e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

domingo, 6 de junho de 2010

Ca-fé



Sol na padaria. Desfruto do pequeno luxo que é tomar café no balcão, mudo ou dialogando, com ou sem açúcar. Começo encarando a caixa de sotaque nordestino, de quem fico amiguinho de infância, fácil fácil...

Escolher o local do balcão – espaço é poder – define quem terei ao lado. A degustação do café e do pãozinho na chapa tem muito a ver com o local no qual eles - o café, o suco, o pão - serão devorados com renovado desejo matinal.

Da caixa já sei naturalidade e estado civil. Acertei ao sentar no local próximo à pia (há um espaço vazio ao lado). E agora o principal: serei servido pela moça grávida, curva cheia de pulsações ou pelo homem reto que narra a história da pele?
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Saboreio como rei uma média deste alimento que contém a fé no próprio nome. Por isso não falha. Na cabeça, um samba de Cartola que diz "ninguém acerta sem primeiro errar", e uma frase de Clarice: "Perdão é um atributo da matéria viva". Perdoa, vai!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Animais em decomposição



Cavalos paridos dos mesmos mitos e máscaras. Guiados, há séculos, por estórias, signos e cifras de ritmos urbanos no calor da hora. Os corpos, no fim das contas, ditam roteiros e cobram prazos que é uma beleza. Eles dizem mais que sabemos. A linguagem já não se transforma num Deus que salva ou adia. Ela pede.

Memórias daqueles tripulantes que serviam à mesa. Ao fim do jantar, descobria-se que o capitão da nave, às vezes, não era tão heróico assim. Havia cavalos em decomposição nas suas vestes. Nos seus olhos, uma estrada escura onde autos guiam na trilha do sonho.

Dizer que é culpa das mulheres, do velho do Restelo ou dá escola já não diz. Fundaram o país do batismo a esta altura. Azul azul que não encanta. Canta: como uma sereia em cujo seio mapeio a canção do coice que, no monte, abre uma fonte.