e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sábado, 29 de março de 2014

mapa


O texto a seguir é sobre o livro Muro/deriva, do poeta e professor Eli Celso, publicado em 2014 pela editora Sol Negro, de Natal.
 
o mapa a lição
Myriam Coeli

Neste Muro pode ser lido um mapa que arremessa, desloca, leciona uma rota. Uma declaração de afeto ao espaço, onde veredas imagéticas e trilhas sonoras mais sugerem e seduzem do que comunicam ou consolam. Lida na concretude do muro ou nas folhas da floresta, esta “Tábua dos contentes” afete a carne de quem lê. Arremessa o leitor ao deserto. Pode deslocá-lo ao sertão de si, assim: “Tu és um mapa, e eu, fuzil”.

Irrigado com sangue e outros líquidos de diferentes países, este mapa é atravessado por pegadas de multifacetados eus. Sem aura nem acostamento, alguns deles carregam em seus rastros um lirismo irônico, às vezes violento, sem abrir mão da audição dos seus mortos. Outros recitam o próprio Livro dos mortos. Outros eus celebram uma escrita nutrida por diferentes figurações da morte e suas visitas cotidianas. Outros, mais chegados ao universo mí(s)tico, não descartam alguns mitos bastante relidos e rentáveis, como Judas e Medusa – a visão das moedas ou as moedas da visão: a dor de saber-se arma e ler, na impossibilidade do olhar, a própria vítima.

O mapa arma “asas em casco”. Fala a língua da mãe e do pé.  Em alguns trechos, sugere outros tons – de corneta, flauta e “máquina de sofrer” –, a fim de imitar a canção distante. Em seus caminhos e em suas colheitas, os trajetos deste mapa contêm muito dos quatro elementos. Principalmente da água e do ar. Mas, apesar dos discursos hídricos e eólicos que favorecem as derivas do ser, o que se colhe neste muro são as “primazias/ de flores, graças, vinhos e frutos/ paridos do ventre Terra”. É ela quem acolhe o fogo que se estende pela “planície.../... os trens/ e suas linhas...”

 

sábado, 8 de março de 2014

mulher


"num certo sentido, todos os homens começaram por ser uma mulher. A mulher grávida não
difere do seu filho senão já tarde.”
 
 Walter Hugo Mãe, A desumanização


... mulheres:
é de vocês o privilégio de conterem
os outros e darem saída aos outros
- vocês são os portões do corpo
e são os portões da alma.
  
Walt Whitman, Folhas das Folhas de relva