e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cabral e a elegância dos pregos e mourões



Leitores e admiradores do poeta João Cabral têm encontro marcado nesta quarta-feira, dia 03/03, no Rio. Nesta data, o Centro Cultural da Justiça Eleitoral abre exposição sobre o autor modernista cuja poética, segundo o cineasta Arnaldo Jabor, constrói uma teoria da percepção.

“Um poema por dia” possui curadoria de Inez Cabral. Filha do poeta que escrevia com rigor arquitetônico e matemático, ela dá um belo depoimento no filme Recife/Servilha. Este documentário de Bebeto Abrantes tem como cenários os dois espaços referenciais da poética cabralina: o sertão pernambucano e a Espanha.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Foto de Fernando Vieira


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Palácio do Catete, Rio


9 de janeiro

Ora bem, faz hoje um ano que voltei definitivamente da Europa. O que me lembrou esta data foi, estando a beber café, o pregão de um vendedor de vassouras e espanadores: "Vai vassouras! vai espanadores!" Costumo ouvi-lo outras manhãs, mas desta vez trouxe-me à memória o dia do desembarque, quando cheguei aposentado à minha terra, ao meu Catete, à minha língua.
...Custa muito sair do Catete.

Machado de Assis, Memorial de Aires, 1908

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Poema de Leonardo Gandolfi

Atrasados

Esse o milagre último, quiçá penúltimo,
o dos transportes públicos quando desponta
o dia e se acendem nossas ilusões.
E o fim da esperança é felizmente
uma questão de trânsito ou de beleza
involuntária, como por exemplo
quando já não buscar o meu o olhar
algo esquivo da moça mais bonita do ônibus.
De modo que ao descer não volto a vê-la,
embora em cada canto ainda me acompanhem
a dor do amigo morto faz uma mês
e a permanente sensação de que as
coisas não têm corrido assim tão bem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cronologia

Tecnicamente não sou boa pessoa.

Amei e fui amado sem ter visto nisso

amor ou o que quer que seja. Em segredo

traí mulheres, amigos e a memória alheia.

Cultivei a mentira, o medo, a covardia,

tudo em seu registro menos assertivo,

e só mais tarde fui aprender que ao melhor

mal coube a mim apenas a melhor resposta.

Pois se houve bem no mal do qual fiz parte,

foi o de ver que as pedras que tenho no bolso

também estão no bolso daqueles a quem

não abracei nem dei a mão. Nossa canção,

embora solitária e cheia de paz,

é uma só canção e, cante o que cantar,

ouviremos apenas os ruídos desse

que tem sido apesar de tudo o nosso tempo.



Leonardo Gandolfi