Para Jô Medeiros
autora da primeira frase
Depois que
aquele cachorro entrou no puteiro, não ficou pedra sobre pedra. O menino, filho
de peixe, correu léguas. A dona do recinto, bobes na cabeça, parou de inclinar bandeja
no salão. E a sereia, meu deus, depois que aquele cachorro entrou no puteiro,
nunca mais a sereia foi a mesma. Vamos combinar que ninguém foi o mesmo depois
que o cachorro entrou no puteiro: nem o menino que correu nem a dona de bobes
nem a sereia dizendo o nome do peixe.
Para ser
sincera, não foram mais os mesmos nenhum dos clientes ali presentes. Sentados à
mesa, eles esperavam. Esperavam educadamente os roteiros sugeridos pelos
retornos do menino, da dona que servia bandejas e da sereia que entrou com um
peixe e sem nenhum voltou. Os clientes não entendiam, a tarde talvez fosse azul,
a sereia tinha olhos verdes. Eles não entendiam serem eles, os clientes, os
principais personagens daquela narrativa à beira mar. Azul aberto por pedras
que uivam, o mar socorria a todos. Depois fez-se noite. As pedras continuaram uivando
para a lua que faltava uma banda.
Todo mundo
sabe que quando a lua falta uma banda, mudam as marés. Tudo muda, move. Move o
menino a dona a sereia – todos desaparecidos. O menino corre em busca do lugar. Lugar onde não se ouve o esganiçar dos cães que assestam o ouvido na direção
da baía. Igrejinha por perto. Morro branco ao fundo. Peixe frito, e um mar azul
sem tamanho a inundar as fendas do olhar esbugalhado. Formosa mulher sem bobs
nem bobes. Ela brinca com fogo. Brinca de marginal com trilha romântica, em
pleno verão liberal pré e pós. Formosa mulher, acreditei na conversa, e a
sereia? Olhei nos olhos da sereia, esqueci o cão e revi o meu mundo caiu 371.
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