Lembro da
casa de cores e cheiros fortes. Corpos quentes em quartos sombrios. Lá, dançava quem não lia os manuais da carne
e suas pequenas traições negociadas aos gritos ou na mudez mais sanguínea. Nunca
esqueci este cenário da família do filme “Os sete gatinhos”,
baseado na obra de Nelson Rodrigues.
Assim como a
poeta Diva Cunha, o teatrólogo é um autor ocupado “com as
coisas da carne”. Leitor da gramática da carne, o autor das Tragédias
Cariocas não subestimava a morte. Conheceu-a bem cedo quando viu seu irmão Roberto ser assassinado numa redação de jornal. Em entrevista para o escritor
Oto Lara Resende, Nelson diz que aos 40 anos sacou a idéia de finitude.
Peles e pelos. O universo
erótico e familiar recortado pelo autor, em 17 peças teatrais, ajuda a entender o cotidiano burguês que a modernidade urbana inventou no século XX. Ajuda e nos
situa a todos num mesmo e efêmero reino: o do corpo. É a carne e sua sinfonia que o autor
ouve e põe no palco.