Todas as coisas estão aí/ para nos iluminar
Paulo Leminski, Toda Poesia
Clarice Lispector dizia que não enfeitava ao escrever. Apesar
disso, ela criou, em Um sopro de vida, uma personagem chamada Ângela que vive “esperando
chuva” e tem um cotidiano “muito enfeitado”. Se Macabéa não sabe enfeitar a
realidade, Ângela sabe.
Ângela deseja escrever o “romance das coisas”. Ela humaniza
as coisas. Jura que as coisas, assim como os santos e alguns antigos objetos
artísticos, têm aura. As coisas mudam de lugar. Rezam mais perto só pra
ler. Chovem coisas acesas no dia a dia de quem cultiva coisas ligadas. Move a
força das coisas cotidianas. Coisas aceitas. Firmes em seus lugares provisórios
e à procura.
Nesta narrativa de coisas assinadas, uma estação se anuncia novinha em folhas. Folhas que o outono libera, enfeitando "o romance das coisas" cheias de intenções estéticas e afetivas. Tarde entendi que as coisas - a porta aberta, a luz acesa, o ar ligado - precisam de você.
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