e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Cecília via Caio F.


















Esgueiro-me por entre a pedra e a nuvem:
belas cidades, deixai-me passar.
Ai dos meus encontros!
Por esses encontros, esgueiro-me, fujo
por entre palavras, por entre pessoas.
Ai dos meus encontros!
Que encontros são esses? com quem? e quando?
Comigo. No sempre dos longes e pertos.
Ai dos meus encontros!
Deixai-me passar.


Para sempre teu, Caio F., Paula Dip, Rio de Janeiro/ São Paulo: Record, 2009

quarta-feira, 29 de julho de 2009

D2 com Leda



"O sonho dele caiu no meu colo"



- Frase do Marcelo D2 no Programa Sem Censura, TVE, em 29/07/09, falando de Skunk - um amigo que tinha um coiote. Skunk inspirou, em 1993, a formação da banda Planet Hemp, e morreu de Aids. Mas a história dele continua viva na mente do Marcelo: vai virar filme com roteiro do Nelson Motta.

A nova canção do D2 tem um verso que é pura sintonia com este blog: "Menos tiro no pé".

terça-feira, 28 de julho de 2009

Bagno "em defesa do português brasileiro"




















Enquanto elaboro a entrevista que planejo fazer com o escritor Marcos Bagno (UNB), segue trecho de sua fala resumindo o seu décimo segundo livro didático:

"... existem formas linguísticas que estão em uso no português brasileiro há mais de cento e cinquenta anos, inclusive na literatura mais consagrada, e continuam sendo classificadas de "erros" pelos falsos gramáticos... O livro tenta explicar a origem desas formas inovadoras, dá farta exemplificação do uso delas na escrita mais monitorada (textos acadêmicos, artigos científicos, editoriais de grandes jornais etc.), e prega que essas formas sejam consideradas tão certas, bonitas e elegantes quanto as tradicionais. Quem quiser continuar usando as antigas, fique à vontade, mas deixe a gente usar as novas em paz."

sábado, 25 de julho de 2009

Do lado esquerdo





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Vieira da Silva

A amizade é a trama de um sentimento que começa quase como uma idéia e depois ganha uma forma viva nos rostos queridos. ... am- de amigo é o mesmo am- de amor. Amor universal, fraternal. Ágape em torno do qual podemos nos reunir.

Ilza Matias

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Nas águas de Homero ou Ulisses é o cara!


01 – “Canta, ó Musa, o varão que astucioso”

- Este primeiro verso da Odisséia (livro que serve de base para a cultura ocidental) faz referência a MNEMÓSINE – a deusa da memória, e ao varão cheio de astúcia que é Ulisses...



02 – Ulisses Ou Odisseu

Rei de Ítaca
Esposo de Penélope
Pai de Telêmaco



03 – O deus dos mares

Durante dez anos, Ulisses viaja pelo mundo, como narra a Odisséia. Numa primeira etapa desta viagem, ele encara as dificuldades criadas por POSEIDON – o deus dos mares que apronta todas, cria tormentos, maldades...



04 – A memória

Em sua viagem de retorno, Ulisses corre o risco de perder a memória. Por quê? São várias as tentações: o fruto do lótus; as drogas de Circe; o canto das sereias... A perda da memória é uma das principais ameaças para Ulisses. Ele precisa extrair experiência, transmitir lições, produzir o sentido a partir do que ele viveu. Por isso não pode esquecer. Nem pode esquecer o roteiro do futuro para o qual ele viaja.

05 -Italo Calvino lê Homero/Ulisses

"... Em todas as situações Ulisses deve estar atento, se não quiser esquecer de repente... Esquecer o que? A Guerra de Tróia? O assédio? O cavalo? Não: a casa, a rota da navegação, o objetivo da viagem."
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(Italo Calvino, Por que ler os clássicos)



06 – A companheira

Na segunda etapa da viagem, Ulisses volta para o seu lar. O retorno se dá sob as bênçãos de ATENA – a deusa do pensamento, da sabedoria; patrona das artes e dos ofícios.



07 – O primeiro herói grego com inteligência e força física.

Ulisses vence todas as dificuldades e regressa são e salvo ao seu país por dois motivos: ele é o herói de mente perspicaz (raciocínio), e utiliza a força física (equilíbrio).


08 – Pensar é agir

“Porque é capaz de raciocinar e avaliar as coisas”, Ulisses pensa antes de agir; enquanto os “outros heróis se atirariam cegamente para a luta”.



09 – Com o advinho no Hades

Na viagem, Ulisses desce ao Hades. Lá, munido de sua espada, ele encontra TIRÉSIAS – o advinho cego que dá informações de como o herói deve chegar a Ítaca, a terra onde ele é rei.



10 – Encontro com Sísifo e a mãe

O Hades é um espaço problemático, o mundo da sombra. Lá encontram-se, dentre outros, a mãe do herói e Sísifo – aquele que empurra pedra montanha acima, e que com ela escorrega de volta quando chega ao topo.



11 - Sísifo (pedra, estabilidade) x Ulisses (água, movimento)

Sísifo é o avesso de Ulisses e sua viagem marítima. O roteiro terrestre de Sísifo não leva a lugar nenhum. A tarefa do seu ser nada completa. Sua viagem não chega. Sísifo é a própria pedra que ele carrega.



12 – Retorno a Ítaca

Para retomar a família, as posses e o poder, é necessário o disfarce como velho mendigo. Mas a cicatriz de Ulisses dá bandeira. Através dela, a cicatriz na coxa, o herói é reconhecido por Euricléia – sua antiga ama. O cão Argos também saca a artimanha do seu antigo dono.



13– Porto Alegre (Nos Braços de Calipso)
Péricles Cavalcanti


Amarrado num mastro/ Tapando as orelhas/ Eu resisti/ Ao encanto das sereias/ Eu não ouvi/ O canto das sereias/ Eu resisti/ Mas chegando à praia/ Não fiz nada disso/ Então caí/ Nos braços de Calipso

Eu sucumbi/ Ao encanto de Calipso/ Não resisti/ Depois disso eu não tive/ Nenhum outro vício/ Senão dançar/ Ao ritmo de Calipso/ Pois eu caí/ Nas graças de Calipso/ Não resisti/ Ao encanto de Calipso/ Só sei dançar/ Ao ritmo de Calipso/ Calipso


quarta-feira, 22 de julho de 2009

3 Esquadros: TT, Val e Jus - Meninas no Rio



Eu ando pelo mundo/ Prestando atenção em cores/ Que eu não sei o nome/ Cores de Almodóvar/ Cores de Frida Kahlo/ Cores!/ Passeio pelo escuro/ Eu presto muita atenção/ No que meu irmão ouve/ E como uma segunda pele/ Um calo, uma casca/ Uma cápsula protetora/ Ai, Eu quero chegar antes/ Prá sinalizar/ O estar de cada coisa/ Filtrar seus graus.../ Eu ando pelo mundo/Divertindo gente/ Chorando ao telefone/ E vendo doer a fome/ Nos meninos que têm fome.../Pela janela do quarto/ Pela janela do carro/ Pela tela, pela janela/ Quem é ela? Quem é ela?/ Eu vejo tudo enquadrado/ Remoto controle.../

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Eu ando pelo mundo/ E os automóveis correm/ Para quê?/ As crianças correm/ Para onde?/ Transito entre dois lados/ De um lado/ Eu gosto de opostos/ Exponho o meu modo/ Me mostro/ Eu canto para quem?/ Pela janela do quarto/ Pela janela do carro/ Pela tela, pela janela/ Quem é ela? Quem é ela?/ Eu vejo tudo enquadrado/ Remoto controle.../ Eu ando pelo mundo/E meus amigos, cadê?/Minha alegria, meu cansaço/ Meu amor cadê você?/ Eu acordei/ Não tem ninguém ao lado.../ Pela janela do quarto/ Pela janela do carro/ Pela tela, pela janela/ Quem é ela? Quem é ela?/ Eu vejo tudo enquadrado/ Remoto controle.../ Eu ando pelo mundo/ E meus amigos, cadê?/ Minha alegria, meu cansaço/ Meu amor cadê você?/ Eu acordei/ Não tem ninguém ao lado.../ Pela janela do quarto/ Pela janela do carro/ Pela tela, pela janela/ Quem é ela? Quem é ela?/ Eu vejo tudo enquadrado/ Remoto controle...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Para um amor no Recife



Para Miriam Juvino, moça do Recife que acaba de lançar o vídeo Deus lhe pague (2009), e que me proporcionou momentos marcantes no show que Paulinho da Viola fez ontem no Canecão.

A razão porque mando um sorriso/ E não corro/ É que andei levando a vida/ Quase morto/ Quero fechar a ferida/ Quero estancar o sangue/ E sepultar bem longe/ O que restou da camisa/ Colorida que cobria minha dor/ Meu amor eu não esqueço/ Não se esqueça por favor/ Que eu voltarei depressa/ Tão logo a noite acabe/ Tão logo esse tempo passe/ Para beijar você

(Paulinho da Viola)

domingo, 19 de julho de 2009

Trecho do e-mail de viagem






... A viagem foi simplesmente o máximo. Os budistas dizem que a fé é, na verdade, a memória de um estado pleno da existência. Foi mais ou menos o que senti o tempo todo por lá. Um contínuo dispertar dessa memória. Além de conseguir realizar...
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Andreia Maciel
Bailarina, atriz e professora (PUC/UNIRIO)


sábado, 18 de julho de 2009

Desencontro noturno com a atriz









Ela atua em todas: mini série de TV, programa de humor, teatro, cinema. Vai de som e fúria à grande família, passando pelas centenárias (não esquecer o pequeno dicionário amoroso).

A atriz me dá um exemplar da obra de um autor italiano contemporâneo. O volume possui forma fálica. Tem manchas antigas, amareladas. Parece há tempos em depósito. Ultimamente, este autor tem estado em minha vida. Mas eu nem leio em italiano, meu deus!

Não sei o que quer de mim a atriz. Interesse na minha vida, no meu trabalho? Conversamos no trânsito. Encruzilhadas. Curvas. Grande descampado. Pergunto pelo autor italiano que está um pouco distante de nós - eu e a atriz. É ela quem faz o roteiro. Vem quando quer. Gosto de ler a gruta, tocar o pé. Mas sei do espaço quase nada que me resta.
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Lembro de Roberto Carlos e Roland Barthes. O rei nos anos 80 gravou A atriz: "Chego em casa/Encontro apenas seu perfume/ Alimento certo, nutritivo pro ciúme/ Um bilhete escrito com batom me diz assim: "Entre um take e outro eu telefono pense em mim". Para o autor de Fragmentos de um discurso amoroso, o ciumento sofre 4 vezes: porque é ciumento, porque se reprova de sê-lo, porque teme que o ciúme machuque, porque se deixa dominar por uma banalidade.
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Soares Ponte

segunda-feira, 13 de julho de 2009

a costela, e nenhum tapa














Como quem adia os prazos foi, aos poucos, retirando minhas bengalas antigas. Dilatou espaços. Quando vi, tinha alcançado o vão principal. Corri ao jardim temendo as ervas daninhas. Surpreso, ouvi na manhã clara um cheiro bom.

Com a ciência de quem transforma nesga de rio em braço de mar, elegeu-me administrador periférico do corpo, e dos subúrbios de sua alminha escura decepada por antigos matutos. Jardinheiro que desconhece a próxima safra, contento-me agora, do alto desta colina, em colher os pés, os sovacos, grãos de alguma crença. Não deixo que as pragas penetrem a escuridão dos ouvidos.

Onde a covardia deixa de ser lei, uma mão alcança a costela, e nenhum tapa recebe a cara ou o chão em sinal de desistência.
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Soares Ponte

quinta-feira, 9 de julho de 2009

"Não tenho medo da morte"


Washington, 22/06/08. Segundo Wisnik, esta música "...é uma límpida afirmação de que a canção universal está viva". Ela lembra as antigas e belas toadas/baladas dos tempos de Refazenda (1975) e Refavela (1977): "Morrer deve ser tão frio/ quanto na hora do parto" ("Aqui e Agora").

Desde o corpo no chão de "Domingo no Parque" (1967), a temática da morte é recorrente nesta poética. Na década de 1980, no auge de sua safra musical, Gil compôs "Então vale a pena" (gravada por Simone) onde diz: "Se a morte faz parte da vida/ E se vale a pena viver/ Então morrer vale a pena/ Se a gente teve o tempo para crescer/ Crescer para viver de fato/ O ato de amar e sofrer/ Se a gente teve esse tempo/ Então vale a pena morrer".

Gil parece ser o único autor da música brasileira que compôs uma canção cujo título é "A morte". A letra começa assim: "A morte é rainha que reina sozinha".


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Post em prol de um café



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Para um homem tornar-se clandestino é preciso desfazer o rosto. Ele representa uma desterritorialização. Esconder o rosto ou colocá-lo em close. O rosto possui um correlato que é a paisagem. Rosto e paisagem: Que rosto não evoca as paisagens que amalgamavam o mar e a montanha...?
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Ilza Matia de Sousa, Câmara Cascudo: viajante da escrita e do pensamento nômade

terça-feira, 7 de julho de 2009

A gente também matou um pouco ele?




“Seu sonho realizado, exposto ao voyeurismo desejante de milhões, totalmente projetado na realidade que o cercava, tornou-se de fato o pesadelo da regressão humana ao polimorfo perverso das origens de todos nós, metamorfoseado em espetáculo, hipersensível para todos, sem mais dimensão de intimidade ou interioridade.

...O sonho foi acompanhado universalmente em tempo real.

... Este novo Frankestein espetacular, que realizou em sua metamorfose milionária e sinistra o estatuto autoritário da técnica, do dinheiro e da mercadoria sobre o corpo humano e sobre as relações do sentido das coisas, acabou por virar, e revelar, o pesadelo americano...”


Tales Ab’sáber, “Ruínas do pop”, Folha de São Paulo, 5 de Julho de 2009

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Rio Pós-Flip




















clique no flyer para ampliar

Outros dois eventos acontecem nesta semana pós-Flip. O escritor português Antônio Lobo Antunes fala, nesta terça-feira, às 19h, no Palácio São Clemente (Rua São Clemente 424, Botafogo); e Gay Talese se apresenta na quarta-feira, dia 8, no Instituto Moreira Salles - IMS, na Rua Marques de São Vicente, 476, Gávea.

domingo, 5 de julho de 2009

Bandeira na Flip 2009




A Flip termina hoje, em Paraty; mas continua esta semana aqui no Rio, com a apresentação de alguns convidados em alguns locais de Botafogo e Ipanema. A festa literária que este ano homenageia Manuel Bandeira, encerra com o filme De corpo inteiro (2008, 66 min.), de Nicole Algranti. A obra é uma adaptação do livro homônimo de Clarice Lispector.

sábado, 4 de julho de 2009

Proust tem razão ou Godard que me desculpe




Para Tetê Bezerra (RN) e Leonardo Gandolfi (RJ)



I

O rei continua vivo. Que bom poder ouvir, após 50 anos de carreira, a voz intacta do Roberto. Enquanto alguns dos nomes mais representativos da sua geração já ostentam um audível cansaço pendurado nos timbres e tons de suas vozes, o rei encara - de peito literalmente nu - a tarde de sábado na TV. Encara e (en)canta. Canta a plenos pulmões, sem pose nem play back. Com ele, canta o país inteiro. O país para o qual ele serviu de trilha sonora nas cinco últimas décadas, mesmo quando não era de bom tom gostar de suas canções.
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II
Agora é fácil. Durante a ditadura militar, na década de 70, eram poucos os jovens politicamente corretos que assumiam ouvir o rei. Plugada, Maria Bethânia sacou a onda e acionou a Tropicália. Mas, a maioria das pessoas de esquerda e grande parte dos intelectuais eram contra. Ouvir as canções do Roberto não era bacana ou cult como passou a ser depois. Na esfera literária, conta-se nos dedos os poetas como Ana cristina Cesar que assumia descaradamente: "Ouça muito Roberto: quase chamei você mas olhei para mim mesmo etc. Já tirei as letra que você pediu" (Correspondência Completa).
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III
Guiados pela emoção, Roberto e o Brasil continuam cantando "Como é grande o meu amor por você" e "As canções que você fez pra mim". Seus versos fazem parte do nosso imaginário afetivo e social. Conheço vários brasileiros que, como eu, demarcam alguns dos acontecimentos marcantes de sua vida em sintonia com o disco anualmente lançado pelo rei em determinado contexto. Dependendo da canção ou da capa, eu sei onde morava, com quem andava, os bares, os carros, o que fazia naquela fase da vida... Um dia, quem sabe, escreverei sobre as noções de luz e sombra na obra do rei. Porque ecoam até hoje em mim, versos como estes: "Fui abrindo a porta devagar, mas deixei a luz entrar primeiro" ou "Há sempre uma sombra em seu sorriso" ou "...depressa em minha vida anoiteceu e eu não vi você" ou "Qual sombra da noite de um céu nevoento" ou "Em compensação o anoitecer, a tempestade e a dor" ...
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IV
Nunca li Proust (nem sei se dará tempo ler); mas tenho vários amigos que leram. Com eles aprendi que, para o autor de Em busca do tempo perdido, a nossa memória encontra-se fora de nós: nos cherios dos quartos abafados, no aroma que a chuva anuncia, no chá cuja temperatura retorna com algum momento vivido... Ver Roberto nesta tarde de sábado, trouxe-me de volta às trilhas de algumas cidades e pessoas por que passei. Fez-me ver como Proust tem razão: parte da minha memória está no rei. Figurações da minha história passada foram acionadas pelos primeiros acordes de sua melodia presente. Fiquei emocionado com a enxurrada de pensamentos e percepções que a voz do rei acentua num corpo que armazena sua música. Não é uma questão cerebral, please. De cabeça, é fácil. Quero ver acender o imaginário coletivo; mexer com o corpinho pragmático e esperto que o sistema automatiza a cada dia, a cada ano, a cada década, tornando robôs e clones a maioria dos que seguem repetindo os mesmos gestos, as mesmas falas, usando as mesmas marcas e dizendo sim sim sim...
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V
O canto do rei aciona o pé, a mão, o pau; desnuda corações e veias... É outra coisa. É "da cabeça até a ponta do dedão do pé" (topa, my dear?), como canta ele num hit da Jovem Guarda. Como diria Tetê Bezerra, Godard que me desculpe; mas o Histoire(s) du cinema, no MAM, só amanhã. Se o rei não aparecer de novo neste horário na TV.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cinema Tecnologia Percepção no MAM



Cinema Tecnologia Percepção - Novos diálogos é o título do colóquio internacional que iniciou ontem, dia 30, e vai até amanhã, no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro. O encontro reune pesquisadores brasileiros, franceses e argentinos para discutir "o estatuto do cinema e da imagem" mediante o impacto das novas teconologias. "O que figura o figurante: o casting daquele ou daqueles que representam o povo", de Marie-Jose Mondzain (École des Hautes Études en Sciences Sociales) é o título da execelente conferência que abriu o evento.


Em sua fala, a autora chamou atenção para os que aparecem na tela, mas não possuem uma identidade própria. Apesar disso, esse seres são tocados pelo "brilho erotizado" da câmara. Corpos transformados em significantes do desejo. Sua fala atenta para o significado político desses figurantes no cinema. Para ela, é importante encarar como uma "energia política" a figura do figurante; o homem da multidão, o homem do povo, o homem da rua - aquele para quem Baudelaire, Põe e Benjamin direcionam o olhar moderno.


Segundo Marie, foi a primeira guerra quem criou os corpos sem nomes, as sombras, os soldados que seriam despois transformados em Monumentos aos Soldados Desconhecidos. Lembrei de Benjamin novamente, para quem o homem retorna da guerra sem querer narrar o horror que viu. Segundo ele, isso também contribui para a morte da narrativa.


Adorável vagabundo - filme dirigido por Frank Capra (A Felicidade Não Se Compra), com Gary Cooper e Barbara Stanwyck no elenco - serve de exemplo para a aprição deste fulano de tal, deste João Ninguém que aparece na tela. Com imagens intercaladas na tela durante a conferência, o filme narra a história de uma jornalista. Após ser demitida, ela publica como seu último artigo uma carta com o nome fictício de John Doe. O texto gera tamanha repercussão que um homem simplório acaba sendo tomado como o autor dela, e fazendo com que os fatos saiam do controle dos poderosos. A partir desta obra, são elaboradas múltiplas relações políticas, estéticas e sociais com o herói sem nome; com este que não é herdeiro de porra nenhuma e que representa uma multidão de trabalhadores, de soldados, de rostos sem assinaturas.


Essa problemática está relacionada com a Era Industrial. Com o modelo do homem médio americano. Põe em cena os paradoxos da democracia social e a questão da visiblidade e da representação popular. Nsta altura, a pesquisadora atenta para o populismo como regime que explora o horói sem nome, e questiona a crença na verdade política. No final de sua fala, a autora atenta para este figurante como o corpo estranho de toda grande narrativa. Um corpo que nos lembra muito bem a nossa própria solidão de cidadãos em busca de uma identidade social. Noite marcante: além da bela conferência, o visual noturno do Rio visto do MAM, da baía. A cidade lida por outro ângulo, como sugere Clavino em As Cidades Invisíveis. Mas essa já é outra história. Amanhã eu narro mais sobre o colóquio.