para Nonato Gurgel
Da épica resta o esqueleto da lira:
arcadas de carneiros despidas
de suas próprias cordas, cujas peles,
antes de secas no curtume do baldio,
são escritas por bizarras partituras
para grasnos e crocitos,
não com as onívoras plumas,
pelos cálamos de garras e bicos,
as carcaças da epopéia se transmutam
em elegias aos homens e odes ao pó,
onde nada é potável a vida viceja
entre larozes e fungos, vermes e lesmas,
cria-se o húmus na penumbra idílica,
e as notas recomeçam sem a escala
de sol, e sob a pedra ainda resta,
na acústica concha de um caracol,
a umidade lírica.
Marco Antonio Saraiva, Sol Sustenido, Rio de Janeiro: Mundo das Idéias, 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário