e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

domingo, 31 de maio de 2009

Trecho de entrevista




A vida é para ser acarinhada.
A vida, minha filha,
é para você botar no colo
e cuidar bem dela.

Dercy Gonçalves na TV, entre risos, lágrimas e palavrões

terça-feira, 26 de maio de 2009

Formas para Perseu




I

E sem dar uma forma, nada me existe. ...
Uma forma contorna o caos, uma forma dá construção à substância amorfa...


Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H.


II

E a forma? Coisas da vida!
Vinde a mim, geometrias...

- Platão, abri o curral de arquétipos e protótipos...

Leminski, Catatau


III

... é na forma e pela forma que eu canto, narro...
por meio da forma eu expresso meu amor,

minha certeza, minha adesão.

Bakhtin, Questões de Literatura e de Estética

sábado, 23 de maio de 2009

Canil que trago no peito




I

O poeta consagrado elogia minha rede. Sua vida e obra abrangem os mais variados gêneros. Ele saca a sarna da vida. Não é mais um sem cais nem canil. Encara a sombra de antigos espelhos que carrega nos ombros. Erra uma vez e foi lindo. Mas não vai passar: já passou. Enquanto escuto o poeta, o cachorro ao lado aproxima-se. Encosta a cara em meus lábios. O que deseja esse bicho sugar da minha boca? Esse Cão não teme a mim. Lembro do cachorro que é um rio cujas águas amolecem ossos e pedras. Bebo o que me resta: essa tentativa de beijo animal. Seus cheiros, os conheço bem; seu rosnado, agasalha quando o contexto pede silêncio viril.


II

Para viver este ciclo canino, desenvolvo uma metodologia animal. Uso líquidos de uma mulher que me ama e faz do corpo obra de arte. Foi ela quem nomeou o canil que trago no peito. Antes dela, provei chás suicidas da moça que enxuga dorso de montanha. Ouvi cão sem dono mais uma boca que rumina afetos caninos. Essa, curte Ribeira, Lapa, Beco do Rato, faunas noturnas. Nutre-se de Clarice Lispector e seus animais . Clarice é bicho corajoso. Confessa que certa vez apaixonou-se, de cara, por Dilermando – um cachorro com cara de brasileiro encontrado numa rua da Itália. Resultado: pagou (isso: pagou) e levou o cão para casa. Rolou a partir daí uma narrativa de cheiros, comidas, abanos, gestos obscenos e, claro, beijos disfarçados. As visitas - coitadas - ficavam passadas.

III

Segundo Clarice, cachorro cheira as coisas para compreendê-las. Diz ela que eles não raciocinam muito, mas são guiados pelo amor dos outros e deles mesmos. Clarice é a autora brasileira que mais entende de bichos. Em sua obra eles constituem uma simbologia do ser. Por isso ela saca no cão um bicho misterioso que quase pensa. Sem falar que ele sente tudo, menos a noção do futuro. Na sua escrita, cachorro tem fome de gente. Tem desejo de (ser) homem. Aprendi com Clarice e TT que, às vezes, para abanar o humano é preciso contatar nos lábios o Cão que te deseja. Principalmente quando você e esse Cão usam o mesmo remédio, as mesmas formas. Tudo isso para responder as mesmas perguntas que os questionários da existência e do cotidiano repetem, sem dó, para quem optou por si, por ser só. Mesmo quando o humano rosna ou ri - lindo - por perto.


quinta-feira, 21 de maio de 2009

Semana São Sebastião





São Sebastião é padroeiro de Caraúbas-RN.
Acompanhei esta imagem, em procissão, durante muitos 20 de Janeiro.
Com ele conversava na infância potiguar. Continuo esse diálogo no Rio onde o santo varão italiano é também padroeiro.

Agradeço a Conceição Miranda, a prima querida de belos olhos-lâmpadas, autora da foto.
.
Hino de São Sebastião

Salve ó Cristo puro, estrela luzente
Prodígio da graça do Onipotente


(Refrão)
Ó martir de Cristo, ó meu santo varão
Livrai-nos da guerra, São Sebastião
...
Tocado da graça do Onipotente
Foste prisioneiro, foste amarrado
Em uma laranjeira com setas transpassadas
...
Na glória infinita, louvaremos também
A São Sebastião, para sempre, Amém!




terça-feira, 5 de maio de 2009

Sebastião de Letras



I

o olhar apaixonado, divino

Oscar Wilde


II

Luxúria do Declínio

Thomas Mann


III

imagem do “artista que sofre pelos outros”

Susan Sontag


IV

As setas tinham perfurado a tesa e tenra carne jovem,
...com torturas de extrema agonia e derradeiro êxtase

Yukio Mishima


V

E as setas chegam: de espaço em espaço,
como se de seu corpo desferidas,
tremendo em suas pontas soltas de aço.
Mas ele ri, incólume, às feridas.

Rilke – Trad. Augusto de Campos


VI

Lembras aquele S. Sebastião que olhamos
maravilhados na fachada daquela igreja ali no centro do Rio?

João Batista


VII

“Ícone sado-masô, dândi andrógino, guerreiro ambíguo,
mártir enamorado da morte, a encarnação mesma
do sofrimento exemplar do artista...”

Carlos Adriano

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sebastião Oxóssi

Itália, Antiguidade clássica. Um jovem oficial é perseguido por ser cristão. Envolve-se numa trama que mexe com os nervos de dois imperadores romanos: Diocleciano e Maximiano. Acerca disso, ecoam pelos tempos infindos boatos místicos, políticos, eróticos...

Morto com flechas – imagem consa(n)grada no imaginário popular – Sebastião e suas formas suaves despertam sentimentos dúbios. Desconcerta em seu martírio, as imagens que misturam sedução e dor, juventude e morte. Sangue e o tecido no centro do corpo.

As flechas de Sebastião e sua sangria atravessam séculos. Inspiram estátuas, livros, pinturas, filmes e canções em tempos violentos, carentes de delicadeza. Ele é Oxóssi nos cultos de influência afro. E divide, com Nossa Senhora da Conceição, o patronato da Portela. Ou seja: no diálogo entre a espiritualidade e o gozo, só perde para Santa Tereza, aquela que foi petrificada por Bernini em pleno gozo. Numa boa. Como os soldados, os gays e marginalizados em geral de quem, com o tempo, Sebastião tornou-se padroeiro.

domingo, 3 de maio de 2009

20 de Janeiro no Brasil




I

São Sebastião do Paraíso

São Sebastião dos Franciscos (Capitólio - MG)
São Sebastião do Barreiro
São Sebastião do Carangola
São Sebastião do Dionísio

São Sebastião do Engenho Novo
São Sebastião do Erval
São Sebastião do Gil
São Sebastião do Grota

São Sebastião do Itatiaiuçu
São Sebastião do Monte Verde
São Sebastião do Óculo
São Sebastião do Oeste

São Sebastião de Paraúna
São Sebastião do Pouso Alegre
São Sebastião de Caraúbas

São Sebastião de Barra Mansa
São Sebastião do Rio Preto
São Sebastião do Rio Verde
São Sebastião do Rio de Janeiro


I I – 20 de Janeiro no CE

São Sebastião de Itapipoca
São Sebastião de Apuiarés
São Sebastião do Choro
São Sebastião de Ipu
São Sebastião do Monsenhor Tabosa
São Sebastião de Mulungu
São Sebastião de Nova Olinda
São Sebastião de Pedra Branca


I I I – 20 de Janeiro em MG

São Sebastião de Aimorais
São Sebastião de Alpinópolis
São Sebastião de Areado
São Sebastião de Azurita
São Sebastião de Cajuri
São Sebastião de Cambuquira
São Sebastião de Capitólio

sábado, 2 de maio de 2009

Porção pop-eros do Santo



Pós-RPM, o cantor encarna o mártir e soldado romano - padroeiro de Caraúbas e do Rio, protetor da peste e da Portela - e tema recorrente no universo da criação, desde a arte medieval.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

D. Sebastião

...
Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.

Fernando Pessoa




Fundado em 1565 por Estácio de Sá, o município do Rio foi batizado com o nome de São Sebastião do Rio de Janeiro, em homenagem ao então rei de Portugal, Dom Sebastião. Que não temeu "o areal" - a batalha de Alcácer-Quibir.