miniSertão

escritos de Nonato Gurgel

e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Formosa

 
Para Jô Medeiros
autora da primeira frase

 
Depois que aquele cachorro entrou no puteiro, não ficou pedra sobre pedra. O menino, filho de peixe, correu léguas. A dona do recinto, bobes na cabeça, parou de inclinar bandeja no salão. E a sereia, meu deus, depois que aquele cachorro entrou no puteiro, nunca mais a sereia foi a mesma. Vamos combinar que ninguém foi o mesmo depois que o cachorro entrou no puteiro: nem o menino que correu nem a dona de bobes nem a sereia dizendo o nome do peixe.

 
Para ser sincera, não foram mais os mesmos nenhum dos clientes ali presentes. Sentados à mesa, eles esperavam. Esperavam educadamente os roteiros sugeridos pelos retornos do menino, da dona que servia bandejas e da sereia que entrou com um peixe e sem nenhum voltou. Os clientes não entendiam, a tarde talvez fosse azul, a sereia tinha olhos verdes. Eles não entendiam serem eles, os clientes, os principais personagens daquela narrativa à beira mar. Azul aberto por pedras que uivam, o mar socorria a todos. Depois fez-se noite. As pedras continuaram uivando para a lua que faltava uma banda.

 
Todo mundo sabe que quando a lua falta uma banda, mudam as marés. Tudo muda, move. Move o menino a dona a sereia – todos desaparecidos. O menino corre em busca do lugar. Lugar onde não se ouve o esganiçar dos cães que assestam o ouvido na direção da baía. Igrejinha por perto. Morro branco ao fundo. Peixe frito, e um mar azul sem tamanho a inundar as fendas do olhar esbugalhado. Formosa mulher sem bobs nem bobes. Ela brinca com fogo. Brinca de marginal com trilha romântica, em pleno verão liberal pré e pós. Formosa mulher, acreditei na conversa, e a sereia? Olhei nos olhos da sereia, esqueci o cão e revi o meu mundo caiu 371.

 
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sábado, 27 de dezembro de 2014

Engenharia dos ventos




Querido Joaquim

Descampados de ventos narram
no silêncio quente o renascer
de um ente inclinado ao abandono
das entranhas e ao evangelho
das pedras que respiram ao léu

Nesta selva de bichos
arbustos e infâncias no peito
transita reinos
pedra mato
rato rã
homemulher
 
 
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Sobre Saga lusa



O livro de Adriana C faz rir e pensar: “O que não pode é panicar, descontrole cognitivo, essas baixarias”. O texto é um recorte da subjetividade aflita e fragmentada que circula por nossos cenários bélicos e cotidianos, pós 11 de setembro. Narrativas que dizem muito da nossa condição doída e contraditória, das identidades inacabadas em trânsito neste início de milênio. Mas sem drama. Adriana esquece o drama na bagagem, e encara a Coisa assim: “Me erra, Coisa. Vai, sai, que este corpo não é teu.” Texto completo:

http://arquivodeformas.blogspot.com.br/2009/07/surto-com-rajadas-de-agua-lusa.html
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Francisco




Ao dizer que a cúria romana sofre de “infidelidades ao Evangelho”, o papa surpreendeu, às vésperas do natal, detonando o “alzheimer espiritual” que acomete parte da igreja. Isso, sem contar a “força” que ele deu para que EUA e Cuba reatassem relações diplomáticas suspensas há mais de 50 anos. Isso não é pouco: demonstra que o pontífice atua em duas frentes: uma, interna, concernente às questões da própria igreja; outra, de mirada visivelmente externa e filiação social.
 
Se o universo religioso sofreu em 2014 de "alzheimer espiritual", o espaço sócio-político registrou, neste ano, uma altíssima taxa de violência. Este foi um ano punk. Ano de perdas e guerras (Síria, Copa, Petrobrás), no qual o Brasil - campeão em acidentes de trânsito - ocupa um bom lugar no ranking da violência mundial: matamos mais de 10 mulheres e 1 gay a cada 24 hs. Povo cordial?
 
2014 foi também o ano no qual jovens inocentes pediram, em manifestações, a volta dos militares que não permitem manifestações. Para continuarmos no universo de Francisco, lembremos que enquanto a Argentina termina o ano punindo participantes da ditadura militar dos anos 70, os nossos militares sequer assumem as 436 mortes registradas pela Comissão da Verdade (sobre este tema, sugiro uma visita ao site Memórias da Ditadura).

Sabemos que a igreja é canônica, e que todo cânone é feito em cima da tradição, do passado. Isso significa que a igreja adora olhar para trás. Quer dizer que o papa ama a tradição. Creio que Francisco também gosta do passado, mas ele tem um pé no presente que é uma lufada de vida em meio ao "alzheimer" e à violência nossos de cada dia. Ao detonar a pompa e a pose em prol dos pobres, ele é o cara! Lembra o cara mais celebrado hoje: Jesus.
 
 
 
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domingo, 21 de dezembro de 2014

Caminhos Cruzados

 
Título de uma das mais belas canções do Tom Jobim, Caminhos Cruzados (Quando um coração está cansado de sofrer...) nomeia o belo blog do poeta e professor Carlos Magno. É bastante produtiva uma visita a este oásis estético e existencial, em meio ao entulho verbal e narcísico que demarca boa parte do espaço virtual: http://palavora.blogspot.com.br/2014_11_01_archive.html
 
Segundo o Dicionário de escritores norte-rio-grandenses: de Nísia Floresta à contemporaneidade, publicado por Conceição Flores, em 2014, o poeta Carlos Magno fundou o fanzine Palávora, e ganhou, em 1990, o Prêmio Othoniel Meneses de poesia. Em 2005, o ex-articulista da Tribuna do Norte e professor da UFPB foi classificado no III Concurso de poesia Luís Carlos Guimarães.
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sábado, 13 de dezembro de 2014

ver go nha



Político como Jair Bolsonaro é o fim. Ao detonar os direitos humanos, e dizer que a senadora Maria do Rosário “não merece ser estuprada porque é muito feia”, o deputado do PP carioca passou dos limites. É triste e revoltante ouvir sua fala bruta na Câmara Federal. Seu discurso machista, misógino e homofóbico representa uma porção retrógrada da humanidade. Diz muito da barbárie que ainda sedimenta boa parte da sociedade brasileira.


Precisamos ouvir JB. A barbárie que ele representa, no plenário, está presente em nosso cotidiano mais banal. É preciso que este militar se manifeste. Sua performance política tem muito dos gestos autoritários dos militares que não permitem manifestações, e cujo silêncio é um enigma. Acerca disso, basta ouvirmos o eloqüente silêncio dos militares contemporâneos, frente ao relatório apresentado, esta semana, pela Comissão da Memória, Verdade e Justiça.


Passados 30 anos do fim da ditadura, os militares não assumem violências nem torturas. Perante as 436 mortes registradas no referido relatório, eles posam de revanchistas e cobram os militares desaparecidos. Esse impasse dificulta a leitura da história. Impede a evolução da cidadania e dos direitos humanos. É preciso cultivar direitos e deveres, Jair. Isso é básico para todos. Principalmente para um parlamentar ser respeitado e não ultrapassar os limites. Como você.


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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A poeta e a cidade

 
Para Marília Gonçalves
 
 
 
Natal, cidade dos vagalumes,
Cidade verde, de coqueirais.
 
                 Palmyra Wanderley
                 Roseira Brava, 1929

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Tom



 
(1927 - 1994)
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sábado, 6 de dezembro de 2014

memorial


 
memória de um tempo
onde lutar por seu direito
é um defeito que mata
 
Pequena memória para um tempo
sem memória, Gonzaguinha

O site Memórias da Ditadura é uma leitura imprescindível num país cujas dificuldades de lidar com a história são evidentes. O site tem problemas de redação e faltam referências bibliográficas, mas isso não tem a menor importância. Criado pela Comissão da Verdade, este espaço merece ser visitado por quem tenta entender o nosso passado violento, autoritário e contraditório.

Manifestações recentes pediram o retorno de um regime político que não permite manifestações. Seria muito bom se a garotada que deseja a volta dos militares desse uma olhadinha aqui, vejam:

http://memoriasdaditadura.org.br/

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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Gullar na ABL

...

e pode às vezes
(o poema)
com sua energia
iluminar a avenida
ou quem sabe
uma vida

Esses versos do poeta Ferreira Gullar fazem parte do poema “Inseto”. Esse poema está no livro “Em alguma parte alguma” de 2009. Como sabemos, este livro faz parte de uma extensa bibliografia que começou a ser construída na década de 50, sendo composta de diferentes formas como a poesia, música, literatura infanto-juvenil, o teatro, crônica, ensaio, tradução, ficção...

Dentre os livros de poesia de Gullar, pelo menos três títulos podem ser lidos como alguns dos textos mais representativos da poesia moderna produzida no Brasil do século XX: “A luta corporal” (1954), “Dentro da noite veloz” (1975) e “Poema Sujo” (1976). Alguns temas e formas desses volumes estão presentes no livro “Em alguma parte alguma”. Nele lemos novamente as frutas podres na quitanda, ou amadurecendo escuras sobre a mesa; vemos os velhos personagens do Maranhão, lemos nomes de ruas do Rio, relemos bichos (haja gato, aranha, rato...) e, dentre outros, relemos um infindo exercício metalingüístico através do qual a trindade corpo-poema-cidade ganha vida e dialoga sem subordinação lingüística ou estética.

Esse diálogo entre o corpo, o poema e a cidade vivifica o ser e o estar no espaço moderno cotidiano. A vida vira um problema de linguagens, uma demanda de espantos. Pequenas epifanias em meio às sombras e cenários em ruínas de cada dia. O escuro ganha necessidade de forma, como na abertura do poema “Bananas podres 4”:  “É a escuridão que engendra o mel/ ou o futuro clarão no paladar”
 
Sol cotidiano

É da esfera luzidia do sol mais cotidiano que Gullar desentranha grande parte da sua escrita. O poeta sente na boca “o alarido do sol”. O cotidiano é sugado pela língua, tragado pelo olho. Paladar e visibilidade engendram esse cotidiano do poeta moderno romanticamente atravessado por relâmpagos e clarões que dão cria. Muitos relâmpagos. Epifanias. Não as epifanias à lá Clarice Lispector e Caio F, onde a luz atravessa, geralmente de forma atordoada e sã, o corpo de quem vê e frui.
 
Em Gullar, a luminosidade faz a sua travessia nas próprias coisas. Luz que atravess as veredas de um cotidiano chão, de onde brota uma poesia feita de pequenos esplendores, assim:
...

mas o perfume daquelas frutas
que feito um relâmpago
desceu na minha carne
... volta a esplender

Aos 84 anos, o ex-poeta de vanguarda esplende, enfim, na ABL. Ele merece as comemorações. Merece prêmios e leituras. Na leitura madura (“A maturidade é tudo”) de Alfredo Bosi que abre o livro “Em alguma parte alguma”, o crítico indaga se materialismo e metafísica “podem conviver em amorosa tensão”. Concluída a leitura, o leitor sabe que os dois temas podem conviver sim. O leitor saber que podem casar luz e osso.

Nesta poética onde Bosi ouve Drummond, meu ouvido também escuta timbres de Minas, mas ouve também Cabral (embora uma tonalidade concretista ecoe, de quando em vez, dos muitos versos entrecortados, de algumas palavras fragmentadas ou de algumas estrofes alinhadas como nos tempos que o mundo era concreto).

Gullar osso, luz: dessa fonte ecoam, desde há muito, “Barulhos”, “Muitas Vozes”...
 
 
 
Postado por Nonato Gurgel às 13:05 3 comentários:
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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

outro Benjamin



O biógrafo americano de Clarice Lispector às vezes se acha. O B Moser se acha, mas o seu olhar sobre o Brasil provoca  que é uma beleza, vejam:

" ... quando fiz a biografia de Clarice Lispector, fiquei atônito pela quantidade de coisas que botei no meu livro que as pessoas acharam “corajosas.” Não eram. Como dizer que Mario de Andrade era homossexual. Mas tantas vezes me disseram: “Aqui não se pode falar isso. Se eu falasse isso ou aquilo perderia meu emprego no jornal, na faculdade.” Isso impera em muitas áreas. E o ruim do projeto de censura às biografias é que, como tantas coisas no Brasil, não é uma ameaça direta. Esse não é o estilo brasileiro. Mas é um aviso. Porque quem vai comprar briga com gente poderosa? Então há grandes, imperdoáveis silêncios no Brasil. A ditadura militar é um dos maiores."

Apesar de algumas idéias de Benjamin Moser, sobre o Brasil, serem discutíveis, vale a pena ver a sua mirada estética e ideológica para as formas violentas como nos relacionamos com o tempo. Em seu ensaio sobre o país, o jovem biógrafo relê o nosso in-consciente político e social, desde as formas de Brasília, até as nossas ditaduras - a militar e a intelectual das biografias censuradas, dentre outras. Olhar estrangeiro sobre um Brasil contemporâneo e suas violentas con-tradições de cada dia:

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/proa/noticia/2014/11/benjamin-moser-o-brasil-esta-se-canibalizando-4653001.html

 
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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

negra é a mão

  
Para Eduardo de Assis Duarte,
que me ensinou a ler
o caramujo negro
 

pintura de Rugendas, séc XIX
 
 

A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos,
como terá sucedido a outras instituições sociais.
... Um deles era o ferro ao pescoço... havia também
a máscara de folha de Flandres. ... Era grotesca
tal máscara, mas a ordem social e humana nem
sempre se alcança sem o grotesco,
e algum vez o cruel.
 
Machado de Assis, "Pai contra mãe"
in Relíquias de Casa Velha


Tradição

sob a vasta bigodeira de machado
os lábios da raça escondidos acho
a lâmina do riso e o discreto escracho

em cruz fico muito à vontade
para reunir setas de revolta
angústia e cravos
...
chego junto com os mano
nossa vida
muito tato e tutano

Cuti, Negroesia


 
 
p.s. 1
 
Brasil, último país a abolir a escravidão?

p.s. 2

O Rio de Janeiro foi a maior cidade escravista do ocidente.
No século XIX mais da metade da população era escrava.

p.s. 3

Negra é vida consumida ao pé do fogão
Gil, primeiro ministro negro

p.s. 4

-->
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/38587/numero+de+negros+em+universidades+brasileiras+cresceu+230+na+ultima+decada+veja+outros+dados.shtml
 

 
Postado por Nonato Gurgel às 10:46 Nenhum comentário:
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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Manoel de Barros (1916 - 2014)



Coisas que aprendi lendo O Guardador de Águas (1989):


Ele mexe com planta e com épocas.

Suporte de uma tapera é o abandono.

No osso da fala dos loucos têm lírios.


O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.


Ela fode a pedra.
Ela precisa desse deserto para viver.

 
E as ruínas darão frutos.


Correm águas agradecidas sobre latas...

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terça-feira, 11 de novembro de 2014

país cordial


O Brasil registra 50.806 homicídios dolosos (quando há intenção de matar) em 2013.
 
Quase 6 pessoas foram mortas a cada hora.
 
Estes números do Anuário de Segurança Pública ratificam o sétimo lugar que o país ocupa no ranking da violência mundial: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/brasil-bate-recorde-em-homicidios-e-fica-em-7o-entre-ranking
 
Postado por Nonato Gurgel às 23:20 Nenhum comentário:
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domingo, 9 de novembro de 2014

biografias


 
Para quem atua no universo das Letras há mais de três décadas, é estranho não dispormos de algumas biografias fundamentais da Literatura Brasileira. Alguns dos autores que mais admiro – Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Guimarães Rosa – não possuem biografias. Sabemos que isso causa prejuízos infindos não apenas aos estudos literários.

A ausência de biografias destes autores causa danos às pesquisas em torno da cultura brasileira. Além das obras literárias que nos legaram, eles participaram ativamente da cena intelectual do seu tempo. No caso do trio modernista, eram funcionários públicos. Portanto, o país tem direito de saber sobre as atuações de Rosa no Itamaraty, Cecília na Educação e Bandeira na Universidade.
 
Sabemos também que a censura beneficia, na maioria das vezes, egos familiares e projetos individuais. Contra estas minorias autoritárias, recorto a seguir a fala de Christopher Andersen. Ele é biógrafo do Mick Jagger, e acaba de ter sua obra publicada no Brasil, com cortes. A censura à edição brasileira é motivada por um “acordo confidencial com Luciana Gimenez”, mãe de um dos filhos do cantor. Sobre os cortes em seu texto, diz o referido biógrafo nO Globo de hoje:  


— Fiquei chocado ao saber que o Brasil proíbe biografias não autorizadas. Como o país pode ser uma sociedade livre sem saber a verdade sobre suas figuras públicas? ... Depois de 45 anos de carreira e 33 livros, aprendi que a maioria... mentiu por tanto tempo sobre a própria vida que esqueceu o que é real. Em nenhuma edição estrangeira de meus livros trechos foram suprimidos. A verdade é a verdade. Censura é censura. Qual é o próximo passo, fogueiras de livros? Essas celebridades que defendem causas liberais e depois tentam controlar tudo o que é escrito sobre elas são muito hipócritas...
 
 
 
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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

clarões de Clarice



p/ vc q ouço 
 

Eram dias claros e altos, tecidos no ar pelos passarinhos. Asas, pedras, flores e sombras profundas formavam o novo calor úmido. ... Porque entender é um modo de olhar. Porque entender, aliás, é uma atitude. ... Só os impacientes não entendiam as regras do jogo.

Ficou bem quieto. ... Só Deus não teria nojo de seu torto amor.  ... Que seria afinal de nós se não usássemos, como Deus, a obscuridade? ... Martim abaixou os olhos escondendo o fato de estar tão complexo e perfeito.

Algumas idéias, e o espanto. ... a mímica da ressureição... Não amar era a natureza errando. ... eu só tenho fome. E esse modo instável de pegar no escuro uma maçã - sem que ela caia.
 
Clarice Lispector, Terceira Parte, A maçã no escuro
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sábado, 1 de novembro de 2014

Fraga


                                                                                       Para Márcia, Liz e Rodrigo 
 

no oco do osso
há um seco eco
de atabaques
risos de bodas
guizos de Baco


Antonio Fraga, Moinho e



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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Nova Cuba?


 
A campanha presidencial foi tão intensa que ainda ecoa na rua, no trabalho, nas filas. Ecoa principalmente nas redes sociais. Em Natal, a vereadora Eleika Bezerra voltou atrás, e retirou do facebook a postagem na qual sugeria serem as regiões Norte e Nordeste uma Nova Cuba. Segundo a professora que apoiou Aécio, a campanha resultou na divisão entre etnias, entre ricos e pobres.

 
De certa forma ela tem razão. Ao referir-se às eleições no Brasil, a mídia internacional também fala na divisão entre ricos e pobres. Já a mídia brasileira – em grande parte, filha da ditadura militar, não esqueçamos – dá bandeira o tempo inteiro. Durante a apuração, tinha canal cuja bancada jornalística mais parecia um velório, ao anunciar a reeleição da Dilma.

 
Voltemos à vereadora de Natal. Em nota, a professora lembra os altos números do analfabetismo no Nordeste (se não me engano, ela foi secretária de Educação do RN), mas esquece de registrar o bom crescimento econômico que a região teve nos últimos anos. Um crescimento comparado ao da região Sudeste. Isso sem contar as melhorias advindas de programas sociais como o Bolsa família.

 
Nordeste produtivo? Parece difícil reconhecer que o problema eleitoral não se restingre apenas à alfabetização, ou à questão do eleitor ser ou não informado, como sugeriu FH. Se assim fosse, Tirica seria reeleito um dos deputados mais votados de São Paulo? Outro dado que contesta essa questão da falta de informação: os estados do RJ e MG não elegeram Aécio.


Sejamos diretos: o Nordeste votou em Dilma pelo mesmo motivo que São Paulo vota em Aécio: o bolso. Pesou a economia. O Nordeste votou em Dilma porque ela assumiu, no seu discurso, as periferias e as minorias; sejam elas as mulheres (a maioria do eleitorado nesta eleição), os negros (é preciso reler a história) e os jovens (lembrar que do discurso do PSDB ecoava algo em prol da redução da maioridade penal, afe!).

 
O governo Dilma tem problemas graves, como o controle da inflação. É cercado de corruptos. Tem mensalão e escândalos na Petrobras. O povo deseja, desde junho de 2013, mudar. Apesar disso, não viu mudança num candidato que encenou a repetição ao mencionar a possibilidade do Arminio Fraga (membro da equipe de FH), na área econômica. Esse filme a gente já viu, meu.

 
Nova Cuba ou não, é outro o Nordeste. É visível como evoluiu a região onde nasceram Caymmi e Cascudo. A diminuição do fluxo migratório para o sul é sintomática. Não é apenas na economia que é notória a mutação por que passa o Nordeste. Na área da educação, não tem como comparar a implantação dos cursos profissionalizantes nas principais cidades. Na educação, Cuba seja aqui.


Tudo isso é difícil para a tradicional classe política nordestina reconhecer.

 
 
 
 
 
p.s. Passada a campanha, uma pergunta não cessa: por que será que o PT não ganha em São Paulo, onde foi criado, e o PSDB não conseguiu ganhar em Minas Gerais, onde governava?



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domingo, 26 de outubro de 2014

hoje, o dia



Dilma, Aécio neveR


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sábado, 25 de outubro de 2014

eleições 2014



todos soltos

I

"Prefiro votar em Dilma, combater a corrupção e ver o povo continuar ganhando, a votar no PSDB, combater a corrupção, e ver o povo perder."
 
Randolfe Rodrigues, senador (PSOL-AP), ao narrar em texto comovente, o encontro que teve, no Macapá, com uma senhora feliz após ser atendida e medicada pelo Programa mais médicos.
 

todos soltos

II
 

 
Há meses a programação da TV brasileira ficou sertaneja demais, e eu não entendia. Na Globo, por exemplo, o Fantástico virou um programa de música sertaneja e de matérias sobre natureza e futubel. A cada semana, uma dupla diferente canta "No rancho fundo" ou "Luar do sertão" com Luan Santana ou Sorocaba. É triste. Principalmente para quem lembra os musicais que o programa já exibiu, como aquele do Tom e Elis cantando "Águas de março", em Los Angeles, ou os Doces Bárbaros no Canecão, por exemplo.
 
Nada tenho contra cantores sertanejos. Confesso que curto as releituras que alguns deles fazem dos clássicos do sertão. O problema é a overdose. É audivel que a trilha sertaneja, com o decorrer da campanha, ultrapassou as fronteiras do Fantástico. Seus ritmos invadiram todos os programas desta emissora, do Altas Horas ao Esquenta, passando pelas trilhas de novelas e os programas matutinos. A qualquer hora que ligamos a TV, ouvimos um berro prolongado no ar.
 
Sabemos que música, futebol e política rimam com eleições. Agora que a campanha chegou ao final - e a maioria dos cantores sertanejos, assim como alguns jogadores de futebol, assumiram votar no Aécio - tomara que a TV Globo pense nos tímpanos dos telespectadores. E nos brinde com alguma recompensa musical que tenha na diferença o seu tom.  Um país multicultural requer outros tons. Quem sabe, um especial com João Gilberto e outros nomes da Bossa Nova e da nova música brasileira lembrando 20 anos sem Tom Jobim (please: nada de Michel Teló cantando "Insensatez").
 
 
todos soltos

III 


Como faz a cada véspera de eleição, uma querida tia liga de Caicó. Diz ela não curtir candidato cujo programa sugere a redução da maioridade penal, a privatização do ensino e alteração no atual sistema de cotas das universidades. Isso, sem contar com a possibilidade de termos o cantor Lobão ou o apresentador Luciano Hulk como futuros ministros da cultura.


Ao se despedir, a querida tia lembra o que disse a Dilma para o Aécio, no debate de ontem na Globo. Referindo-se ao estado de São Paulo e à seca paulista do governo tucano, a presidenta disse: "Vocês estão levando o estado a ter um programa "meu banho, minha vida". Foi isso que vocês conseguiram".
 
 
 
Postado por Nonato Gurgel às 08:42 Um comentário:
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domingo, 19 de outubro de 2014

Dilma

 
para Jô M e Sara F 

I
 

Não costumo revelar o voto, mas creio que esta campanha, pelos seus lances contraditórios e até trágicos, como a morte do Eduardo Campos, sugere essa revelação. Como a maioria dos meus colegas professores, também desejo que o Brasil mude, e aprendo com alguns descrentes, eternamente à esquerda, como, às vezes, parece mais fácil ser “do contra”; principalmente quando este “contra” é pré-estabelecido a partir do lugar privilegiado de onde falamos.

Segundo O Globo de hoje, a proposta educacional do Aécio destaca duas prioridades: a criação do “Pró-Médio, similar ao Pró-Uni”, e a concessão “de bolsas de estudos para alunos carentes estudarem em escolas privadas”. Para quem atua no universo educacional, este fragmento acima diz muito. Pelo menos três coisas chamam atenção: primeiro, o nome do programa a ser criado. Segundo, a presença do verbo “concedendo” – forma do gerúndio utilizado pelo jornal; e terceiro, a assunção da escola privada como lugar privilegiado do saber.

Para quem lida com instrumentos verbais como as línguas, linguagens, memórias e ficções, é possível associar Pró-Médio a determinada classe social? Na cabeça deste professor nascido no Nordeste, e que passou a vida como estudante e professor de escolas, interantos e universidades públicas, a sigla Pró-Uni sugere um roteiro inclusivo diferente de Pró-Médio. Mas, deixemos de lado os nomes dos programas e o verbo "conceder" utilizado pelo referido jornal.


II
 

Passemos ao terceiro ponto deste roteiro educacional – a escola privada. Sabemos da sua eficácia. Sabemos também dos seus custos infindos. No Rio de Janeiro, as cobranças nas escolas privadas ultrapassam os valores da inflação; o que resultou, segundo a SEC, na migração de quase 30 por cento dos alunos cariocas para escolas da rede pública. Isso se dá atualmente, mesmo o governo federal não incentivando a escola privada; imaginem o contrário.
 

Eleger a escola privada como espaço privilegiado do saber é um bom roteiro; mas demora, requer prazos. Requer estrutura básica. Antes de privatizar o ensino, são necessários investimentos na formação intelectual e científica, e uma melhor distribuição de bens e serviços pós inclusão. Estamos falando de um país que nunca ganhou um prêmio Nobel, em nenhuma área, e cujas universidades não figuram em nenhum ranking global. Um país cuja população de analfabetos – cerca de 13 milhões? – abrange praticamente um Chile inteiro.

Mas sem drama. Corta o drama na sacola, Ney. Falta o Brasil resolver as suas pendências sociais. Um dado histórico e cultural nos dá idéia dessa necessidade de educação: dos nosso 514 anos de história, 388 foram anos de escravidão indígena e negra. Isso sem falar nos nossos holocaustos indígenas (havia cerca de 6 milhões de índios quando os portugueses chegaram por aqui) e sertanejos (milhares de homens e animais foram mortos em Canudos e nas estiagens seculares), dentre outros. Que tipo de imaginários construimos a partir destes gestos?

Quase quatro séculos de escravidão geram hábitos que não se esquecem da noite para o dia. Após as catástrofes, as identidades e costumes precisam ser relidos, refeitos. Temos apenas 126 anos no exercício da liberdade.  Perante a história, estes 126 anos de abolição e cultura nos situam numa espécie de infância social. E como infantes, necessitamos aprender o discurso, nos educar.  Precisamos de roteiros que erijam, sugiram limites. Leis que proíbam o racismo, a discriminação e a homofobia, dentro outros gestos violentos, já que ninguém nasce lindo, e a civilidade, a cidadania são aprendizados, conquistas.

Atuo no espaço do magistério e da extensão rural há mais de três décadas. Lecionei nos ensinos fundamental e médio, e atualmente sou professor universitário. Amo lecionar. Conheço alguns dos principais problemas educacionais do Brasil, e sei que o governo Dilma está longe da perfeição. Muito precisa ser feito, mas quero registrar três programas que se desenvolvem ao meu redor, e dos quais posso testemunhar de forma afirmativa: PRO-UNI, PARFOR e PIBID (quero deixar claro que não coordeno nenhum destes programas).  

Isso sem falar no PLI  - Programa de Licenciaturas Internacionais. Criado por Dilma, este programa beneficia estudantes de graduação, em universidades estrangeiras, e posso aferir os seus bons resultados já que alguns destes alunos são meus orientandos. Entrei para a universidade pública nos anos 80, no final da ditadura militar. A minha formação e atuação acadêmicas conincidem com os governos Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma, e este exercício comparativo me orienta.

Os programas implantados por Dilma geram contradições produtivas. Tenho, por exemplo, alguns alunos fluminenses que, embora desconheçam o centro do Rio de Janeiro, estão estudando em Coimbra ou Lisboa,  há mais de um ano, com direitos a seguro saúde e moradia.  Por essas e outras não dá para ser "do contra" nesta eleição.
 
 



P. S. Não sou filiado ao PT, nem a qualquer outro partido político..



 
Postado por Nonato Gurgel às 13:54 7 comentários:
Marcadores: Política

sábado, 18 de outubro de 2014

concurso de poesia


Esta é a terceira edição do concurso de poesia promovido pelo blog Autores SA, editado pelo poeta Lohan Lage. No link a seguir, estão registrados os oito comentários que emiti como convidado do grupo A, após a avaliação dos hai kais que abrem o longo post.
 
http://autoressa.blogspot.com.br/2014/10/avaliacao-dos-jurados-da-1-rodada-da.html
Postado por Nonato Gurgel às 09:37 Nenhum comentário:
Marcadores: Letras

domingo, 12 de outubro de 2014

eleições II




Nordeste, falta de informação ou pobreza?
 
O "orgulho paulista" brotado nas redes sociais foi suscitado por uma declaração do ex-presidente FHC sobre a falta de informação do povo nordestino. Referindo-se aos eleitores do Nordeste, ele disse: "'não é porque são mais pobres que votam no PT, mas porque são menos informados".
 
Será que a questão é mesmo restrita às dualidades entre informação e pobreza? Se a eleição tem a ver com informação, como justificar a reeleição de Tiririca e do homofóbico pastor Marco Feliciano como deputados - dentre os mais votados - no estado mais rico e "informado" do país?
 
Gosto de FHC como militante envolvido na descriminalização das drogas. Mas a história é feita de contradições e os fatos rezam: no Brasil, o médico JK destaca-se, no plano educacional, como presidente que criou 10 universidades. Essa marca foi superada por um nordestino que, sem diploma universitário, criou 12 universidades durante dois mandatos: Lula. 
Postado por Nonato Gurgel às 12:28 Um comentário:

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Nordestino


O nordeste é áspero como aquele
cacto do Bandeira, mas tem brisa,
Caymmi, Cascudo e petróleo 
 
Noninha do Açu
 
 
Sou conta qualquer forma de preconceito social, seja de etnia, gênero ou religião.
 
Como professor nascido no Rio Grande do Norte,  refuto este "orgulho paulista" que invadiu as redes, e as manifestações de preconceitos contra nortistas, negros e beneficiários dos programas sociais do governo. Qualquer cidadão civilizado possui consciência das dívidas históricas que o Brasil tem, principalmente com os negros e com os mais pobres, e sabe dos problemas políticos e sociais que foram desdenhados ao longo de séculos de dominação branca e eurocêntrica.
 
O poeta Mário Quintana dizia que os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprederam a ler mas não leem.  Analfabetos (e pobres, mesmo com recursos econômicos) parecem ser os eleitores que, desconhecendo a história do seu país, não aprenderam a conviver com a diferença. O Brasil é uma democracia multicultural. E isso não é um problema, mas uma solução que ensinaremos ao mundo.
 
Postado por Nonato Gurgel às 22:58 3 comentários:
Marcadores: Cultura, Política

sábado, 4 de outubro de 2014

dia D


"Eleição não é corrida de cavalos. Não é preciso apostar no que vai ganhar. O que importa é votar, manifestar o desejo cívico que mais nos represente. Da soma desses desejos sairá nosso futuro, incluindo a eventual força opositora de perdedores. Votar branco ou nulo não é protestar. É entregar a decisão aos outros, abrir mão de uma conquista.

Em santuários de milagreiros, salas de ex-votos atestam a fé de quem desejou com força. Antes que passem as eleições e nosso voto vire ex-voto num universo de promessas, lembremos que ele é uma forma de assumir a responsabilidade pelo que vier a nos acontecer. Não vai ser culpa dos políticos. Vai ser a soma dos que votamos."
Ana Maria Machado, O Globo, hoje
Postado por Nonato Gurgel às 20:24 Nenhum comentário:

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Caeiro na voz de Bethânia

 
 
Postado por Nonato Gurgel às 18:07 Um comentário:
Marcadores: Letras, Religião

"aparelho excretor"



A linguagem é o homem ou Levy "bem longe daqui"


Homofobia matou ao menos 216 gays em 2014

O Globo, Rio, 30 de Setembro de 2014
Postado por Nonato Gurgel às 17:33 Nenhum comentário:
Marcadores: Política, Sexo

sábado, 20 de setembro de 2014

Marina Silva


Foi um rio que passou em minha vida ou Não falem desta mulher perto de mim
Postado por Nonato Gurgel às 21:06 2 comentários:
Marcadores: Música, Política

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

eleições III



Todo mundo sabe que a igreja
morre de medo do corpo.
No passado ela proibiu
até o riso.
.
Noninha do Açu 


O RJ TV de hoje abriu com uma notícia recorrente: jovem de 27 anos saiu de casa, há dois dias, para fazer aborto, e não retornou. Como esta garota, mais de um milhão de mulheres morrem a cada ano no Brasil. A Fifa  pune o Grêmio por mais um caso de racismo. Além da moça que não voltou do aborto e do jogador negro chamado de macaco, mais um homossexual é espancado no Rio. A polícia chegou depois.  A cada 24 hs morre 1 gay no Brasil, ok pastor Crivela?
 
Enquanto isso, os três candidatos posicionados nas pesquisas para presidente - Dilma, Marina e Aércio - respondem às questões acerca do aborto, do racismo e do homossexualismo, com discursos ficcionalizados, distantes do nosso contexto social e cultural. Eles nos tornam reféns. Reféns das facções religiosas que obrigam os candidatos a agirem desta maneira, em prol de uma moral que exclui e mata em nome dos valores da família, ok irmão Garotinho? 
 
Com exceção de Eduardo Jorge  e  Luciana Genro, nossos candidatos encenam. Principalmente Marina Silva, cuja candidatura anuncia a mudança.  Mudança que começa pela perda dos prazos para a inscrição da Rede, e por ter voltado atrás na questão da homofobia? Até quando o aborto, racismo, homossexualismo e a maconha vão ser jogados para debaixo do tepete, enquanto os números anunciam sermos um dos países mais violentos do mundo, hein papa Francisco?

 
Postado por Nonato Gurgel às 12:43 3 comentários:
Marcadores: Cultura, Política

terça-feira, 19 de agosto de 2014

thânatus, dá um tempo


noite

caos

nada

Não apenas no Oriente, mas aqui pelas terras americanas de Pero Vaz sem Caminhos ficou mais difícil de respirar neste último bimestre. No universo da cultura, os últimos dias foram marcados pela presença excessiva da deusa Perséfone, e o seu imaginário repleto de cortes e pedras que respiram sem prazos. O rigor da morte. Perséfone e suas máscaras aniquilam. Sua lição ensina nada sermos.

As máscaras da cultura exigem rigor perante este nada. Caos com rigor? Fernando Pessoa diz que somos contos contando contos. Hoje, nem isso, epitáfio. Epitáfio em pedra. Mine poema elegíaco. Uma nênia daquelas que tratam de assuntos tristes, quase sempre a morte, como na Primeira lição no manual dos gêneros literários. A poesia salva porque recolhe os fragmentos, disse o poeta.

Ariano Suassuna, escritor

Eduardo Campos, político

Ivan Junqueira, poeta

João Ubaldo, escritor

Lauren Bacall, atriz

Nicolau Sevcenko, professor e ensaísta

Robin Williams, ator

Vange Leonel, cantor

e

73 policiais mortos no Rio em 2014

 

 

esta tão
dura morte é ainda o
resto da minha alegria

Walter Hugo Mãe, “Poemas”



Postado por Nonato Gurgel às 19:26 Um comentário:
Marcadores: Cultura, Morte

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Robin


oh captain, my captain
 
O irreverente professor John Keating, do filme Sociedade dos poetas mortos, gosta dos universos do magistério e da literatura. Em suas aulas no internato ele cita, dentre outros, Shakespeare e Walt Whitman. No ocidente, o filme de Peter Weir marcou fortemente o imaginário juvenil, e inspirou gerações de professores que começaram a lecionar na década de 80.
Postado por Nonato Gurgel às 21:21 Um comentário:
Marcadores: Cinema

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Poética sertaneja



O texto a seguir foi escrito pelo poeta Carlos Magno Fernandes, professor da UFPB,.e publicado no blog Caminhos Cruzados: www.palavora.blogstop.com
 
 
Poeta e professor, Nonato Gurgel acaba de lançar seu primeiro livro de poemas, intitulado miniSertão (Ed. Caetés, Rio de Janeiro, 2014). Trata-se, sem sombra de dúvidas, de uma poesia refinada e concisa, inspirada sobretudo por suas andanças pelo sertão do Rio Grande do Norte, onde trabalhou com extensão rural no interior do estado e colocou em prática o humanismo defendido por Paulo Freire em Extensão ou Comunicação?, e por suas incansáveis leituras (em uma das inúmeras epígrafes utilizadas pelo autor, podemos perceber: "Os livros são nossa perdição. Os livros deram-me mais que as pessoas", Marina Tsvetáieva, Vivendo sob o fogo).

Nessa perspectiva, o autor convocou um paideuma heterogêneo e extenso para compor sua obra. Em epígrafes, citações nos próprios poemas ou ainda em introdução às partes do livro, aparecem trechos de Paul Valéry, Walter Benjamin, José de Alencar, Oswaldo Lamartine, Ricardo Piglia, Jorge Fernandes, Pero Vaz de Caminha, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, Câmara Cascudo, Davi Arrigucci Jr., Clarice Lispector, Paulo Ronai, Manuel Cravino, Charles Baudelaire, Ana Cristina Cesar, Roland Barthes, Italo Calvino, Cesar Aira, Eli Celso, Elizabeth Bishop, Veríssimo de Melo, Haroldo de Campos, Fernando Fiorese, Marina Tsvetáieva, Mateus (Bíblia), Mário de Andrade, Gilles Deleuze, Carlos Drummond de Andrade e Marco Antônio Saraiva.

Diante dessa tradição literária eclética, Nonato Gurgel percorre o sertão de sua memória com segurança e desenvoltura, através de procedimentos poéticos da contemporaneidade: a citação, a intertextualidade, o lúdico, a concisão. É uma viagem a que o poeta nos convida enquanto leitores: um percurso pelo sertão munidos com a bagagem dos ensinamentos dos autores de sua predileção. Livro maduro, como uma fruta madura colhida na planta sertaneja!

 
Pelas teclas

O olho não se sacia
Haroldo de Campos, Qohélet-Eclesiastes

 

Olho no cio das cores
lê a tarde tangendo o sol
leitor de íris e arcos

Dedos pelas teclas
agitados feito bicos
de aves ávidas

pelas letras


Nonato Gurgel, miniSertão, Rio de Janeiro, Ed. Caetés, 2014


Postado por Nonato Gurgel às 00:49 Nenhum comentário:

domingo, 20 de julho de 2014

russo de roer


Foi só o tempo que errou.

Renato Russo
 
para os mestres Ilza Matias,
Luiz Alberto e Fernando Vieira,
gauches no país do magistério

  
Dado à dor e à disciplina
à liberdade no confronto 
entre a loucura e o amor
ele ouvia ecos bíblicos
tinha mania de eleger
era máquina de optar

Destemido quanto à língua 
e o pau pra fora no palco
viveu a vertigem de ser
livre gauche incendiado
do afeto perdeu os prazos
luz e cinzas sobre o Rio é

Preveu o só o caos tocou
fogo nos mitos bebeu
o mar aberto a tempestade
o que vem é perfeição
minha laranjeira verde
animal que lodo sou

Fênix que ao voar devora
o tempo e trilha sonora é
do Brasil redemocratizado
releu ruínas sacras e cinzas
o livro dos dias e o sopro 
do dragão na ceia dos sonhos


 
 
Natal/Rio, 20 de julho de 2014


 

Postado por Nonato Gurgel às 22:30 4 comentários:
Marcadores: Letras, Música

sábado, 19 de julho de 2014

miniSertão na Tribuna do Norte

http://tribunadonorte.com.br/noticia/sertao-de-mitos-e-afetos/287918
Postado por Nonato Gurgel às 10:30 2 comentários:
Marcadores: Cultura, Letras, Sertão

quinta-feira, 17 de julho de 2014

sertão de mitos e afetos


Tribuna do Norte, 17 de Julho de 2014


Yuno Silva
repórter

“O ‘miniSertão’ dialoga com o ‘Grande Sertão: Veredas’ de Guimarães Rosa. Ele, Euclides da Cunha e Graciliano Ramos são os patronos deste livro”, resume o poeta Nonato Gurgel, que coleciona versos há três décadas e enxerga a compilação como “uma declaração de amor ao Sertão, o sertão literário de Oswaldo Lamartine”. Potiguar de Caraúbas radicado há 16 anos no Rio de Janeiro, onde é professor de Teoria da Literatura na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Gurgel está de passagem por Natal para participar como convidado de uma banca de Doutorado, e aproveita a ocasião para apresentar sua cria nesta quinta-feira, às 15h, no Departamento de Letras da UFRN/CCHLA.

O autor avisa que o lançamento de “miniSertão” (Editora Caetés, R$ 25) será simbólico, mas adianta que o título poderá ser encontrado no Sebo Vermelho e na Cooperativa Cultural Universitária.

Repleto de referências literárias e culturais, o livro traz epígrafes diluídas como se fossem pistas que revelam um pouco da personalidade do autor e sua relação com o universo literário, caso de “IV – Corpo que lê” (pág. 69) que traz citação da poetisa russa Marina Tsvetaeva (1894-1941): “Os livros são nossa perdição. Os livros deram-me mais que as pessoas”. Nonato faz uma releitura dos livros, mitos, lendas e geografia sertanejas, e apresenta uma paisagem livre das abstrações místicas e ideológicas: “Meu Sertão é terreno, pé no chão, e inspirado por Oswaldo Lamartine (1919-2007) tive a ousadia de misturar literatura com Agronomia”, disse o autor, ex-servidor da Emater.

Apesar de impregnadas pela atmosfera do Sertão do Seridó, as poesias de Nonato não se enquadram no que costumam chamar de ‘leitura regional’. “É um livro de memórias, das andanças pelo Seridó, Rio de Janeiro e sertão mineiro, com uma vereda universal, cosmopolita”, analisa o autor, confessando que demorou a aceitar que o Sertão era o grande personagem do livro. “Sem ele (o Sertão) não haveria nada a publicar”.

Escritor de ritmo lento, é nítido o cuidado com que cada palavra, cada frase e cada verso se interligam, como em uma colcha de retalhos tecida infinitamente. “Acho que vou passar a vida (re)escrevendo esse livro, penso em uma segunda edição com pelo menos 20 alterações. Não penso em outro livro por enquanto, e sim em continuar lapidando este”.

Para Nonato Gurgel, “miniSertão” funciona como o trailer de um filme que traz as várias fases de sua vida, suas leituras e suas influências culturais, tanto que o prefácio é substituído pela ‘voz’ do poeta Jorge Fernandes (1887-1953): em uma carta para Câmara Cascudo (1898-1986) o modernista escreveu “ande vire”, como uma sugestão para o leitor seguir em frente.

Gurgel trabalha a tanto tempo no projeto que a primeira ‘boneca’ do livro mereceu comentário do jurista, professor e pesquisador Veríssimo de Melo (1921-1996), em artigo publicado nesta TRIBUNA DO NORTE em dezembro de 1993. É dele o trecho a seguir que acabou na contra-capa do livro: “Poesia de primeira água. Excelente por todos os títulos... Há miniaturas de Nonato que são magníficas da paisagem nordestina... A luz que ilumina a maioria dos seus versos anuncia uma visão nova das coisas e do mundo”.


No poema a seguir, o autor relembra a visita que fez a Cascudo





Natal, Av. Junqueira Aires

                                                                                         A vereda em vez do elevador 

    
                                                                                                          Câmara Cascudo
                                                                                    

                                                                                   Para Aluísio Barros que foi comigo

Ouvimos na chegada
sou mouco vejam bem
não façam perguntas

Paredes assinadas
e livros do chão até
o teto do homem
que leciona sertão:

“você tem o direito
de subir a montanha
pela vereda que escolheu”


Postado por Nonato Gurgel às 01:51 Nenhum comentário:
Marcadores: Letras, Sertão

segunda-feira, 14 de julho de 2014

uma dose de João


O amor, como a democracia, dá muito trabalho.
Ambos exigem muito investimento, principalmente
de caráter e afetivo.
 
João Antonio

 
Com trânsito bastante produtivo nos universos da literatura e do jornalismo, João Antonio assumia ser o tipo de escritor atraído pela vida e pelas formas que vingam às margens da sociedade brasileira. Ele preferia escrever sobre coisas experimentadas, situações vividas no corpo e na fala. Repórter de ícones importantes da mídia na década de 70, como a revista Realidade e jornal O pasquim, ele atravessou grande parte do Brasil urbano e rural, e parecia fascinado pelas coisas da cultura popular.
 
Alguns dos seus personagens exemplificam aquele narrador clássico, de quem nos fala Walter Benjamin, um narrador calcado na oralidade, conectado com a fala cotidiana e seus desvios. Como sabemos, este tipo de narrador recorre ao seu “acervo” de experiências próprias e alheias, a fim de inscrever a sua aprendizagem, os seus deslocamentos. Ele tem uma norma de vida que deseja repassar, ao vivo, na cara do freguês, como ensina a lição do crítico alemão, a partir da leitura que ele faz do russo Leskov e seus personagens agrários.
 
Esta narrativa que testemunha a experiência vivida e a memória - como lemos no texto de João “Corpo-a-corpo com a vida” - possui uma linhagem vigorosa em nossa literatura. A essa linhagem filiam-se autores da maior importância, como Graciliano Ramos e Lima Barreto. No século XX, estes autores são  parâmetros estéticos e culturais para a abordagem temática do cotidiano das camadas populares, e das linguagens produzidas pelas diferentes culturas brasileiras. Assim como João, os dois autores modernistas não enfeitam. Eles detestam a gordura literária; leia-se: eles deletam o excesso, a grandiloqüência.
 
 
sem cânone nem leitor
 
 
 
Influenciado pelo cinema de Glauber Rocha e pela literatura moderna, João Antonio considerava Lima Barreto o “maior romancista” da chamada República Velha, sendo Afonso Henriques de Lima Barreto o primeiro nome que aparece na dedicatória de Malagueta, Perus e Bacanaço. Por isso, ressalto a leitura de Antônio Arnoni Prado, ao reconhecer a filiação tonal da narrativa de João Antônio à escrita de Lima Barreto; isso se pensarmos em questões como ética, forma social e estética. Questões sugeridas nos contos de Malagueta, Perus e Bacanaço (1963), sucesso de crítica que resultou em dois prêmios Jabuti (revelação de autor e melhor livro de contos).


Nas relações traçadas entre as ações dos personagens de João Antonio e suas falas, o texto escrito e o contexto social dialogam de forma determinante para a produção das linguagens que o autor constrói. Essa construção leva em conta a oralidade da tribo na qual ele age, e a visibilidade cortante que perpassa a retina do seu cotidiano concreto e carnal feito de sinucas, garrafas, tampas caídas, cafua, barrigas famintas, lutas, animais, jogos da rua... 
 
Apenas um seleto grupo de leitores conhece a obra de João Antonio. O autor de Malhação do Judas Carioca é lido por poucos e importantes nomes da crítica literária. Sua obra é ainda pouco estudada no universo acadêmico onde merece, sem dúvida, maior divulgação. É urgente a leitura deste autor não inscrito, premiado. Principalmente para os alunos dos cursos de Letras. Talvez não seja uma leitura pela qual o leitor se apaixona de cara, como acontece com Fernando Pessoa, por exemplo. João dá trabalho. Muito trabalho. Como o amor e a democracia.
 
 
Postado por Nonato Gurgel às 18:57 2 comentários:
Marcadores: Cultura, Letras

terça-feira, 8 de julho de 2014

Uma Arte


                                                        Elizabeth Bishop – trad. Paulo Henriques Brito


A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! e nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder
não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

- Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo,
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.



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domingo, 6 de julho de 2014

copa violenta



Pancadas e quedas, sabemos, fazem parte do espetáculo do futebol. Teatro movido por altos gráficos capitalistas e discursos eufóricos ampliados por toda a mídia, o futebol está cada vez mais agressivo. Nunca vi copa mais violenta. Copa violenta sob as bênçãos dos árbitros indiferentes, burocráticos. É estranho não rolar sequer um cartão amarelo neste lance do jogador colombiano com Neymar.

No gramado, assim como na vida, são muitas as "pancadas": a vértebra partida do nosso craque, a mordida do vampiro uruguaio, a euforia dos jogadores de Gana beijando grana. Além destas ações violentas, duas outras "pancadas" deixam a copa mais triste: o baixo número de crianças negras ou pardas entrando em campo com os jogadores, e vaias.

Ao contrário do que pregam os discursos politicamente corretos, nas arquibancadas é pequeno o número de negros, assim como são raras as crianças negras que entram em campo. Vaiar o hino de um país adversário, como fizeram com o Chile, é covardia. Vaiar a presidenta, com palavrões, também é covardia, além de parecer atitude antidemocrática de rico mal educado.

Com ou sem Neymar, tendo a ter mais simpatia por quem não vaia.

 
Postado por Nonato Gurgel às 12:28 Nenhum comentário:
Marcadores: Esporte

sábado, 5 de julho de 2014

Copa



Sim, dá para sonhar sem Neymar.

Agora que a semifinal se anuncia, na próxima terça-feira em BH, antecipo aqui as memórias de um torcedor que acredita no hexa. Um torcedor que confirma, maduro, o que todo brasileiro parece nascer sabendo: a identidade e o caráter de um país tem muito a ver com a forma como o seu povo joga, como se comporta em campo, como este povo atua em relação aos seus adversários.

Narradores esportivos

Aprendiz de futebol, fui convertido nesta copa. Das copas que vi, esta é, sem dúvida, a que mais me chama atenção. Não apenas pelo esporte, mas principalmente por ela acontecer no Brasil. Como todos, tenho visto e ouvido bastante sobre futebol. Sinto-me envolto numa teia narrativa que não cessa, e me acompanha no ap, na rua, no taxi, no elevador, na fila da padaria. Tá tudo dominado. Dominado pela euforia que o futubol esbanja e oferta a todo ser independente da sua origem, corte de cabelo ou destino. 

Além da euforia dos torcedores, impressiona-me a atuação dos narradores esportivos e seus discursos edificantes.  Como são afirmativos, animados, entoados os narradores esportivos. Como eles levam a sério a matéria de suas narrativas em datalhes que somente um bom narrador repete e repete e repete. Imagino o que poderia render, nos campos da educação e da saúde, por exemplo, se esta alta cota de afirmação e foco fosse injetada na porção política e no olhar social de cada um que torce.

Como muitos torcedores, detesto o autoritarismo de Dona Fifa. Ela nos deve. Deve, no mínimo, uma final mais decente do que aquela festa boba da abertura. Mas, além da vitória na final, não espero grande coisa de um evento ritmado nos saltitos de Shakira e Ivete. Torço para que a cota de brasilidade que se anuncia esteja à altura do que o país é em graça, beleza, em nossa afirmação multicultural da miscigenação. O Brasil perante o mundo "sob o timbre da mestiçagem" (Wisnik). 

 

 


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Marcadores: Cultura, Esporte
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Rio, fé na Paisagem

Rio, fé na Paisagem
O Rio de Janeiro é uma cidade cujas formas – naturais, urbanas, históricas, culturais – abastecem com luminosidade e ritmo o corpo de quem anda por suas ruas. Esse abastecimento luzidio faz com que os pés vejam, os olhos ouçam, as narinas optem. Por isso o corpo fala, dialoga com o entorno. Leitora diária da paisagem carioca há mais de duas décadas, Jussara Santos ouve o diálogo que a natureza e a cultura vêem tramando por aqui desde 1565, quando Estácio de Sá fundou o município de São Sebastião do Rio de Janeiro.


Nonato Gurgel sobre Painéis do Rio

Baía Formosa revisited


no meio
do caminho
disse a brisa

a sua história
é mais bonita
que a do Bandeira:

ir para o Nordeste
viver de brisa
com Anarina

sem cacto
no meio
da rua
nem pedra
no meio
do caminho



Ouro, um beijo




... Atenta aos ciclos do tempo, Ouro Preto nos olha. Mas a cidade não se entrega ao primeiro olhar de quem a visita ou vê. Seus mais de trezentos anos emprestam-lhe a segurança de quem sabe ser o tempo o pai da forma. Suas fachadas falam. Seus vãos, as treliças e as janelas (fechados ou luzidios) estão sempre a nos espreitar, possibilitando um diálogo óptico através do qual somos mais vistos que vemos. Em Ouro, a luz é sem data, diz Cecília Meireles. Aqui, uma luminosidade suave (nunca indecisa) namora a pele secular das paredes. Esse namoro entre a luz e a pedra leciona uma lição que nos ensina serem a leveza e a superfície princípios vitais da existência e da criação.





Ouro Preto, 2001





Pureza


um grilo estupra o silêncio

Coimbra é uma lição


No centro de Portugal, no coração do país encontra-se sua mais antiga universidade . Em Coimbra estudaram escritores fundamentais da literatura portuguesa, como Almeida Garret e Eça de Queiroz, dentre outros. Como na canção eternizada por Amália Rodrigues, no Olympia, "Coimbra é uma lição". Por suas tradições culturais e pela suntuosidade do seu passado histórico (aqui nasceram vários reis lusos), a cidade estará sempre a lecionar aos seus transeuntes. A lição é dada na rua, ao vivo, frente aos monumentos que os turistas devoram através de lentes esfomeadas. Mas, se a lição entoada na antiga canção era feita "de sonho e tradição", a lição de hoje, a que está nas ruas, possui bem curta a sua porção onírica. Não há lágrima pela fragmentação existencial, como nos tempos de Garret, nem sonhos pixados nas paredes de hoje. O tempo urge nas mentes jovens da cidade antiga, de ritmos lentos, onde os templos do Mc Donalds convivem, sem atrito, com igrejas seculares. Nenhuma utopia inscreve-se nos muros brancos desta cidade linda, habitada, em 2013, por mais de 30 mil estudantes do mundo inteiro. Eles reinam nas ruas. Com suas ostentosas torgas pretas, eles voam feito anjos negros sempre em busca. Isso pode ser lido nas linguagens das ruas. Como no grafite escrito a carvão, num muro branco, próximo a universidade: "parecem bezerros a gritar, animais". Outro grafite parece traduzir a crise e o grito ancestral que emana deste grafite anterior: "somos filhos do Euro = Nada". Atento a estes grafites, geralmente escritos nos espaços históricos e mais asseados da cidade, fui surpreendido por um grafite oral, por uma epígrafe ao vivo, na estação de comboios Coimbra B. Lá, uma transeunte cuja mala parecia lhe pesar, disse para o senhor ao seu lado: "Comboios, ao contrário dos passageiros, dificilmente saem dos trilhos". A jovem senhora não sabia de algo que mudaria o roteiro de nossas viagens, e a noção de pontualidade que foi sempre tão cara aos europeus: o trem que ali esperávamos, atrasaria cerca de 40 minutos.

Coimbra é, para sempre, uma inesquecível lição do tempo.



Ponta negra


tinha uma brisa no meio do caminho

Santiago de Compostela


o passado brota produtivo

Jardim do Piranhas


pro Piranhas fluir feliz

todo rio é pre-
texto de olho fixo
que o fite e flua
na busca de lê-lo

na lição do rio
cursa-se seu curso
nos discursos hídricos
nas memórias líquidas

nada lírica
épica perene


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Nossa língua é os pés

Nossa língua é os pés
Dunga

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