andanças na rua do ouvidor.
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