Para Marília
Gonçalves,
leitora de Palmira
Wanderley
... bongava pelas confeitarias algumas frutas...
Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma
Sempre gostei de frutas. Com o
passar do tempo, aumentei o consumo. O paladar e o olfato, maduros, voltam a
bongar e saborear – repetidamente – as mesmas frutas da infância: manga, melancia,
laranja... Principalmente a pinha. Conhecida como ata ou fruta de conde, saboreio,
com freqüência, sua simbologia dual expressa na dureza do caroço negro e na
delicadeza da carne branca.
Frutas avivam o paladar e a
memória. Tornam o cotidiano menos amorfo e indolor. Comestíveis e ornamentais, elas
aumentam o nosso apetite pela vida. Fazem pensar nas relações entre o corpo e
os “cenários alimentares” (Ilza Matias). A escrita nasce nestes “cenários”.
Brota do “galho” onde “a fruta/ toda pronta/ espera em tremores/ o marfim de um
dente/ que a devolva inteira/ a condição de semente” (Diva Cunha).
A semente, seus cheiros e sabores
abundam nos solos frutíferos. Formas e seivas da fruticultura rendem uma
espécie de estética frutífera ligada ao universo agrário, onde se cultiva até
“um pomar às avessas” (João Cabral). Os frutos – símbolo da abundância –
simbolizam muito dos nossos desejos. Por isso, podem render uma saborosa
escritura onde o que falta – como na “fruta mordida” – produz o sabor.
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