Para Vivi W
Só depois de ler
a biografia de D Pedro II
escrita por José Murilo de Carvalho
eu entendi a sua aflição de jovem
cadete contra a República
a ponto de lançar o próprio sabre
aos pés do ministro da guerra
durante uma solenidade na Urca
realizada na Escola Militar
Agora eu sei meu caro senhor
além de órfãos e fluminenses
o escritor e o político tinham
outras coisas em comum como
o respeito pela Monarquia e amor
às Letras, às Ciências, ao Brasil
Em comum eles tinham também
o apreço pelo positivismo e o IHGB
o gosto pela arte, a atividade epistolar
o exercício das viagens e admiração
por Victor Hugo e Benjamin Constant
A história registra em ambos
uma certa dificuldade ao lidar
com os afetos mais cotidianos
e um jeito de polir a aflição
lendo sem parar – livros livros
livros e os rostos ao redor cujos
letreiros anunciavam batalhas
políticas, militares ou amorosas
Isso sem contar a imensa
falta de sorte que tiveram –
caramba – o imperador e o sr
no trato com as mulheres:
a dele mancava; a sua, traía
Por isso qualquer um dos dois
poderia ter escrito “um tição
aceso no terreiro deserto”*
* Frase do livro "Os Sertões" (1902), de Euclides da Cunha. As demais informações sobre o escritor estão no livro "Retrato interrompido da vida de Euclides da Cunha" (2003), de Roberto Ventura.