Quando
fazia o monólogo Dona Doida, guiada pela poesia da mineira Adélia Prado, sua conterrânea, a atriz
Fernanda Montengro me deu, no seu camarim em Natal, um dos autógrafos mais
belos da minha vida: “Coragem! Porque sonho não morre.” Além da idéia de afirmação condensada,
gosto principalmente da sintaxe luxuosa desta frase borgeana no seu jeito de
pontuar e sugerir. Esse autógrafo-verso passou a ser uma espécie de mantra existencial
escrito por quem acredita que a arte, dentre outras coisas, erige, conforta.
Sou
atento a toda aparição da Fernandona. Ela sempre alumia. Acrescenta porque surpreende.
Não se repete. Além de iluminar teatros e telas de cinema há mais de meio
século, ela vitaliza páginas de jornais e telas de TV em entrevistas permeadas de
lucidez e poesia, como a que deu esta semana para o ator Lázaro Ramos, no Canal
Brasil, rememorando os seus primeiros trabalhos: “ouço a rádio como se fosse
tatuagem”.
Essa voz é tatuada em fãs bem mais interessantes do que eu, como a sueca Liv Ullmann. A Atriz predileta de Bergman declarou recentemente o seu apreço por Dora do filme Central do Brasil, personagem com a qual Fernanda concorreu ao Oscar de melhor atriz em 1999.
Essa voz é tatuada em fãs bem mais interessantes do que eu, como a sueca Liv Ullmann. A Atriz predileta de Bergman declarou recentemente o seu apreço por Dora do filme Central do Brasil, personagem com a qual Fernanda concorreu ao Oscar de melhor atriz em 1999.
Marcou-me
neste 2013 uma entrevista que a atriz deu para O Globo, falando da
sua arte e reconhecendo, sem dramas, as perdas impostas pelo tempo. Vi esta
matéria afixada até em restaurante. Sou sempre atento às lições da
Fernandona. Elas são didáticas, permeadas de um grau de gentileza difícil de
encontrar nos meios culturais, como esta lição de alteridade: “Uma platéia talentosa é responsável por grande
parte do espetáculo”.
Numa
tempo de novelas que não salvam, e enquanto não chega "Saramandaia" - o próximo trabalho de Fernanda, (a)guardemos suas lições de sabedoria. Ao afirmar a existência com profissionalismo e vigor, ela ajuda a construir a platéia, o país.
Deve ser por isso que, nos anos 80, Dona Fernanda Doida Dora Montenegro de Beauvoir foi convidada para ser ministra da Educação e Cultura. Sábia, ela recusou o convite. Lembrou-me um personagem de Terra em Transe, do Glauber Rocha, que dizia serem a a poesia e a política demais para um homem só.
2 comentários:
Que texto gostoso de ler! Eu também admiro muito Fernanda Montenegro.
caro anônimo, obrigado pelo "gostoso de ler"
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