e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

começar de novo

... de novo com perfeita energia? E recomeçar era a tarefa mais repetida. Com efeito...
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César Aira, Um acontecimento na vida do pintor-viajante

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

o deserto da espera



Há um deserto no espaço moderno e no tempo presente. Um deserto habita cada um. Um nada que é tudo. É preciso cultivar esse nada? É produtivo “cultivar o deserto/ como um pomar às avessas”, Cabral? É o deserto uma metáfora da vida contemporânea? Como ler estes roteiros de superfícies e deslocamentos entre rimas e ruínas?

Absurdo é o deserto, disse J.K. Sua forma plana diz do sujeito moderno, em constantes deslocamentos, enfrentando o deserto e suas fronteiras. Fronteiras que também se deslocam. Deslocamentos que nos ensinam a “amar” o “deserto e seus temores” (Djavan, “Oceano”).

Ela leciona as figurações do deserto – os seus vazios, as suas faltas; suas senhas e superfícies. Sinais do deserto. O deserto e suas repetições. O deserto dos homens. O deserto - o cansaço da terra. Quem habita o deserto da espera esqueceu o principal: o nome. Dizer o nome é sinal de que aceitamos ser mortais e vulneráveis. Nesta travessia pelo deserto, saudemos essa espera anunciada. Enquanto seu nome não vem.

sábado, 18 de dezembro de 2010

rede

Para Vânia (Niteroi), Valérias (São Carlos e Nova Iguaçu) e TT (Natal)

Dorival Caymmi tem um verso que, por incrível que pareça, pode ser entoado como epígrafe para o grande intertexto que é a internet: “era só jogar a rede e puxar/ a rede” (“Milagre”). Jogado na rede, conversa puxada, ganho amigos, navego...

Navego na superfície das águas e das curvas do MAC de Niterói. “A flor de concreto do Niemeyer”, de Antonio Cícero. O espelho das águas “apruma” o museu. O museu mergulhado na baía batiza. Regenera. O riacho esbarra sua pressa. Perto de muita água tudo é bom e feliz? Memórias de homens e águas misturados. Superfícies. Lâminas. Escolas das facas e pedras limando águas da seca e da fé.

A fala do sertanejo – essa “árvore pedrenta” plantada pelo “engenheiro” Cabral em solo seco. Quem viu o 11 de Setembro sabe que as idéias da profundidade e fundamentação deram no cultivo da queda e da dor como formas de “revelação” da verdade. Espelhos das águas. Superfícies da internet. “Era só jogar a rede...”

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Para um carioquinha disfarçado de americano

Aqui
amanhece como em qualquer parte do mundo
mas vibra o sentimento
de que as coisas se amaram durante a noite.

As coisas se amaram. e despertam
mais jovens, com apetite de viver...

Carlos Drummond

Fé na paisagem. A fala da paisagem é a voz do Rio. Seja em Santa Tereza, na Glória, no Cosme Velho ou nas Laranjeiras, vc ouviu a voz da cidade que foi capital do país por quase três séculos, e que possui Sebastião como padroeiro. Cidade que abastece de luminosidade e música o olhar de quem a fita, fazendo com que os pés vejam e os olhos ouçam.

Esta cidade te batiza num carnaval de ritmos e pede bis. Para vc entender o grau do lugar, dizem até que foram os Tupinambás - os índios da Guanabara - que inspiraram o Erasmo de Roterdam a escrever o seu Elogio da Loucura. Não acha tudo isso meio absurdo?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ele vivia dentro de uma neblina luminosa


"o que é bom já não é de ninguém, nem sequer do outro, mas sim da linguagem ou da tradição" (JLB)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

viagem literária

Transcrevo abiaxo o e-mail que recebi de Valéria Lourenço, leitora de Walter Benjamin e graduanda em Letras na UFRRJ.
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Prezado Professor Nonato,

enviei este e-mail para a turma como uma forma de agradecimento pelos maravilhosos seminários que tivemos. Aproveito para acrescentar aqui meus agradecimentos para o grande guia desta magnífica viagem: o senhor.



Viagem literária

Uma viagem com letras, teatro, cinema, música e muita emoção.
Com este roteiro em mãos, parti em busca de novos horizontes.
Iniciei esta viagem literária com Ana C., uma carioca cheia de graça e sem papas na língua.
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De repente, durante os primeiros passos da viagem,
o inesperado aconteceu, amor à primeira vista,
um alemão alucinado - W. B. - que estará ao meu lado durante
muitos anos de minha vida, roubou meu coração.
E as surpresas continuariam; Ana me manda Caio Fernando, um de seus melhores amigos para mostrar que o Zézim poderia ser eu.
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Dancei um belo tango com Sabato, em Nova Iguaçu, pela manhã.
Nas terras de Kublai Khlan fiz uma pequena viagem pelas Cidades de Calvino, e pelo olhar de Marco Polo conheci e me rendi aos encantos de Zora, uma cidade tão visível a ponto de ensinar que viver requer movimento .
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Retornei ao Rio de Janeiro, e no palácio do Catete senti amor e ódio por Getúlio. E como nunca conseguimos visitar todos os lugares interessantes durante uma viagem, não pude conhecer os procedimentos de César Aira. Mas redimi minha culpa ao descobrir com Camus que eu não preciso viajar ou ir tão longe para me sentir um estrangeiro.
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Segui meu caminho e encontrei pessoas interessantes como Ana e Macabéa que tinham em comum o desejo de ser floração. Já findando a longa jornada, (re)encontrei um carioca de alma nordestina que me apresentou à Guerra de Canudos, e tão rica quanto a linguagem de Euclides descubri e me emocionei com o Cárcere de Graciliano.
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Chegando ao meu destino provisório, havia uma Bella senhorinha de tênis me esperando para me apresentar um ícone da literatura hispanoamericana. Jogo as malas no chão, e meu coração por um breve espaço de tempo descansa ao saber que Borges também imaginou que o paraíso era uma grande biblioteca.

Valéria Lourenço

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

goles de Godard

"Filme Socialisme" (2010) é uma bela homenagem ao livro, ao silêncio e a contemporaneidade. Por isso o filme de Godard é repleto de máquinas, ruídos e inúmeras alusões ao passado político e social.
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Numa das imagens singulares, um garoto com menos de 8 anos diz estar "acolhendo uma paisagem de outrora", enquanto relê uma tela de Renoir.
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Em meio aos escombros, citações filosóficas e ruidos produzidos pela história, é impossivel esquecer um sorriso que comporta parte do universo e se abre em direção ao futuro.
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Se depender deste filme, haverão águas, muitas águas no futuro. Águas do mar, águas da piscina, águas da pia... Água é fonte da vida, meio de purificação e regenerescência. Por isso os hindus diziam que tudo era água.
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Nadando nestas águas, percebemos porque Godard não morre nunca. Ele nos faz mergulhar no imaginário estético produzido pelas ações políticas do ocidente. "Pobre Europa" que aprendemos a amar em meio a tantas páginas.