e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sábado, 22 de dezembro de 2012

ponta negra


tinha uma brisa no meio do caminho

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Verdadeiro com a época e suas palavras

Uma versão desta minha resenha foi publicada na Revista Via Atlântica n 21 do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa - FFLCH / USP - São Paulo, 2012
 

                    Literatura e Afrodescendência no Brasil
 

I

Um marco nos estudos da Literatura Negra produzida no Brasil. Este é o tom da recepção crítica que vem tendo a antologia “Literatura e Afrodescendência no Brasil” (UFMG, 2011), organizada em 4 volumes pelo professor Eduardo de Assis Duarte. Objetivando o “resgate e a revisão historiográfica e crítica”, a obra compila a produção de 65 pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras, envolvendo obras de 100 escritores afrodescendentes que datam do século XVIII até o século XXI.

Os sumários dos livros, suas apresentações, os depoimentos e demais roteiros biobibliográficos sugerem ao leitor um trânsito prazeroso pelos estudos acerca da produção literária de autoria negra no Brasil, e por gêneros como a narrativa, o ensaio, a biografia e a poesia, dentre outros. Essa multiplicidade de formas, assim como a releitura do acervo histórico-estético da tradição negra, engendra um debate acadêmico no qual ecoam as vozes da Literatura Afro-Brasileira e seus conceitos em construção. Representativas das diferentes identidades culturais, essas vozes produzem um profícuo intertexto – histórico, crítico, ficcional – entre os autores negros de diferentes contextos históricos e estéticos.

A produção dessa intertextualidade negra auxilia na inscrição de uma tradição que começa a consolidar-se no Brasil a partir dos anos de 1930. “Nesse momento, o que era esparso assumiu uma identidade”, diz o escritor Abdias Nascimento – “o mais importante nome da cultura negra no Brasil”, segundo Maria Nazareth Soares Fonseca. Ela é co-organizadora do volume 4 da Antologia, e autora dos textos de apresentação dos poetas contemporâneos Cuti e Éle Semog. Em seu ensaio “Literatura Negra”, a professora contrapõe a questão do ritmo na cultura africana à questão das vozes, e condensa um roteiro histórico e cultural da Literatura Negra produzida nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. Acionar o diálogo entre esta tradição negra, os autores modernos e a produção da contemporaneidade parece ser a base do roteiro construído por Assis Duarte, como sugerem as apresentações e bibliografias atualizadas nos quatro livros assim intitulados: 1 – Precursores; 2 – Consolidação; 3 – Contemporaneidade; 4- História, teoria, polêmica.


II
 

Fruto de uma década de pesquisas, a obra se inscreve num contexto marcado pelo resgate de anos de luta política e embates culturais em torno da identidade do negro e sua produção estética e intelectual. Além disso, a referida coleção questiona posturas conservadoras e/ou diletantes que dialogam com a literatura como se ela fosse “um privilégio das elites” (Márcio Barbosa), e tivesse a sua fundamentação apenas naquele objeto artístico de filiação essencialmente verbal, cujo apogeu se deu no século XIX, ratificando o discurso de uma tradição cristã, branca, basicamente heterossexual e de vinculação eurocêntrica.

Os tempos são outros. De acordo com Abdias do Nascimento, em um dos momentos mais lúcidos do seu depoimento, “a gente tem que ser verdadeiro com a época em que estamos vivendo.” Em sintonia com o criador do Teatro Experimental do Negro, sabemos que a maioria dos leitores, escritores e pesquisadores contemporâneos, todos nós convivemos com a Literatura de forma problematizada. Nenhuma aura, nenhum diletantismo nos resta. As linguagens e os demais produtos da cultura construídos neste início de milênio são carregados da história, do gênero e da cor de quem cria. Se, como argumentam alguns, embaixo de toda pele corre o sangue da mesma cor, por cima da nossa tez a história transcorre de forma diferente, e começa a ganhar outras versões.

Como atestam as versões da margem aqui copiladas, nossa história é violenta. Contrapondo-se ao histórico repressivo e ao “passo retardado da comunidade afro-brasileira” (Abdias Nascimento), a Antologia critica “o discurso da brasilidade mestiça e tolerante” (Assis Duarte), e sugere a urgência de narrar travessias e deslocamentos das “culturas africanas transplantadas ao Brasil pelos navios negreiros” (Silviano Santiago). A dívida da nossa sociedade com os autores “marcados pela cor da pele” é antiga; o que, de certa forma, pode ser mensurado na radicalidade de posturas ideológicas e propostas estéticas de autores como o poeta Cuti, que, consciente de que já não basta reproduzir os estereótipos da esquerda e os discursos ideológicos, afirma que o “viés estritamente sociológico” prejudica a Literatura Negra.

Crítico do cânone literário brasileiro, Cuti questiona alguns autores imortais e midiáticos e, atento às relações entre ética e discurso, vê a Literatura como jogo e forma de transgressão, através da qual é possível erigir o “universo subjetivo negro”. Sua leitura estética vai além da elaboração intelectual e sugere, através da bela metáfora de uma mãe negra que ama os seus filhos, a forma de pensar o futuro desses filhos resgatando elementos para além de suas consciências.

O autor de Contos crespos é representativo de uma geração de poetas para a qual é importante assumir a identidade negra, é imprescindível escrever os textos e publicar os livros; mas isso não basta. Eles sabem que, independente da cor de quem escreve, o autor precisa ter consciência da historicidade e da materialidade cultural da linguagem e das formas com as quais trabalha. Sabem ser salutar conhecer o arquivo de formas da tradição. Cuti dialoga com esta tradição afrodescendente de forma crítica, assim como o poeta e antropólogo Edmilson de Almeida Pereira que, ao combinar “lucidez e ludismo” em sua poética, usa a palavra “no sentido lúdico de recriação e ampliação da realidade.”

III
 

Como Cuti e Márcio Barbosa, o professor Edmilson de Almeida (uma das bibliografias mais alentadas das poéticas contemporâneas) “circula” pela Antologia em mais de um volume. Quando lido pelas lentes certeiras da ensaísta Maria José Somerlate, Edmilson surge como autor de poemas que provocam e “costumam desarmar os leitores mais incautos”. Autor dos perfis literários de Estevão Maya-Maya e Salgado Maranhão, o ensaísta Edmilson de Almeida destaca-se também entre os autores de depoimentos no volume 4. Além do seu discurso elucidativo, ressalto, no referido volume, as falas de Abdias Nascimento, Cuti e Zilá Bernd; principalmente pela forma como eles inscrevem seus roteiros existenciais e constroem os seus textos, entre a lucidez afirmativa da experiência social e a construção de uma “estética negra”, cuja história é assinada muitas vezes com sangue. Para Cuti, a construção dessa estética “é uma questão de sobrevivência.”

O discurso de cunho ético-estético-ideológico elaborado por Cuti – e ratificado por Edmilson de Almeida e outros contemporâneos – filia-se ao discurso da consciência negra oriundo da tradição. Como exemplos dessa filiação histórica destacam-se, dentre outros, os escritores “consolidados” Domício Proença Filho, Joel Rufino dos Santos e Oswaldo de Camargo, para quem a “conquista estética também é luta”. Em seu depoimento, o autor ratifica as idéias apresentadas por Regina Dalcastagné, cujo texto problematiza, por meios gráficos e estatísticos, as dificuldades do autor negro frente à falta de modelos na tradição literária.

Há no nome dessa tradição, querelas infindas: Literatura Negra ou Literatura Afrodescendente? A radicalidade de algumas leituras pode ser aferida já na seleção dos vocábulos com os quais os estudiosos buscam cognominar esta Literatura. A pesquisadora Zilá Bernd lembra que alguns autores continuam acreditando numa “singularidade” e numa “essência única”.  Para esses autores, “negra” é a palavra que melhor adjetiva esta literatura, principalmente por carregar em seu significado a inscrição das inúmeras lutas sociais empreendidas pelos negros. A autora de Introdução à literatura negra critica este olhar “defasado” e, em sintonia com um referencial teórico do seu tempo, apresenta uma postura reflexiva que difere da maioria ao lembrar que separar autores pela cor é racismo.

IV

Corpus de ponta e crendo que “a concepção de arte é mutável”, Assis Duarte elege o vocábulo afrodescendente como palavra que revitaliza a cultura produzida pelos negros no atual contexto. Tal revitalização atualiza uma produção que começa a se inscrever na “Linguagem dos olhos” românticos do poeta letrado Domingos Caldas Barbosa, e chega aos contemporâneos sem nenhuma crença em aura ou essência, assim: “em cruz fico muito à vontade/ para reunir setas de revolta” (Cuti).  Na leitura em torno desta tradição e dos diálogos estabelecidos entre ela e os autores modernos e contemporâneos, o organizador demonstra a contemporaneidade e a contribuição valiosa da sua empresa.

Atentando para o lugar de onde as coisas são vistas e/ou ditas, esse olhar contemporâneo é acionado principalmente em “Entre Orfeu e Exu, a afrodescendência toma a palavra”, onde Assis Duarte traça uma linha dialógica da tradição negra, e em “Por um conceito de Literatura Afro-Brasileira”, texto que aciona várias vozes em torno da questão do conceito de Literatura escrita pelos negros.  Para a apresentação deste conceito em construção, o ensaísta e pesquisador desconstrói signos culturais e estéticos. Nessa desconstrução, ele dimensiona a saturação histórica de palavras como “negro”, cujo significante atravessa, desde a Bíblia, contextos históricos datados, carregados de muitos preconceitos sociais. Esse olhar contemporâneo que desconstrói e sugere outros ângulos de leitura faz desta uma antologia imprescindível para quem lê, estuda ou deseja conhecer a Literatura Negra produzida no Brasil.

 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

2 poetas concretos



a vida é curva

Oscar Niemryer
arquiteto carioca e senhor das curvas, dizia ser a vida mais importante que a arquitetura

1907 - 2012



não finge o pasmo, não inventa que é chapado:
quem pira além da piração não é pirado.

Décio Pignatari
escritor paulista e senhor "cloaca", para quem a literatura parecia ser mais importante que a vida


1927 - 2012



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Bruta aventura em versos


Exibição e debate do filme sobre Ana Cristina Cesar

UFRJ 05/12/12 - 13 h

Mesa de debates

Letícia Simões, cineasta
Nonato Gurgel, Prof. de Teoria Literária da UFRRJ
Heleine Fernandes, Pesquisadora do Mestrado em Ciência da Literatura da UFRJ

Mediadora: Anélia Pietrani, Profa. de Literatura Brasileira da UFRJ

Integração dos Núcleos Interdisciplinares de Literatura e Cinema(NILC)

e de Estudos Literários da Mulher (NIELM).


II MOSTRA CULTURAL DA FAC. DE LETRAS DA UFRJ
Validade de 03 horas para certificado de AACC

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

no ritmo da letra e da memória

 
A escritora, tradutora e psicanalista carioca Solange Rebuzzi ostenta uma bibliografia cuja dezena de títulos contempla diferentes gêneros como a poesia, o ensaio e o romance.

Formada em Psicologia, doutora em Literatura, pesquisadora da obra de Fancis Ponge, ela coordenou o Seminário de Literatura e Psicanálise, na Escola Letra Freudiana do Rio de Janeiro.

Autora de textos ensaísticos sobre alguns escritores seminais da nossa literatura, como João Cabral e Paulo Leminski, ela lança no próximo dia 28 o Livro das Areia. Sobre esta narrativa de 2012, outros livros e temas do seu inverso profissional, ela fala a seguir.

 

clique para ampliar 
 
 
1 - Solange, como classifica o seu novo livro de ficção, cuja “língua que não é só a de um romance”?
 
O Livro das areias é uma narrativa. Está fora das classificações mais usuais. Nasceu assim. A escrita deu a direção à minha fala, fora da linguagem mais linear. Quando afirmo, no início do livro, que a língua não é só a de um romance quero marcar essa diferença, enquanto possibilidade. Ele está escrito em versos livres, mas é uma narrativa de tempos vívidos em diálogo com a escrita.
 
 
2 - A sua inscrição profissional abrange diversas áreas do saber e da cultura como a psicanálise, a literatura e a tradução. Até que ponto a psicanalista, a escritora e a tradutora dialogam? Ou estas atividades profissionais são exercidas de formas isoladas?

 
Nonato, meu caro, são as diferentes áreas de “um saber não sabido” que se mostram como eu gosto de dizer. A psicanalista, a escritora e a tradutora conversam... O meu interesse está assinalado no estilo que as narrativas, as distintas narrativas, saboreiam. O escrever se impõe a partir da leitura com o ritmo da letra. Os gêneros importam menos.

No consultório, são os analisantes quem fazem e refazem sua própria escrita-vida diante de uma escuta analítica que lhes dá novas possibilidades.
 
Na tradução o trabalho celebra a língua estrangeira, que nos alcança enquanto tradutores-escritores-poetas e a experiência se coloca diante da falta, pois não se traduz nunca com a completude e a perfeição. Traduzimos com o desejo e a capacidade de inventar, subtrair e/ou somar.

 
3 - Quais são as diferenças entre este Livro das Areias (2012) e as narrativas de Estrangeira (2010) e Quase sem palavras (2011)?
 
 
 O livro Quase sem palavras foi escrito primeiro, no final da década de 90. E é um romance; um romance poético. Tem personagens, uma história que avança durante algumas décadas, uma temática, etc... Os fios que tecem essa história“quase sem palavras” dizem algo da ditadura, dos exílios, da busca amorosa da juventude na cidade do Rio de Janeiro de outras décadas, com seus bares, praias, encontros e desencontros.

Estrangeira nasceu depois de um tempo de estudos na França, durante um doutorado-sanduíche em 2005. É também uma declaração de amor à Paris, mas não só. Talvez, por isso ele tenha sido publicado primeiro. E o Livro das areias cresceu aos poucos, obedecendo ao ritmo da memória, pois é bastante autobiográfico (dentro da lógica que reconhece que o escrito carrega o bio da grafia ficcional sempre, conforme nos ensina Roger Laporte).
 
 

sábado, 17 de novembro de 2012

Chico lê Aderaldo

 
 o compositor e secretário de cultura da PB e a História Crítica do Cordel Brasileiro
 
 
 
 

Cordel não é folclore


Como diz na entrevista a seguir, o professor e poeta Aderaldo Luciano, autor de O auto de Zé Limeira (2008), vem pesquisando o cordel há 20 anos. Em 2007, ele defendeu na UFRJ a tese de doutorado “Literatura de Cordel: visão e revisão”, orientada pela professora e escritora Helena Parente Cunha.

Desde então, o autor vem ministrando aulas e apresentações públicas onde apresenta uma “narrativa” entremeada de figurações da cultura sertaneja e cenas urbanas, com uma metodologia repleta de informação e humor, na tradição da aula-espetáculo de Ariano Suassuna.

Seguindo a trilha aberta por M Cavalcanti Proença que lê os aspectos literários do cordel, a pesquisa de Aderaldo elege a linguagem como um dos principais “personagens” desta literatura. Ele traça uma espécie de recepção crítica desta forma literária, e critica a maioria dos estudiosos e pesquisadores da historiografia do cordel.

Esta crítica tem como base os aspectos folclóricos e culturais dos antigos estudos e pesquisas, em detrimento dos elementos literários que esta pesquisa busca priorizar. A seguir, a fala deste leitor de Câmara Cascudo e Augusto dos Anjos, que traz para o campo da linguagem a especificidade do cordel, e acredita no seu “caráter literário”.
 

1 - Aderaldo, por que o cordel em pleno século XXI?

O cordel é a única forma poética genuinamente brasileira. Todas as escolas literárias passaram e o cordel continua. É como o soneto: não tem idade e é sempre vanguarda. Infelizmente nunca recebeu o tratamento merecido. Com os deslocamentos do eixo cultural e as mudanças sociais vigentes neste século, o olhar sobre o cordel também migrará. Há 20 anos venho me preparando para isso. Agora é hora.

2 - Quais são os autores mais representativos do cordel no Brasil?

Da Geração Princesa, a pioneira, temos Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima, João Martins de Athayde e Francisco das Chagas Batista. Da Geração Prometida, a intermediária, que ofereceu permanência ao cordel: José Camelo de Melo Resende, Delarme Monteiro, José Pacheco, Antonio Teodoro dos Santos e Manoel D'Almeida Filho. Da Geração Coroada: João Firmino Cabral, Bule-Bule, Manoel Monteiro, Antonio Américo de Medeiros e Azulão. A Geração Celebrante, esta que aí está segurando o bastão e fazendo fé na coroa, aprendeu com os mestres e está trilhando o bom caminho, mas ainda está sob observação.
 
3 - O que diferencia este seu novo livro da História do Cordel Brasileiro de 2011?

 No título do meu livro está escrita a palavra "Crítica". Isso é o diferencial: pela primeira vez fazemos a crítica de tudo que foi dito e anotado sobre o cordel e refutamos a maioria das informações, por exemplo: o cordel brasileiro não é o mesmo cordel de Portugal, há apenas uma ligação em sua forma física e em alguns temas, mas temos uma autonomia poética decisiva; o cordel não é o aspecto escrito da poesia oral dos cantadores repentistas. Dialoga, mas se afasta; o cordel não é uma poesia dita sertaneja: é um misto de ruralidade e urbanidade. Embora alguns autores venham do sertão, é no brejo e nas cidades onde ele se consolida; O cordel não é folclore: tem data e autoria; as xilogravuras que ilustram algumas capas de folhetos não são sinônimo de cordel. São um acidente de percurso. A maioria dos cordéis não são ilustrados com xilogravura. É um "mito" que engravidou vários "estudiosos".

 É isso, caboclo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

FLIPIPA 2012


 
No link abaixo, encontra-se a programação do quarto Festival Literário da Pipa que acontecerá este ano de 22 a 24 de Novembro no RN. Evento literário que se identifica com o discurso multicultural contemporâneo, o FLIPIPA celebra a literatura e a leitura, e  conta com a participação de escritores, poetas, professores, jornalistas, pesquisadores acadêmicos e críticos literários, objetivando, segundo o site do evento,  "unir as duas pontas da prática literária: o pensamento crítico/acadêmico e a formação através de uma programação educativa".

http://www.flipipa.org/

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Obama bis



o discurso multicultural do presidente negro
reeleito com cabelos brancos
pelas minorias ora maioria

na sintonia virtual a semelhança dança

o riso solidário via twitter:
negros mulheres gays
pobres e jovens
alunos de Harvard

71 % dos latinos apostaram na sensibilidade social dos democratas americanos
 
isso faz o mundo respirar um pouquinho
melhor, mais lépido
menos bélico

 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Obama

 
 
Filho de um economista com uma antropóloga, ele foi criado entre livros, filmes e peças de teatro. Como sua mãe, ele é fã do "Orféu Negro" - um filme dirigido pelo francês Marcel Camus, baseado na peça "Orféu da Conceição", de Vinícius de Moraes.

Obama foi professor. Estudou Direito e Ciências Sociais em Harvard e Columbia.  Deseja menos dores, menos narrativas bélicas na internet e nas bibliotecas da América. Tem sorriso firme e humor suficiente para comparar-se ao vira latas que procurava para a filha em 2008, quando assumiu o cargo como primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

Aos 52 anos, a biografia deste Nobel da Paz ostenta uma vida em trânsito. Viveu na Indonésia e no Havaí. Viu, pegou e tirou ondas. Muitas ondas. Ouvido treinado por Males Davis, Bruce Springsteen e U2, o presidente assume que tragou. Negro lépido e afirmativo, sua imagem  aciona o exercício da diferença e aponta para um roteiro histórico e cultural bem mais solidário. Isso pode aferido em assertivas tipo "Eu adoro esse cara", referindo-se ao ex-presidente Lula em 2009.

Ao contrário de republicanos como Bush e Romney, o democrata autor de "A origem dos meus sonhos" vê além das diferenças raciais na América em crise: "não há um EUA branco e outro negro, e sim os Estados Unidos da América". Por isso ele diz ser o presidente de todos os americanos. Em português, seu nome remete à conjugação do verbo amar no presente do indicativo e no imperativo: ama.
 
Como escreveu hoje Arnaldo Jabor nO Globo, "se o Mitt for eleito, voltará a grande máquina careta onde todos se encaixam como parafusos obedientes, uma máquina que paraliza o presente num passado eterno..."

Obama bis.

 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

ajoelha



...  a morte que é nesta história o meu personagem predileto.

Clarice Lispector, A Hora da Estrela, 1977

 

... com o rigor/que a morte pede 

Armando Freitas Filho, Cabeça de Homem, 1991

 

...digam-lhe
a verdade, que esta tão
dura morte é ainda o
resto da minha alegria

Walter Hugo Mãe, Poemas, 2005


  
Eu estive com a morte de frente; vou ter medo de encarar o que?
 
Reinaldo Gianecchini em “Marília Gabriela entrevista”, 2012



... quando não escrevo estou morta...

Clarice Lispector, entrevista para a TV Cultura, 1977
 
 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

FLIPIPA


No link abaixo, a programação do Festival Literário da Pipa que acontecerá de 22 a 24 de Novembro no RN.

http://www.flipipa.org/

sábado, 6 de outubro de 2012

leitor dos manuais


Lembro da casa de cores e cheiros fortes. Corpos quentes em quartos sombrios.  Lá, dançava quem não lia os manuais da carne e suas pequenas traições negociadas aos gritos ou na mudez mais sanguínea. Nunca esqueci este cenário da família do filme “Os sete gatinhos”, baseado na obra de Nelson Rodrigues.

Assim como a poeta Diva Cunha, o teatrólogo é um autor ocupado “com as coisas da carne”. Leitor da gramática da carne, o autor das Tragédias Cariocas não subestimava a morte. Conheceu-a bem cedo quando viu seu irmão Roberto ser assassinado numa redação de jornal. Em entrevista para o escritor Oto Lara Resende, Nelson diz que aos 40 anos sacou a idéia de finitude.

Peles e pelos. O universo erótico e familiar recortado pelo autor, em 17 peças teatrais, ajuda a entender o cotidiano burguês que a modernidade urbana inventou no século XX. Ajuda e nos situa a todos num mesmo e efêmero reino: o do corpo. É a carne e sua sinfonia que o autor ouve e põe no palco.

sábado, 22 de setembro de 2012

Teoria e Crítica Literária


A seleção dos dez autores finalistas do Prêmio Jabuti inclui o ensaísta Eduardo de Assis Duarte, professor da UFMG, cuja antologia é uma referência nos estudos da Literatura negra no Brasil.

A presença das editoras de SP e MG parece sugerir, aos universos da crítica, da academia e da mídia, alguma coisa em relação aos processos de leitura, pesquisa e publicação em nosso país.
 
Jabuti 2012
 
1º - Da estepe à caatinga: o romance russo no Brasil (1887-1936)
 - Bruno Barretto Gomide, EDUSP
 
2º - Critica Textualis in Caelum Revocata? Uma Proposta de Edição e Estudo da Tradição de Gregório de Matos e Guerra
 - Marcello Moreira, EDUSP
 
3º - A Espanha de João Cabral e Murilo Mendes
- Ricardo Souza de Carvalho, Editora 34
 
4º - Cenas de um modernismo de província
- Ivan Marques, Editora 34
 
5º - Literatura e Afrodescendência no Brasil: antologia crítica
- Eduardo de Assis Duarte e Maria Nazareth Soares Fonseca, Editora UFMG
 
6º - Hermenêutica e Crítica: o pensamento e a obra de Benedito Nunes
 - Jucimara Tarricone, EDUSP
 
7º - João Antônio, leitor de Lima Barreto
- Clara Ávila Ornellas - EDUSP/FAPESP
 
8º - A Construção da Identidade Nacional nas Crônicas da Revista do Brasil
- Maria Inês Batista Campos, Editora Olho D'Água
 
9º - Janelas Indiscretas: Ensaios de crítica biográfica
- Eneida Maria de Souza, Editora UFMG
 
10º - Poemas e Pedras: a relação entre a escultura e a poesia partindo de Rodin e Rilke
- Rita Rios, EDUSP
 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Memórias eróticas de um país repressivo cheio de tesão


Nelson Rodrigues é o autor brasileiro que mais vi do que li. Primeiro vi Nelson via Jabor: “Herculano, aqui quem fala é uma morta” – nunca esqueci a voz de Darlene Glória girando no gravador. Eram as primeiras cenas do filme “Toda nudez será castigada” e meu primeiro espanto no universo rodrigueano. Primeiros passos na educação sensorial. 

Dizendo-se cristão, o autor de “Vestido de Noiva” (1943) rasurou as cartilhas religiosas e estéticas do Brasil moderno. Questionou bulas ideológicas, da esquerda e da direita, no contexto ditatorial dos anos 70 e 80. Afirmava ser Marx uma besta. Como rezam as imagens dos mais de 20 filmes baseados em sua obra, o sexo atrapalha o amor.

No universo pujante e contraditório dos afetos e das paixões, o autor pernambucano que melhor encenou o corpo e a alma da classe média suburbana era provocador: dizia que só as mulheres normais gostam de apanhar; afirmava ser preciso paixão até para chupar um picolé.

 

sábado, 15 de setembro de 2012

Atire a primeira pedra



Nelson Rodrigues (1912 – 1980) criou peças teatrais e engendrou narrativas suburbanas repletas de tragicidade e lirismo. Erotismo e violência são ingredientes recorrentes nesta escrita que, a partir da década de 40, foca no imaginário erótico da moderna classe média surgida no século XX. 
 

Embora não seja de sua autoria, a frase que intitula este post é uma homenagem ao autor que melhor encenou o erotismo urbano nos trópicos, e que este ano completaria um século de genialidade e contradição. Ele mesmo se definia como “reacionário”, “anjo pornográfico” ou “flor de obsessão”, dentre outros epítetos.
 

O escritor é cria do jornalismo onde começou a trabalhar aos 12 anos. Foi repórter policial. Anos depois, o jornalista Samuel Wainer sugeriu-lhe “Atire a primeira pedra” como título para uma coluna; mas o autor de “A vida como ela é” preferiu assim intitular sua coluna no jornal Última Hora na década de 50 no Rio.


Em crônicas, peças teatrais, aforismos e romances, Nelson "encenou" os gestos e afetos suburbanos de um país repressivo cheio de tesão.  Tinha, no buraco da fechadura, o melhor ângulo de visão. Pelo buraco leu na carne a porção dionisíaca do seu povo. Numa época na qual não era bacana gostar do Brasil, ele dizia que o brasileiro possui luz própria. Apostava no porvir cultural dos trópicos.

 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Brasil



Este país é um dos últimos que ainda veneram a poesia...

O Brasil só adentra o palco da literatura universal na segunda metade do século XIX com duas figuras realmente representáveis: Machado de Assis e Euclides da Cunha. Machado está para o Brasil como Dickens para Inglaterra...

A Europa tem muitíssimo mais tradição e menos futuro, e o Brasil, em contrapartida, menos passado e mais porvir.


Stefan Zweig, "Um olhar sobre a cultura brasileira" in Brasil, um país do futuro, 1941


 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Antonio Cicero



Depois de Guardar (1996) e As cidades e os livros (2002), o poeta, compositor e filósofo Antonio Cicero publica, pela Record, o seu terceiro e aguardado livro de poesia: Porventura (2012).
 

Capa com pintura de Luciano Figueiredo e orelhas de Antonio Carlos Secchin, o novo livro é composto de 35 poemas que ratificam a poética densa de versos claros que o autor vem construindo desde as primeiras composições em parceria com sua irmã, a cantora Marina Lima.

 
Leitor de cidades pelas quais adora caminhar, Cicero diz não saber contar histórias. No entanto, os seus versos “líricos, eróticos, céticos” continuam atualizando o imaginário de quem lê, canta, pensa e escreve na contemporaneidade, como demonstram os 4 poemas de Porventura citados na entrevista a seguir e transcritos no terceiro post.

 
A seguir, a palavra do poeta que é autor de títulos ensaísticos como O mundo desde o fim (1995), Finalidades sem fim (2005) e Poesia e Filosofia (2012). Como Keats, ele também acha que “o poeta não tem personalidade, pois é um camaleão. Pode-se dizer que, enquanto poeta, ele não tem um ser particular”.

 
 
 

o poeta de "todas as cidades que existem"



Cicero, comecemos pelo título. Por que um advérbio?

AC: Por que não? “Guardar” é um verbo. Mas quem melhor explica esse título é Antonio Carlos Secchin, na orelha do livro. Ele diz: “O advérbio ‘porventura’, afirma-nos o Houaiss, é empregado especialmente em perguntas delicadas. Já o sentido de ‘ventura’ oscila entre ‘felicidade’ e ‘risco’ – dois combustíveis perpétuos do poema”.


“Que não se engane ninguém: / ser um poeta é uma África.” (“O poeta marginal”). O que sugere ao leitor a conclusão desse eu poético?

AC: Já que o Secchin citou o Houaiss, vou citar o Aurélio, para o qual “áfrica” é “façanha, proeza, feito”. Assim, ser um poeta é uma façanha, uma proeza, um feito. Usa-se com minúscula, mas prefiro com maiúscula, quando a façanha fica ainda maior e mais misteriosa, como o continente negro.


Tem nome ou referente a “Cidade” que você constrói para Arthur Nestrovsky?

AC: Não. A cidade de A cidade e os livros é o Rio de Janeiro, mas seus lugares “abriam-se em esquinas infinitas / de ruas doravante prolongáveis / por todas as cidades que existiam”. A cidade de Porventura é a que se compõe de todas as cidades que existem. O poema é dedicado ao Arthur Nestrovsky porque surgiu quando ele me encomendou um poema para publicar, não me lembro mais em que periódico.

 
Um “entregador de flores” rouba a cena no poema “As flores da cidade” (Porventura). Há garotos em canções e poemas como “Onda” (Guardar) e “Vitrine” (A cidade e os livros). Gostaria que comentasse a presença deles na sua poética, e de saber se existe sintonia entre essas “musas” e o eu poético que se ouve no “Balanço”, suspeitando se será “plenamente adulto”.
 
AC: Do meu ponto de vista, não há grande sintonia entre eles. É que o sujeito que jamais será plenamente adulto é o sujeito do poema, o poeta. De fato, como poderia ser considerado adulto, sério e maduro alguém como eu, que jamais seguiu carreira alguma, que não tem profissão, emprego ou aposentadoria, alguém que, como diz Borges, “se aplicó a las simétricas porfias / del arte, que entreteje naderías”? A entreter naderias, envelheço, mas jamais cheguei ou chegarei a ser maduro ou adulto. É isso que, entre outras coisas, penso estar dizendo ali.

Já o garoto de “Onda” se origina no Hino Homérico a Hermes. Hermes é o mensageiro dos deuses, correspondente a Mercúrio ou Exu. O autor do Hino fala dele como

[...]

um garoto versátil, manhoso,

ladrão, boiadeiro, pastor de sonhos, olheiro

da noite, manjador de portões, que logo mais

brilharia por seus feitos entre os mortais.

[...]

Transplantando o cenário, da Arcádia para o Arpoador, e modificando um tanto esse trecho do poema, escrevi:

[...]

Garoto versátil, gostoso,

Ladrão, desencaminhador

De sonhos, ninfas e rapsodos

[...]

“a flor/ da onda” vem de Alcman (fr.26).

“Vitrine”, por outro lado, é produto da percepção do comportamento e da divagação sobre o narcisismo e sobre os sonhos de consumo e de virtuosismo futebolístico de tantos rapazes brasileiros.

Quanto a “Flores da cidade”, trata-se de um poema que foi feito a partir de minha experiência de caminhar pela cidade. Adoro tais caminhadas, durante as quais observo muitas coisas, algumas terríveis, outras belas, e às vezes troco olhares ambíguos, equívocos, polissêmicos com os rapazes bonitos que atravessam o meu caminho.

 
Desde Guardar, você vem atualizando a memória e o imaginário urbanos, através de um profícuo diálogo com a mitologia e com alguns autores representativos da cultura clássica. Qual é a importância desse diálogo para a poesia contemporânea?

AC: Posso falar somente da importância desse diálogo para a minha poesia. O que ocorre é que penso em toda a poesia canônica, principalmente na poesia do mundo clássico, que pertence tanto ao Brasil quanto a qualquer outro país, como um thesaurus, um tesauro, um reservatório de figuras. O poeta romântico inglês Keats dizia, com razão, que o poeta não tem personalidade, pois é um camaleão. Pode-se dizer que, enquanto poeta, ele não tem um ser particular. Homero era retratado – a partir, é claro, do retrato que ele mesmo fez do poeta Demódoco, como cego. Interpreta-se isso como a significar que o que ele canta não vem de sua própria experiência, mas do sopro das Musas. Mas a cegueira quer dizer também que ele não se limita ao que vê: não se limita ao presente. Assim é todo poeta enquanto poeta. Por isso, digo em “O poeta cego”:


Eis o poeta cego.
Abandonou-o seu ego.
Abandonou-o seu ser.
Sem ser nem ver ele verseja.

[...]

Porventura


 

Balanço

A infância não foi uma manhã de sol:
demorou vários séculos; e era pífia,
em geral, a companhia. Foi melhor,
em parte, a adolescência, pela delícia
do pressentimento da felicidade
na malícia, na molícia, na poesia,
no orgasmo; e pelos livros e amizades.
Um dia, apaixonado, encarei a minha
morte: e eis que ela não sustentou o olhar
e se esvaiu. Desde então é a morte alheia
que me abate. Tarde aprendi a gozar
a juventude, e já me ronda a suspeita
de que jamais serei plenamente adulto:
antes de sê-lo, serei velho. Que ao menos
os deuses façam felizes e maduros
Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos.

  

O poeta marginal
 
Em meio às ondas da hora
e às tempestades urbanas
conectarei as palavras
que trovarão novas trovas.
Lerei poemas na esquina,
darei presentes de grego;
a cochilar com Homero,
farei negócios da China.
Exporei tudo na rede
sem ganhar nem um vintém:
a vaidade, a fome, a sede,
certo truque, rara mágica.
Que não se engane ninguém:
Ser um poeta é uma África.



Cidade

Para Arthur Nestrovsky

Lembro que o futuro era uma cidade
nebulosa da qual eu esperava
tudo e que, sendo uma cidade, nada
esperava de ninguém. Ah, cidade
sonhada de avenidas macadâmicas,
turbas febris e prédios de granito:
o que era que eu perdera e que, perdido
e em cacos, buscava nas tuas áridas
calçadas e esquinas? Hoje constato
que a névoa do futuro do passado
adensa-se dia a dia. De longe
teus contornos são mais arredondados.
Tu, cidade irreal, aos poucos somes:
já anseio te rever e já te escondes.
 


As flores da cidade
 
Há flores pelo caminho através
da cidade à cidade: naturais,
em canteiros e em árvores, talvez,
mas quase todas artificiais
nos cabelos dos bebês, em cachorros
mimados, em vitrines e revistas
femininas, em cartazes e outdoors,
e – de novo naturais – em floristas,
camelôs na calçada e, sobretudo,
nas mãos do entregador de flores, cujo
olhar esverdeado sobre as rosas
é puro absinto e tudo nos deslembra,
lançando-nos dúvidas hiperbólicas
sobre o próprio destino a uma hora dessas.


 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

concurso de poesia


No link a seguir estão os resultados finais do II Concurso de Poesia promovido por Autores SA, de cujo juri participo. As curtas observações que faço sobre os 12 poemas finalistas encontram-se bem no final do longo post que resume as etapas do concurso: http://autoressa.blogspot.com.br

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ná Ozzetti


              Capitu, de Luiz Tatit, com imagens de Capitu - minissérie de Luiz Fernando Carvalho

Ná no quintal


Curto a cantora Ná Ozzetti desde o início dos anos 80, quando adquiri em Natal (RN) – ao acaso, sem referência – um vinil do Rumo. Este grupo paulista entoa e traduz muito da subjetividade afetiva daquela década. Suas sonoridades sutis marcaram minha audição mais ou menos como os timbres e tons de João Gilberto, da poesia de Leminski e da música pop formataram o ouvido.

Com o belo show Meu quintal, Ná comemora 30 anos de uma carreira bastante produtiva e sem concessões. Entremeado de clássicos como Capitu e Atlântica, o show tem por base o CD homônimo de 2011, repleto de parcerias com Luiz Tatit, Dante Ozzetti e Alice Ruiz, dentre outros.

Meu quintal ratifica a sofisticação estética de uma trajetória inventiva que não se repete, e cuja "língua falada" faz "tecer a melhor teia" (Luiz Tatit).

Chovem acordes e palavras brotam no quintal de Ná. Ela dança lindamente ao colher os frutos do seu quintal cantado. Quintal urbano que também “é um sertão” onde vingam gestos. Seu repertório surpreende principalmente pelo teor de invenção e contemporaneidade.

A seguir, a palavra da cantora cuja sutileza musical (a)fia.


NG: Ná, os seus discos e CDs circulam principalmente nas grandes cidades. Muitos ouvintes não os encontram, ou desconhecem a belíssima obra que você vem construindo ao longo das três últimas décadas. Gostaria que apresentasse sua discografia, e as formas de acesso e aquisição das obras.
NO: Nonato, com o grupo Rumo gravei os seguintes discos:

Rumo e Rumo aos Antigos - lançados simultaneamente em 1981
Diletantismo - 1983
Caprichoso - 1985
Quero Passear - 1988
Rumo ao Vivo - 1992
O Sumo do Rumo - Coletânea
maiores informações no site www.gruporumo.com.br
em carreira solo:
Ná Ozzetti - 1988
Ná - 1994
Love Lee Rita - 1996
Estopim - 1998
Show - 2001
Piano e Voz - com André Mehmari - 2005
DVD Piano e Voz - idem - 2006
Balangandãs - 2009
Meu Quintal - 2011

a maior parte de minha discografia solo foi relançada pela gravadora MCD www.mcd.com.br . Além do site, normalmente são encontrados em livrarias como a Cultura, Saraiva, Fnac e Livraria da Vila.


o CD Meu Quintal foi lançado pela Borandá www.boranda.com.br

NG: Dentre os trabalhos que conheço – Ná Ozzetti (1988), Love Rita Lee (1996), Piano e Voz (2005) e Meu Quintal (2011) –, percebo ser neste último que você se afirma como compositora. Das 12 faixas que compõem o cd, 11 são suas. O que motivou esta presença marcante da compositora?

NO: tenho composições também nos discos Ná (1994) e Estopim (1998).
comecei minha carreira como intérprete e a composição veio mais tarde.
gosto muito de poder alternar meus trabalhos, entre projetos autorais e os em que atuo como intérprete.

NG: O que se ouve e lê no seu quintal? Por causa da sua formação em Artes Plásticas e do diálogo que mantém com outras artes, gostaria de saber as influências estéticas.

NO: são muitas influências, em todas as formas de arte, como na dança Kazuo Ohno, Pina Bausch, no cinema Fellini, Chaplin, nas artes plásticas meus amigos Edith Derdyk, Laura Vinci, Gal Oppido, na literatura Guimarães Rosa, Mia Couto, os poetas Alice Ruiz, Paulo Leminski, Cecília Meirelles, e na música Tom Jobim, Beatles, só para citar alguns nomes, pois a lista é grande.


NG: Quais os projetos futuros?

NO: tenho idéias para um novo CD, com outras canções. Já já começo a trabalhar nele.



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entrevista a Lohan Lage



Olá, caro Nonato. É com muita satisfação que o recebemos, mais uma vez como jurado, no Concurso de Poesia Autores S/A. Nonato, como você enxerga a literatura contemporânea brasileira, diante de tantas mudanças nos hábitos da leitura e da escrita, bem como da edição dos livros e da divulgação dos trabalhos pelas diversas mídias disponíveis? Qual é a cara do novo poeta brasileiro? Ele preza pela técnica, ele remete ao clássico, ou ele possui raízes firmes no movimento modernista da década de 20/30, quebrando paradigmas a seu modo?


NG: Agradeço pelo convite, Lohan.  Parabenizo pelo concurso cuja continuidade deve ser celebrada, e pela sugestão da mitologia como um tema repleto de possibilidades. Parabéns principalmente para os autores classificados. Creio que a qualidade cresceu. 


Vamos à pergunta que, na verdade, são três ou quatro. Quando penso em literatura contemporânea, falo principalmente do que foi produzido nas letras das últimas décadas do século XX e neste início de milênio. Na minha visão de leitor, essa produção tem pouco a ver com o que chamamos, por exemplo, de Literatura no século XIX – o mais literário de todos os séculos. Naquele contexto, a Literatura era feita basicamente do diálogo com a própria Literatura – uma arte calcada principalmente nas noções de gênero e oralidade que sedimentam a cultura clássica. Depois das vanguardas do início do século XX e de toda arte de ruptura produzida pelo Modernismo, ninguém acredita mais nisso.


O cotidiano do século XX produziu uma sensibilidade maquínica e virtual onde os conceitos de tempo, espaço e identidade são relidos, alterando as concepções artísticas do Classicismo e do Romantismo.  A lição de Walter Benjamin nos ensina que quando mudam os meios de percepção de uma comunidade, transformam-se suas formas de fazer arte, de produzir cultura. Ou seja: não dá para viver no século XXI cercado de mídias, telas, teclas, Iphones e escrever como se estivesse num campo árcade tocando flauta, ouvindo vento, sem IPTU para pagar. Por isso creio que a cara do poeta contemporâneo seja a do sujeito que, dialogando criticamente com o arquivo de formas que a tradição nos legou, consegue inscrever a sensibilidade do seu tempo.


2.Independente do estilo dessa nova geração literária, quero saber, na sua concepção, o que um poema tem que ter/ser para receber a sua nota 10? Que técnica é imprescindível, a seu ver? A teoria deve sobrepujar a subjetividade na produção de um poema?

NG: Teoria é um instrumento contextual e produtivo que serve principalmente para dar aula. A poeta contemporânea Ana Cristina Cesar escreveu que foi salva pela técnica. Quando pensamos em arte, não há salvação sem técnica. Seja na vida ou no texto, é preciso o exercício de uma forma. Além da imagem, a forma remete a sons, noções de sintaxe e de extensão. Os materiais acústicos da forma têm a ver com ritmos e timbres, dentre outros, demarcando uma voz, um jeito de dizer. Por isso não curto poeta que não lê ou aprimora esse jeito. Independente de geração, a nota máxima vai geralmente para o autor que acentua a sua voz. E essa acentuação vocal requer, hoje, um diálogo com diferentes linguagens – verbais e não-verbais – e um domínio da forma que leva em conta, dentre outros, as noções de rapidez, visibilidade e fragmentação.

Esta entrevista completa e os meus comentários sobre os poemas do referido concurso foram publicados em http://autoressa.blogspot.com.br/



quinta-feira, 5 de julho de 2012

greve no "entre aspas"



Iniciada em 17 de maio de 2012, a greve nas universidades federais brasileiras é o tema do programa ancorado por Monica Waldvogel.  O debate dura em torno de 23 minutos. Começa expondo um tema contemporâneo que é  polêmico e pouco debatido: a mudança de paradigmas universitários na produção de conhecimento.  

O programa trata do “caráter mercantil” e da problemática da privatização no ensino superior, da desestruturação do plano de trabalho e das condições materiais das instituições. Ressalta questões como Reuni, aposentadoria e, dentre outros, as relações entre alunos e professores.   Veja no link:

http://g1.globo.com/globo-news/entre-aspas/videos/t/todos-os-videos/v/acordo-sobre-greves-em-universidades-brasileiras-segue-sem-solucao/2024203/

sábado, 16 de junho de 2012

Ulisses deslocados




cada viagem, pequena ou grande, sempre é Odisséia

Italo Calvino, Por que ler os clássicos




“Os lugares a gente carrega, os lugares estão em nós”.

“Sou um homem do século XIX extraviado neste século”.

 Jorge Luís Borges in Dicionário de Borges, Carlos Stortini


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“O argentino tem a mania do exílio” 

Cesar Aira in Diálogos Oblíquos, Bella Josef



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“...tinha a alma cheia de barcos”

Graciliano Ramos, Angústia



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“Eu me considero um grego transviado nas ruas de Bizâncio”.

Euclides da Cunha in Revista de História, Alberto Venâncio Filho



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“Sou uma mulher do século XIX/ disfarçada em século XX”

 Ana C in Inéditos e Dispersos, Armando Freitas Filho (Org)



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   "As viagens em que acabamos chegando por partes: primeiro o corpo, depois a sombra."

     Adolfo Montejo Navas, Pedras Pensadas