e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

esponja no caos, intensidade petrificada



Lendo "Memórias póstumas da escravidão", de Eduardo assis Duarte, descubro haver um conto – “Pai e mãe” – do Machado de Assis falando de afetos e abolição. O texto diz que, abolida, a escravidão levou consigo alguns ofícios e aparelhos. Eles deixaram de fazer sentido. Machado cita uma máscara, como exemplo de um objeto que perdeu o sentido de existir.

Símbolo da escravidão, essa máscara de “Pai e mãe” era feita de folha-de-flandres. Era usada pelos escravos para perder o vício da embriaguez. Era. A inexistência dessa mascara no cotidiano contemporâneo sugere que cargos e funções exercidos por pessoas também podem perder o sentido. Sugere mais: que não só os cargos ou funções mas, também, algumas pessoas podem deixar de fazer sentido.

Cada coisa, função ou ser tem a sua hora de fazer sentido ou sumir. Seja uma máscara ou uma pedra. A máscara do bruxo de olhos oblíquos, no século XIX; ou a pedra no meio do caminho, em pleno século XX, lida por um gauche cujas retinas fatigadas flagram acontecimentos pétreos. Por isso esse título. Recortado de uma poética eterna, cansada de tamanha abolição.

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