5 – Evando, qual é a principal contribuição
de Derrida para as ciências humanas?
Essa pergunta
exigiria algumas teses de doutorado (risos). Creio que a contribuição dele é
imensa, e se fosse preciso indicar um começo, ou melhor, um momento fundamental,
diria que é o texto sobre Claude Lévi-Strauss “A estrutura, o signo e o jogo no
discurso das ciências humanas”, publicado em A escritura e a diferença. Trata-se originalmente de uma
conferência realizada em 1966, na Universidade de Johns Hopkins, dentro de um
grande colóquio de que participaram Lacan e Todorov, entre outros. A finalidade
desse evento era de algum modo introduzir o estruturalismo, então em voga na
França e em muitos outros países, mas desconhecido nos Estados Unidos. Ora,
surpreendentemente a leitura proposta por Derrida em relação aos textos de
Lévi-Strauss era mais uma desconstrução
do que uma apresentação do movimento estruturalista...
Derrida começava
questionando a própria fixidez e a unicidade do conceito de estrutura como estava sendo utilizado
nas ciências humanas, sob a influência do cientificismo estruturalista.
Contrapunha então a isso uma noção descentrada
de estrutura que pusesse em questão, entre outros, os conceitos tradicionais de
origem, de causalidade, de essência, de matéria, de Deus... e, por fim, mas não
menos importante, de Homem. Sem ser anti-humanista, como muitos equivocadamente
pensaram, Derrida questionava o antropocentrismo que redundava num
etnocentrismo, pois o modelo de Homem era branco e ocidental. Os nomes que deu
para esses centramentos foram logocentrismo
(centramento no logos), fonocentrismo
(centramento na fala) e falocentrismo
(centramento no falo).
Esse gesto desconstrutor, inscrito nos textos
assinados por Derrida e mais além deles, se disseminará nas décadas seguintes
nos mais diversos campos de investigação: filosofia, literatura, artes,
arquitetura, pedagogia, estudos de mídia, ciências sociais, linguística e até
ciências ditas exatas. Seria uma tarefa titânica sintetizar, hoje, a
contribuição derridiana para todas essas atividades humanas e, segundo alguns,
pós-humanas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário