e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

terça-feira, 30 de junho de 2009

Julho na ABL


clique no flyer para tentar ler

domingo, 28 de junho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

ele fala a língua do pé (1958 - 2009)


Who will dance on the floor in the round
She said I am the one,
who will dance on the floor in the round
(Billie Jean)


quarta-feira, 24 de junho de 2009

Junho de Letras

I

Junho é sem dúvida um dos meses mais literários. Nele nasceram alguns dos autores que mais amo e admiro: Ana C, Fernando Pessoa, M Yourcenar, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jean-Paul Sarte, Ernesto Sábato... Como durante o ano estou sempre citando esses nomes (em salas de aula, mesas públicas ou aqui), escolhi homenagear a todos através de um autor que pouco cito, e que tem importância fundamental não apenas na minha carreira como professor de literatura, mas na minha vida: Ernesto Sábato. Hoje ele completa 98 anos.
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II
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Mais do que Borges, Cortázar ou Piglia, o argentino Sábato marcou a minha vida. Nenhum professor o indicou. Descobri a sua obra através das Páginas Amarelas da Veja, final dos anos 70, no internato em Junidaí-RN. Tinha por volta dos 15 anos. Desde então, nunca esqueci deste autor que é doutor em física, e que trocou as certezas dos teoremas e da lógica pela busca das "verdades" existenciais e literárias. Tenho de cor, até hoje, alguns trechos desta entrevista que possui "Sigam os sonhadores" como título. Nunca vi um autor com tanta crença nas letras. Nesta entrevista, Sábato falava da literatura como forma de ler a condição humana, e dizia uma coisa óbvia e que até hoje pouca gente tem coragem de dizer: só devemos ler o que nos interessa, o que nos apaixona. Dizia também que ninguém é o mesmo após ler Kafka (foi aí que eu mergulhei na Carta ao Pai, e quase me afogo; sem querer retornar nas férias para a casa paterna).
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III
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Anos depois li alguns textos do Sábato. O que mais me marcou não foi O Túnel, um dos seus romances mais recomendados pela crítica, mas O escritor e seus fantasmas. Esse foi, talvez, o primeiro livro barthesiano que li (antes de ler o próprio Barthes). Fragmentado e fruído, repleto de intertextos com a literatura, a filosofia e outras artes, este texto mais indaga e sugere do que aponta respostas para as questões que o próprio título anuncia. Tendo o romance e a forma como temas recorrentes, o livro enaltece o sonho, o indivíduo na sociedade e a arte. Embora seja permeado pelas noções de dualidades, de polaridades, e repleto de menções às idéia de profundidade, totalidade e universalidade - e as demais ilusões criadas pela modernidade do século XX -, este é sem dúvida um livro indispensável para quem transita pelo universo da criação e/ou ama o mundo das letras.
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IV
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Lendo o criador como um "exagerado" (Oi TT, será que Cazuza leu Sábato? rsrsrs), apaixonado por Van Gogh e Dostoievski, o escritor Ernesto Sábato me dá, além de ideías, sorte. Numa das provas determinantes da minha carreira acadêmica, caiu como questão a tradução de um trecho em espanhol de um livro que eu havia lido há cerca de vinte anos antes: O escritor e seus fantasmas. Resultado: obtive 9,8 na tal prova. A mesma edição deste livro (veja foto) acompanha-me desde Jardim do Piranhas - uma cidadezinha do RN banhada pelo rio Piranhas ou Açu, onde nasceram duas moças muito queridas: Carminha de Jeso e Edna Vale. Elas, assim como Sábato, me ajudaram a conviver com o ser humano e nossos fantasmas.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Domingos do Mundo e Aguilar


Quando um corpo/ abre estrada/ cria música
ou
A chave/ está no olho que olha a porta
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Pablo Capistrano, 1999

sábado, 20 de junho de 2009

Carrasco



É preciso ser São
Francisco de Assis
para continuar
amando o seu
próprio carrasco.

Mesmo depois
de descobrir
que quem afia
o machado é
você mesmo.
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André Gardel, 2009

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Calvino lê Ulisses




"... a perda da memória é uma ameaça... Em todas as situações Ulisses deve estar atento, se não quiser esquecer de repente... Esquecer o que? A Guerra de Tróia? O assédio? O cavalo? Não: a casa, a rota da navegação, o objetivo da viagem."
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(Italo Calvino, Por que ler os clássicos)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

dos Inéditos e Dispersos, 1985



Como diria uma tia de Caicó que nunca leu Proust,
mas sabia tudo de memória, de cor:

"não me diga mais nada!"

ou

"Deus faz e junta"

ou

"se insisto numa pergunta e Deus não responde, esta já é a resposta"

ou

sábado, 13 de junho de 2009

Pessoa, 13 de Junho de 1888




Só me conheço como sinfonia






Sem sintaxe não há emoção duradoura






Minha pátria é a língua portuguesa


Bernardo Soares, Livro do Desassossego


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Yúdice na UFRJ

A seguir, 4 takes construídos a partir da comunicação de George Yúdice. Ele é professor da University of Miami e autor de, dente outros títulos, A conveniência da cultura: usos da cultura na era global - livro lançado pela UFMG em 2005.

1 - Yúdice iniciou a sua comunicação ressaltando a importância dos professores e pesquisadores atentarmos para os jovens. Segundo ele, os jovens alunos devem ser inseridos "libidinosamente", já que, na sua opinião, "as mudanças culturais não estão realcionadas apenas com a cultura". Essas mudanças têm a ver com a escola e com as políticas educacionais, pois no atual contexto a cultura é lida como "prática material" (Abril Trigo).
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2 - Segundo Yúdice, a maioria dos professores não conhecem (nem se interessam) pelas práticas culturais dos jovens contemporâneos: games, youtube, blogs, chats, MP-3, música baixada no pc... Isso dificulta a interação entre mestres e alunos. Inseridos na atual "cultura do acesso", esses jovens sentem-se desinteressados com o modelo proposto pela escola .
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3 - Atentando para a importância dos suportes materias e dos produtos midiáticos na cultura, o ensaísta ressaltou "os lugares de socialização da internet". Falou das possibilidades de movimentos culturais e econômicos a partir dessas redes. Ressaltou pesquisas voltadas para a programação cultural na TV destacando, como exemplo, as relações inusitadas entre os desafios propostos pelos reality shows e a tragédia grega. O prof. citou Antígona, de Sófocles, como exemplo de um dos textos clássicos a partir dos quais é possível traçar relações entre a "experiência pessoal como encenação" e "produto comercial" e o roteiro experimental dos personagens trágicos.
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4 - Walter Benjamin e sua leitura do flanêur em trânsito pelo espaço urbano no século XX foi resgatado por Yúdice. Com base nessa leitura benjaminiana, ele tece relações com o atual contexto digital e midiático, onde novas tecnologias proporcionam o surgimento de outras sensibilidades. Segundo ele, a expressão dessas sensibilidades exige outros modos de percepção, outros meios de interação; assim como as formas perceptivas que o teórico e escritor alemão captou nas primerias décadas do século XX, através do cinema e da arquitetura.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

2 românticos: W Turner e R Russo




Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Calcanhoto again




ÂMBAR


Tá tudo aceso em mim
Tá tudo assim tão claro
Tá tudo brilhando em mim
Tudo ligado
Como se eu fosse um morro iluminado
Por um âmbar elétrico
Que vazasse dos prédios
E banhasse a Lagoa até São Conrado
E ganhasse as Canoas
Aqui do outro lado
Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos
Desde que sim eu vim
Morar nos seus olhos


I

- "Canções?"

- Sim, canções.

Esta é a letra que você pediu, de forma escrota, no silêncio de ontem. Começo a perder a noção do abrigo e, sem dicionário nem roteiro teórico, plugo na veia: "tudo plugado". Cauto? Perco o sentido do que seja a palavra cauto, sabia? Nem aí. Também não temo mais a mulher-cacto. De pau duro, aprendo como encarar. Já sei driblar a dureza quando ela vem vindo ao meu encontro na calçada central. Consigo adiar com vigor a seiva no compasso da espera. Passo a passo? Cumpro todas as etapas.

II

Profissional, leciono a lição bandida de quem cala sem consentir porra nehuma. Metodologia que você usou na noite passada quando ianugurou no meu pau outro paradigma. Depois disso, não saio mais por aí respondendo às migalhas virtuais nem busco espelho. Também não sintonizo no plano físico a mente que ruge a qualquer trocado. Cansei de irrigar a noite com fumaças românticas, tempos pretéritos, solicitações tacanhas sempre adiadas. Agora é agora. Não sou pessoa que tenha por ora algum desassossego ou saudades do futuro.

.
III
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Eu queria te dar um rango bem legal, juro. Mas por enquanto só Calcanhoto me socorre com sua gramática acesa de quem pisou do outro lado. Você vai ver: "tudo plugado". No pc, no cacete, na canção... Talvez você já esteja vendo... Ouça bem, meu bem: não temo mais a derrapagem na curva perigosa. Drummond passou a senha, amor: não me mato, não mato o leiteiro e ainda amo a água, o beijo, a sede que, por enquanto, te agasalha. Mas vê se não marca. Qualquer desatenção...


quinta-feira, 4 de junho de 2009

Carta que acende a noite, resgatada por TT


Sampa, 08 de agosto de 1984


Luciano [Alabarse], mano,


Tua resposta veio tão rápida. Li no portão, enquanto esperava o táxi que trazia o Tuio Franco da Rodoviária, hoje à tarde. Por sinal, na baratinação da chegada, perdi a carta – mas tenho na cabeça. É linda. Linda e sábia. Agora são 23h 30min. Nana está cantando "vida, então, me diz/ em que parte do amor me perdi?" – tenho um Marlboro aceso e um Domecq quase no fim. Tuio saiu com os amigos. Trabalhei, trabalhei. Página sobre literatura brasileira para o Around – destaque para Lya e João Gilberto.


Luciano Alabarse: eis senão que estou ótimo. Resgatei as granas trancadas da SBAT, entreguei minha história para Regina – ficou, na minha opinião, um barato: humana, engraçada, inteligente, sensual, carinhosa - , não trepo há uma semana, leio, durmo, como, direitinho. Tem uma felicidade mansa por dentro, devagarinho. A casa bonita. Os dias bonitos. A roseira bonita. E pessoas novas (tem coisa melhor que gente?). E trabalhos novos (breve a cores). Guardo o meu amor por dentro. É precioso. Pensar nele faz com que eu tenha vontade de cuidar de mim mesmo – então é bom. Guardando, guardando, feito jóia. Precioso, delicado. Meus dias têm sido claros. Lembro de um velho samba-canção: "Eu não peço nem quero / para o meu coração / nada mais que uma linda ilusão". Supersábio. Joguei I Ching lindo hoje, bem na hora da minha Revolução Lunar, 14 graus de Capricórnio. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa. Estou em fase de reintegração. Leio um Bukowski novo: não quero. O inverno de Sampa é doce, doce. Amanhã chega Grace. Me convidaram pruma noite de autógrafos em Curitiba.


Te quero ver feliz, te quero ver sem melancolia nenhuma. (Mas que direito tenho de opinar sobre teus adentros, companheiro?)Escrevi semana passada ríspido para Luiz Arthur, sobre comentários irônicos feitos sobre Reunião por pessoas de Porto, em New York. Respondeu doce, ontem, declarando-se enciumado sobre meu trabalho contigo. Fiquei todo melado. Este parágrafo acima é na linha fofocas-de-província. Hoje não estou sentindo falta nenhuma de Porto. Nem de lugar nenhum que não aqui. Estou centrado na minha mesa desde cedo. Tuio encheu a casa – velho amigo, tem coisa melhor que velho amigo? – de outra vibração humana que não a minha.


Hoje estou pensando que ter amado meio torto durante tanto tempo talvez esteja me conduzindo a algo mais claro? É uma dúvida que te coloco. E sinto coisas tão boas, Luciano, ondas de energia claras que me sobem Kundalini acima – e então penso que está certo assim, na nossa sede infinita (Drummond) acreditar e levar porrada mas voltar a acreditar e cair do cavalo e não deixar de acreditar e se desenganar e se arrebentar mas continuar acreditando que, de alguma forma, há alguma resposta de humano para humano. E que amar o humano do outro é aceitar e amar teu próprio humano, e que esse é o único jeito, o único way-out possível: procurar no humano do outro a saída do nosso próprio humano sem solução. E na minha memória, amar os pés nus do meu amor na minha blusa roxa. Ou o beijo na boca na escadaria. E pouco importar que tudo tenha sido ou continue sendo fantasia ou carência, porque é assim que as coisas são, e é através disso – e só disso, venusiano total – que posso crescer, e então quero crescer, e não me importo nem um pouco de voltar e acreditar e de ficar todo acesso e mais delicado para olhar as coisas, qualquer coisa. Na minha lápide, quero alguma coisa mais ou menos assim: "Caio F. – que muito amou." And that's it.


Amanhã vou ao lançamento de meu amigo Dau Bastos – leia Das Trips, Coração, por favor, leia. E leia antes Pergunte ao Pó, do John Fante. E beije Reunião por mim, diga que sinto carinho, que tenho saudade, que Maluf não vai subir ao poder e conquistaremos mais umas 10 medalhas de ouro. Se pintar, e não pintará, nem precisa, diga ao teu amigo que agradeço-muito, agradeço-tanto-por-você-não-ter-me-dado-seu-amor, senão este outro momento não existiria. E estou bêbado dentro dele. Inteiro. Supermereço: eu o conquistei. Te amo muito. Hoje, ainda mais intensamente, the old.


Caio F.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sobre o livro de poemas do Armando



Neste 16 de Junho chega às livrarias Lar, - o novo livro de poemas de Armando Freitas Filho. Traduzido para vários países e proprietário de uma bibliografia que abrange mais de 20 títulos, ele é um dos autores mais representativos da poesia moderna feita no Brasil nas últimas 5 décadas. Lançado pela Cia das Letras, o atual volume contém belíssima e surpreendente capa vermelha, e uma orelha de onde transcrevemos o trecho a seguir.

Lar,

Lar, não é um livro de memórias, mas pode ser um livro da memória. A continuidade, por isso mesmo, não é linear. O autor sentiu esses sobressaltos e não procurou corrigi-los, pois como bem anota Vagner Camilo na sua apresentação, “a au­tobiografia poética não se restrin­ge (...) nem parece obedecer a uma cronologia estrita. E aqui temos que considerar o próprio desajuste do gênero lírico para lidar com a pre­tensa tarefa autobiográfica de re­compor a gênese do indivíduo, mais adequada ao fio contínuo da prosa”. A capa de Sergio Liuzzi, ao grafar o Lar do título com a vírgula sem o seu aposto — uma vírgula em sus­penso, ou em suspense —, dá, logo de entrada, visualmente, uma pala, uma dica do que se vai encontrar de semelhante nos poemas, no fluxo interno e externo deles.

Lar, é composto de três partes: “Primeira série” agrupa as sensações e situações pretéritas do autor; “For­mação” reúne de forma mais explí­cita, até porque nomeadas, os resul­tados, as variações e vivências des­sas mesmas sensações e situações, e “Numeral” continua a enumeração que começou no livro Numeral / Nominal, que abre Máquina de es­crever — poesia reunida e revista, de 2003. ...


Armando Freitas Filho nasceu no Rio de Janeiro em 1940. É autor de Palavra, Dual, À mão livre, 3x4 (Prêmio Jabuti de Poesia, 1986), De cor, Números anô­nimos, Fio terra (Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacio­nal, 2000), Raro mar, entre outros. Reuniu sua obra poética em Máqui­na de escrever (2003).

terça-feira, 2 de junho de 2009

ANA CRISTINA CESAR




02.06.52 - 29.10.83

a lesma quando passa
deixa um rastro prateado
...não sou mais severa e ríspida:
agora sou profissional.

A teus pés, 1982


Corrupta com requintes me deixa o teu amor.

Inéditos e Dispersos, 1985


Escrevo nas crateras.
...
Meus pelos se arrepiam
entre as canetas.

Antigos e Soltos, 2008


Clarice L. e Ana C.
as mulheres da minha vida


Trecho do Portsmouth Colchester
livro-caderno criada na Inglaterra por Ana,
contendo desenhos acompanhados de escritos
à mão: "Medida exata entre o acaso e a estrutura."
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Durante esta semana postarei no endereço abaixo
os textos que publiquei sobre Ana C.