e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

bandeira do divino


Uma versão deste texto foi utilizada na Aula da Saudade proferida em 1993 para a turma concluinte do Colégio Agrícola de Ceará-Mirim-RN.


I


Deus está solto

O único assunto é Deus
Deus salva; arte, alivia

Deus é curvo e lento
Deus não joga dados

Deus faz e junta
Deus sabe o poder das coxas

Deus não existe, mas é muito justo
Deus não castiga sem ter avisado antes

Deus é paciência. O contrário, é o Diabo. Se gasteja.


II

A raça humana
é uma semana
do trabalho de Deus

Um Deus dormiu lá em casa
e foi bom: acordei tarde
Deus não curte quem cedo madruga

A íris do olho de Deus tem muitos arcos


III


La fora, Deus nas acácias
Deus se expressa melhor pelo silêncio

Quando Deus quer penetrar uma alma,
abandona-a antes completamente

Deus existe, mas não presta
Deus corta emenda conecta

Meu Deus não sei rezar
Por que me abandonastes
se sabias que eu não era Deus?

Deus é hoje: seu reino já começou.




Índice onomástico: Carlos Drummond, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Lula, Caetano Veloso, Gilberto Gil,  Nonato Gurgel, Bruna Lambardi, Antonio Marcos, Hilda Hilst e Orígenes

domingo, 23 de outubro de 2011

O Turista Aprendiz

para Camila e Valéria, damas do Norte



Uma vontade de dar nome... p. 63

Vogamos rastejando a margem. p. 69

Então, despoje o caule dos espinhos e cheire, cômodo, a flor. p. 83

Pirarucu tem o coração na garganta. p. 96

Criei passado outra vez, botei a cara na estrada e lá fui num passo inclinado, comedor de légua. p. 140

E a beleza de Marajó com a sua passarada me derrubou no chão. p. 160

Nenhum tubarão, nenhum naufrágio, nem pelo menos um incêndio a bordo... p. 194

... chegamos ao Tirol, altura onde moro hospedado pela ventania.
 ...Não atravanco a paisagem. p. 207

... insistindo na conceitualidade marxista do caju, está claro que as tendências do meu tempo me levam a desimportar-me cada vez mais com a inutilidade individual. p. 215





Andrade, Mario de. O Turista Aprendiz. Estabelecimento do Texto, Introdução e Notas de Telê Porto Ancona lopez. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

a poesia de Moduan Matus


Com uma programação que contou com mais de 500 participantes, encerrou hoje o I Congresso Nacional Multidisciplinar – Identidade e Linguagens Hoje: Olhares sobre a Diversidade e a Inclusão.


Dentre os vários livros lançados e distribuidos no evento da UFRRJ, destacam-se dois volumes com forte influência do Concretismo: "Palavra: poemas visuais" (2011) e "Signos: poemas instalações" (2008), ambos do poeta Moduan Matus.

Publicado na antologia "Literatura Comentada - Poesia Jovem anos 70", organizada por Heloisa Buarque de Hollanda e Carlos Alberto M. Pereira, o escritor Moduan publicou13 livros com poemas e crônicas, e possui um dos maiores acrevos literários da Baixada Fluminense. O poema a seguir faz parte do livro "Signos".

Os gritos (do)
Diário(s)
de
Carolina
Maria
de
Jesus
ainda
ecoam
por quartos
de despejos
nalguns
cadernos
amarelados
e pungentes




terça-feira, 18 de outubro de 2011

Encontro com Escritores na UFRRJ



Os textos a seguir fazem parte dos romances que os escritores Dau Bastos e Luiza Lobo lançam, nesta quinta-feira, no I Congreso Nacional Multidisciplinar de Letras na UFRRJ, Campus de Nova Iguaçu.



Boiô comparava Santa Tereza a Montmartre, devido à concentração de artistas, à arquitetura antiga e ao posicionamento sobre a montanha. Reconhecia a pobreza de sua origem, ao mesmo tempo que lhe enaltecia a presença da natureza e a riqueza étnica.

Dau Bastos, “Reima”


E o carreiro de sombras negras começou a subir o íngreme caminho de mata densa, pisando a terra escura rumo à serra de Santa Catarina, em Pati do Alferes. Sem candeeiro, no começo do quarto crescente, a lua alta no céu, subiam pela floresta com dificuldade, enxergando a custo a trilha pouco marcada no mato. No quilombo, uma vida de guerra os aguardava...

Luiza Lobo, “Terras Proibidas”




domingo, 16 de outubro de 2011

Diversidade e Inclusão


O Campus da UFRRJ de Nova Iguaçu promove, a partir desta segunda-feira, o I Congresso Nacional Multidisciplinar e a III Semana Acadêmica de Letras – Identidade e Linguagens Hoje: Olhares sobre a Diversidade e a Inclusão.


“Voz rouca da periferia” é o título da conferência de abertura que será proferida pela professora e ensaísta Heloisa Buarque de Hollanda. Além dessa conferência, Heloisa lançará Escolhas: uma autobiografia intelectual, livro publicado Ed. Língua Geral.


Outros lançamentos que se destacam durante o Congresso, de 17 a 21 de outubro, são os livros de escritores como Luiza Lobo (Terras Proibidas), Dau Bastos (Reima), Lucia Assis (Identidade e Cidadania em Lima Barreto) e Marcos Bagno, dentre outros.


Mais informações sobre o evento serão obtidas através dos telefones (21) 2669-0105 / 2669-0817 e neste link onde está a programação completa: http://r1.ufrrj.br/wp/eventos/semanaletrasim/

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Para abraçar com as retinas


I



O filme “Bruta aventura em versos”, de Letícia Simões, estreou ontem no Festival do Rio. O documentário é uma descarada declaração de amor feita pela diretora à poesia de Ana Cristina Cesar (1952 – 1983), ratificando os melhores momentos de sua poética: “Samba-Canção”, “Carta de Paris”, “O homem público n 01”...



Depois dos documentários de João Moreira Salles (“Poesia é uma ou duas linhas e por trás uma imensa paisagem”) e Claudia Morandei (“Ana C”), realizados na década de 90, este filme filia alguns escritores do século XXI à poeta de “A teus pés”. Filia e fabrica uma ponte entre os antigos e novos leitores dessa jovem senhora que quando passa deixa sempre um rastro prateado.



O filme segue esse rastro luzidio deixado pela poeta que dizia serem as cartas mais arrepiantes que a literatura. Na sua rápida passagem por nossas letras, Ana deixou um legado cultural que foi transformado em 8 volumes de poemas, ensaios, traduções, resenhas e cartas. De olho neste manancial estético e na vida de Ana C, “Bruta aventura em versos” é um roteiro cheio de luz, câmara, desejo: nenhuma treva atravessa a tela.



II



Ana afeta quem a lê. Na tela, o seu verso mexe. Vaza o afeto que se encerra no peito da poeta. Vaza na diretora emocionada, no palco, falando antes do filme começar; vaza no leitor com quem a poeta dialoga sugerindo que delete o fiasco da noite velha, o salmo inútil, o amor que já não imprime.



O afeto vaza também no espectador que se desconhece em alguns versos daquela narrativa: “não sou eu que estou ali”. Um afeto que parece dialogar principalmente com o desejo e a ternura pede roteiro para quem desentranha. O que fazer, depois da sessão, com este afeto desabrochado?


Ana tenta explicar o desejo e a ternura em cada palavra. Em cada verso. Confessa mais que carola de igreja do interior. Daí o seu apreço pela carta e pelo diário – formas que melhor conduzem e suportam a confissão.  De forma didática e com leveza, o poeta Armando Freitas Filho e a ensaísta Heloisa Buarque de Hollanda elucidam a importância dessas formas modernas na poética de Ana.



III



Seja através da sonoridade verbal ou por meio de imagens em movimento, a poética de Ana arrepia. Dá bandeira nos menores gestos. Mesmo quando a fala entope, não diz, o texto produz algum sentido. Escrita que rasura a página e a pele de quem lê.



Desejo, arrepio e bandeira é um coquetel que todo jovem adora. Por isso, a maioria dos leitores que se aventura na página cáustica e requintada de Ana C torna-se presa da sua sintaxe poética. Uma sintaxe repleta de contornos, curvas, desvios e não ditos. Sintaxe de formas e afetos numa poética cheia de ritmos.



 Como o poeta Fernando Pessoa, Ana C tem o coração despejado feito balde. Como Pessoa, ela se conhece feito verbo, sinfonia, imagem. Uma imagem em movimento que se perpetua na mente após a leitura e que, feito o tempo, não pára. Como a bela Alice Sant’Anna - exímia leitora - que aparece no filme dizendo que Ana será sempre jovem. Sim, a poeta será sempre linda, luz.


domingo, 9 de outubro de 2011

Bruta Aventura em Versos


O professor Rafael Cesar, sobrinho da poeta Ana Cristina Cesar, envia-me o seguinte texto acerca do filme que estreia amanhã no Festival do Rio 2011.
 
 
Bruta Aventura em Versos é a tentativa de agarrar a escritora Ana Cristina Cesar. Ícone da poesia marginal dos anos 1970 no Rio, Ana C. faleceu em 1983, aos 31 anos, deixando inúmeros leitores e adeptos. Partindo da apropriação de sua obra por outros artistas, o documentário procura captar a beleza e a originalidade de sua escrita através do olhar de atores, dançarinos, poetas e amigos. O filme une, pela primeira vez, imagens históricas de Ana Cristina enquanto constrói uma narrativa audiovisual a partir de seus poemas. Entrevistas com Armando Freitas Filho, Paulo José, Heloísa Buarque, Chacal, dentre outros.


Dia 10 de outubro, segunda-feira, Odeon Petrobras
15h15 – sessão de gala

Dia 11 de outubro, terça-feira, Estação Vivo Gávea 3
13h30

Dia 11 de outubro, terça-feira, Estação Vivo Gávea 1
18h10

Dia 12 de outubro, quarta-feira, Cinema Nosso
17h

Dia 13 de outubro, quinta-feira, Ponto Cine
20h

Direção Letícia Simões
Roteiro Letícia Simões e Márcia Watzl
Produção Executiva Guilherme Cezar Coelho e Pedro Cezar
Produção Letícia Simões, Luana Fornaciari e Mariana Ferraz
Fotografia Alberto Bellezia e Mariana Bley
Montagem Márcia Watzl
Música Marcos Kuzka Cunha

sábado, 8 de outubro de 2011

Ana C no Festival do Rio

Dentre os 420 filmes selecionados para o Festival do Rio 2011, destaca-se “Bruta aventura em versos”. Dirigido por Letícia Simões, o documentário possui a vida e a obra da poeta Ana Cristina Cesar como tema, e estréia no cine Odeon na próxima segunda-feira, 10 de Outubro.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nobel de Literatura


A Academia Sueca anunciou hoje o nome do poeta sueco Tomas Tranströmer como vencedor do Premio Nobel de Literatura de 2011.



Elegia

Abro a primeira porta.
É um enorme quarto repleto de sol.
Um caminhão passa pela estrada
e faz com que a porcelana estremeça.

Abro a segunda porta.
Amigos! Bebestes da escuridão
e tornaste-vos visíveis.

Terceira porta. Um estreito quarto de hotel.
Vista sobre um beco.
Uma lanterna que brilha no asfalto.
Descobertas: belas escórias.
Sämtliche Gedichte ( Poesia completa ), Edition Akzente Hanser, 1997, tradução do sueco para o alemão por Hans Grössel. Trad. p/ português: Luis Costa


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Mal traçadas linhas para Vanessa

 A verdadeira vida do homem está nas suas cartas

James Joyce


I


Gosto muito de cartas. Durante décadas, escrevi e recebi muitas cartas. A maioria delas foram escritas principalmente por amigos, alguns amores, parentes e colegas de profissão. Apesar de ter queimado em Pureza, no Rio Grande do Norte, grande parte do meu arquivo epistolar, ainda carrego comigo algumas cartas de pessoas que ainda carrego comigo.



Começou na adolescência. Desde então, interesso-me por tudo o que tem a ver com o universo da epistolografia. Na escrita da carta encontrei, durante anos, a forma para driblar a minha solidão de escrevente longe da família e distante de onde nasci. E assim fui escrevendo cartas. Cartas do internato. Escrevendo cartas nas noites de hotéis e nos albergues, lugares onde durante anos verti a vida em narrativas epistolares escritas à mão, à máquina, no computador.



II



Na vida e no texto, as cartas me fizeram vingar. Sem essa forma estética que solicita e confessa, a segunda metade do século XX teria sido bem mais difícil. Através da correspondência vivi, com algumas vozes, relações afetivas da maior importância para a minha formação cultural e existencial; com outras raras, construí intensos e às vezes cômicos "romances epistolares". Eram narrativas cifradas numa escrita que, embora dirigida a um outro interlocutor, me devolvia a mim. Ainda não tinha lido o Bakhtin, mas sentia ser o outro e a sua diferença a ponte para o eu.



Durante anos, ela ocupou o lugar do analista. Como acontece na análise, a minha experiência com a carta possibilitou a elaboração de uma voz.  Dependendo do interlocutor, essa elaboração sugeria a construção de um estilo. Um estilo que se desenvolvia numa sintaxe entre o pessoal e o profissional, o antigo e o novo, a cidade e o campo. Como na maioria das vezes essas dualidades se separam de forma meio esquizo na esfera pública, a carta me dava o fio da meada.



Agora a carta é coisa do passado. Transformou-se em objeto de pesquisa. Neste mundo de i-pod e outras maquinitas, muitas coisas são coisas do passado. Ficou fácil ser do passado. Mas sem drama.  Perde-se uma forma estética, como se perderam alguns instrumentos e utensílios na história da cultura, assim como desapareceram algumas profissões do passado, e outras formas e profissões surgem.



III



Como trabalho com Literatura, interessam-me principalmente as cartas de escritores. Curto muito a Carta de Caminha. Além dos 21 livros de cartas que compõem o Novo Testamento, gosto das cartas de Fernando Pessoa, Mário de Andrade, Clarice Lispector, Paulo Leminski, Caio F, Ana C...




Além de "Cartas a um jovem poeta", de Rilke, um dos livros que mais impacto me causou foi “Carta ao Pai”, do Kafka. Findava a década de 70 no internato de Jundiaí, e a querida professora Ana Linda não tinha a dimensão das mutações existenciais que a sua sugestão de leitura causara no garoto de 16 anos que eu era. Como encarar o meu pai, na voltas das férias, depois da leitura dessa Carta cujo primeiro parágrafo usa a palavra medo 4 vezes?



As cartas não mentem jamais. Ana C diz que escrevemos cartas “para mobilizar alguém”. Segundo ela, esse desejo de mobilização traduz sempre alguma alegria. Sugere algum link com a vida. Para a ensaísta de “Escritos no Rio”, é sempre o outro quem importa numa carta. Por isso, mesmo quando falamos de coisas nossas, o outro é o alvo.

sábado, 1 de outubro de 2011

Identidade e Linguagens Hoje

Encontra-se no link abaixo a programação completa do I Congresso Nacional Multidisciplinar e a III Semana Acadêmica de Letras – Identidade e Linguagens Hoje: Olhares sobre a Diversidade e a Inclusão.

O referido evento acontecerá de 17 a 21 de Outubro no Campus da UFRRJ em Nova Iguaçu. Informações sobre o evento serão obtidas através dos telefones (21) 2669-0105 / 2669-0817 :  http://r1.ufrrj.br/wp/eventos/semanaletrasim/