... esta tão/ dura morte é ainda o/ resto da
minha alegria
Valter Hugo Mãe, “Poemas”
Fala a deusa Forma no reino de Perséfone: tua
morte mexeu na alma e no corpo. Arrancou de mim dois quilos, e as gramas restantes da utopia que regeu
o último verão. Sugeriu novo ritmo: menino, larga essa margem e corre. Ela é
violenta e cai. Derruba. Em salas silenciosas, grávidas de
tensão e alguma graça mariana, luvas marginais ensaiam a cegueira sem nenhum sossego. Fé na paisagem, “ao retornar e enfrentar o
dia-a-dia/ E escrever...”
Tua morte, como a margem, mata. Matou
certezas enrijecidas na mente, na carne. Traçou roteiros para uma estação de luz
e brisa, atravessada por silêncios que falam. Dizem mais que as reuniões
burocráticas e os discursos de plantão, regidos pelo lirismo rigoroso de Thanatus.
Um lirismo vio-lento repleto de sombras e afiados canivetes orais. Teu antigo reino continua sem xerox sem cantina sem paz - esse artigo de luxo. Nesta guerra de egos, siglas e cus de Judas, foi “Salazar quem me mandou para Angola”.
Agora, querida, é outono. Teu nome, uma
sugestão de futura homenagem póstuma. Eros e Prometeu já não promovem desordem,
embora o horóscopo anuncie o poder das coxas e do fogo. Leio a oralidade das
cachoeiras e os ruídos significantes cheios de desejo e som. Fazes-me falta na tabacaria. Desde que você se foi, um
antigo som voltou a funcionar, e o Esteves continua "metendo troco na algibeira das calças". Desde que você se foi, o
outono anda nas folhas, e o custo de vida subiu muito. Desde que você.
5 comentários:
Somos e não somos eternos. Não o somos nesta carne cultuada pela Moderna Filosofia da Mulher Melancia. Mas somos eternos nestes textos que podem ficar, que podem até ser lidos no ano 2.999. É claro que nossa carne não estará neste planeta azul em 2.999. Não se sabe, inclusive, se haverá ainda planeta azul em 2.999. Mas se forem dignos nossos escritos, eles ficarão, fugirão das batalhas finais, serão republicados em K-Pax, onde não há generais, chefes, coordenadores, advogados, leis, revólveres e prisão.
Fernando, salve salve os seres e os escritos que erigem um tempo "onde não há generais, chefes, coordenadores, advogados, leis, revólveres e prisão."
Fiquei "calada" apreciando o seu monólogo com sua interlocutora, e o mais incrível de tudo isso é que não é um monólogo! Amamos vcs dois!
A presença do imenso vazio deixado por ela é tão constante, não é? Às vezes, nas aulas, fico imaginando o que ela comentaria a respeito disso ou daquilo e sinto saudades... Quase posso ouvir suas palavras, ver seus gestos e rosto nesses momentos. Sim!! Ela reina naquele lugar.
Morena e Ana, não é um monólogo, its all right
bj
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