Adivinhação da Leveza (2011), de Duda Machado, é um livro repleto de poemas aludindo à sombra, como “Revelação da sombra”, “Ok, sombra”, “Vulto”, “O que vem depois”... Outros poemas marcantes aludem à nuvem (“Explicitação da Nuvem” e “Nuvem”) e ao vento (“Como se fosse o vento”, “Nas quebradas”). O vento entra também no poema que abre o livro:
História Invisível
Era o vento entrando
pela casa, abrindo seus recessos
em varandas, instando pelo
espaço sem limites, até
se defrontar com o espelho
e logo se deter, cristalizado.
Vento sombra nuvem... Não pensem que esses signos naturais de filiação poética tradicional, sugerem alguma porção romântica do poeta moderno de “Hotel das Estrelas” (Gal Costa em Fatal, “Pela janela sozinha...”). Duda é um poeta do seu tempo. Fabrica linguagens densas. Exclui peso. Ele sabe que a leveza está nos procedimentos lingüísticos e estéticos; não nas certezas apresentadas pelas doutrinas.
Além dos signos naturais – vento sombra nuvem árvore montanha paisagem –, esta poética contemporânea possui nas idéias de reinício, retorno e recorrência (“A cada vez”, “A forma desde fora”) e na ação de refazer (“Onde estás” e “Enfim”) os procedimentos que o poeta utiliza para adivinhar o que é leve.
Nesta poética repleta de memórias, a ação de fazer parece que refaz o próprio poeta, e lembra muito uma assertiva do escritor argentino César Aira: e recomeçar era a tarefa mais repetida.
2 comentários:
Seu texto revela um leitor extremamente atento. Por este motivo, quero dizer que o livro possui erros de impressão. Aqui vai uma errata de Adivinhação da Leveza, que o autor me enviou:
ERRATA
Tentativa (p. 45)
Os versos 8 e 9:
“estar de novo aonde/
cedo e tarde”
deveriam estar alinhados
como os outros.
O difícil lugar-comum (p.55)
No verso 5, há um intervalo
entre as palavras "tanto" e "eis":
“o outro tanto eis que o aprendido”
Noturno com árvore (p. 60)
No verso 5, onde se lê “a copa desça”,
leia-se:
“desde a copa, desça”
Como se fosse o vento (p. 74)
O verso 9 não está alinhado
à esquerda, mas sim à direita:
“E a hesitação”
No verso 12 , onde se lê
“uma trama que fingisse o que”,
leia-se:
“de uma trama que fingisse o que”
Só a imagem (p. 79)
No verso 3 , onde se lê “sem ninguém”,
leia-se:
“e sem ninguém”
Agradeço ao leitor que enviou a errata de Adivinhação da Leveza, ação que amplia em muito as possibilidades de leitura deste exímio poeta que é o Duda.
Nonato Gurgel
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