O homem que engarrafava nuvens é mais um belo filme de Lírio Ferreira. O “homem” do título é o compositor Humberto Teixeira – o doutor do baião. Gosto de ouvir, neste filme, o diálogo da minha vida com as raízes do Brasil. O ritmo dos cegos nordestinos, suas vozes visionárias. O canto firme de Luiz Gonzaga. Boiadeiro cantando alegre as coisas belas e tristes da terra. Chico Buarque rezando “Kalu” à capela.
O documentário reflete a luz cortante e o pé de serra ritmado do Nordeste. Encara os frutos das sombras e da aspereza dos cascalhos. Flagra do baião a pujança, o toque cosmopolita. Parte da Bossa. Baião vi(b)ra trilha sonora do Brasil no mundo. Dança crua de uma gente que é torre de usina e casa de farinha. Num dos momentos epifânicos, Otto diz que Humberto é a pólvora; e o canhão, Gonzaga. Em seguida, a tela explode (vide vídeo).
Lírio e a bela atriz Denise Dumont – filha de Humberto – traçam roteiros narrativos cheios de música. Apóiam-se em coisas miúdas cotidianas – nuvens, paixões – ampliadas pelas lentes da história e da emoção. Quando um cineasta consegue ajustar sua câmera nestes dois focos – os fatos e a subjetividade em torno deles – certamente acerta. Por isso a platéia aplaude no final. Coisa que não ouvi na sessão do Avatar.
2 comentários:
Vi o filme no dia de seu lançamento no Festival de Cinema do Rio de Janeiro em 2008. Essa sessão foi o marco do lacre do Cine Palácio, ali no Passeio Público. Fechava-se o cinema e abriam-se as nuvens de Humberto Teixeira. O Nordeste estava presente com boa parte dos seus nomes musicais. Havia uma tristeza pelo sepultamento do Palácio e uma alegria por um documentário revelador. Dois anos se passaram para o filme vir a cartaz no circuito das salas convencionais. Que batalha essa a de engarrafar nuvens, pois enquanto a poesia brasileira patina na mesmice, o cine-documentário (herdeiro dos bons paraibanos Linduarte, Wladimir, Ipojuca, Bittencourt e cia.) se supera, mas naufraga frente aos Avatares. É uma guerra ao terror e ao mesmo tempo um amor sem escalas. Parabéns ao Lírio. À Denise nosso mais profundo beijo de agradecimento! E a Nonato? Aquele abraço!
Grande Dedé!
Acho que o filme ganhou Melhor Documentário no Festival de Cinema do Rio de Janeiro em 2008. Será que foi nessa sessão do "marco do lacre" no Cine Palácio?
Abraço
Nonato
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