e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ana C



Faz hoje 30 anos que morreu a poeta Ana Cristina Cesar (1952 – 1983). Publicada na Alemanha, França, Portugal e Argentina, além de outros países da América Latina, a autora possui a sua obra traduzida também na Espanha. Os textos a seguir foram selecionados e traduzidos por Teresa Arijón y Bárbara Belloc, e constam da antologia Medianoche mediodía, Madrid: Amargord, 2011.
 
*
Quería hablar de la muerte
y su juventud me acariciaba... A teus pés, 1982

 
*
Corrupta con finezas me deja tu amor. Inéditos e dispersos, 1985

 
*
Siete llaves

 
Vamos a tomar el té de las cinco y te cuento mi
gran historia pasional, que guarde bajo siete
llaves, y mi corazón late desacompasado entre
obleas. Sigue contando esa historia, me
aconsejas como un mariscal del aire haciendo
alegorias. Estoy tocada por el fuego. Outro
roman à clé?
Ni respondo. No soy dama ni mujer
moderna.
Ni te conozco.
Entoces:
de aqui saco versos, de esta fiesta – con
silencioso arbitrio y origen que no confieso –
como quien borra sus pecados de seda, sus três
monumentos patrios, y pasa el puento y los guentes.  A teus pés, 1982

 
*
Y de mi padre carpintero
heredé este ritmo de sierra. ... Inéditos e Dispersos, 1985
 

*
Un bejo
 
que tuviera un blue.
Es decir
imitase feliz
la delicadeza, la suya...  Inéditos e Dispersos, 1985


domingo, 27 de outubro de 2013

Coimbra é uma lição



Para Guilherme Borges, Isadora Pessoa, Patrícia e Mariza

 no coração do país

Localizada no centro de Portugal, Coimbra possui a mais antiga universidade do país. Fundada por D Dinis - "o plantador de naus a haver" (Pessoa), ela data do século XII. Nela estudaram escritores fundamentais da literatura portuguesa, como Almeida Garret e Eça de Queiroz, dentre outros. Como na canção eternizada pela cantora Amália Rodrigues, no Olympia, "Coimbra é uma lição".

Por suas tradições culturais e pela suntuosidade do seu passado histórico (aqui nasceram vários reis lusos), a cidade estará sempre a lecionar aos seus transeuntes. A lição é dada na rua, ao vivo, frente aos arcos, claustros e monumentos que os turistas devoram, através de lentes que parecem para sempre famintas.

Mas, se a lição entoada por Amália, na antiga canção, era feita "de sonho e tradição", a lição de hoje, esta que está nas ruas, possui bem curta a sua porção onírica. Não há lágrima pela fragmentação existencial, como nos tempos de Garret, nem sonhos pichados nas paredes de hoje. O tempo urge nas mentes jovens que habitam a cidade antiga, de hábitos e ritmos lentos, onde os templos do Mc Donalds convivem, sem atrito, com igrejas seculares.
 
anjos bezerros
 
Nenhuma utopia inscreve-se nos muros brancos desta cidade linda. Mesmo assim, sua aura de sabedoria e liberdade seduz mais de 30 mil estudantes do mundo inteiro. Eles reinam nas ruas. Pro-movem uma espécie de carnaval negro, chamado Latada, onde álcool, corpo, alegria e melancolia dão o tom. Com suas ostentosas trajes pretas, eles voam feito anjos negros. Parecem sempre em busca.

A dimensão desse vôo, dessa incessante busca juvenil e da falta de utopia podem ser lidos nas linguagens das ruas. Como neste grafite a carvão, escrito num muro branco, próximo a universidade: "parecem bezerros a gritar, animais". Outro grafite parece traduzir a crise, e o grito ancestral que emana deste grafite anterior: "somos filhos do Euro = Nada".

"é naquele trem que eu vou também"

Atento aos grafites escritos nos espaços históricos e mais asseados da cidade, fui surpreendido por uma espécie de grafite oral, ao vivo, na estação Coimbra B: "Comboios, ao contrário dos passageiros, dificilmente saem dos trilhos". A frase foi dita por uma transeunte para o senhor ao seu lado, cuja mala parecia pesar-lhe além das suas forças. 

Ouvi este grafite oral como uma pequena epifania, para lembrar Caio F, o escritor brasileiro que é objeto de pesquisa acadêmica de Isadora P - estudante da UFRRJ e de Coimbra. Além de Caio F, nascido em 1948, ela selecionou um poeta que nasceu neste mesmo ano em Coimbra: Al Berto. 

Mas voltemos àquela jovem senhora de pssagem: ao pronunciar o grafite epifânico, ela não sabia que algo mudaria o roteiro de nossas viagens, e a noção de pontualidade tão cara aos europeus: o trem que ali esperávamos, atrasaria cerca de 40 minutos. Coimbra é, para sempre, uma inesquecível lição do tempo.

 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Porto

“Os homens são como as moedas; devemos tomá-los pelo seu valor, seja qual for o seu cunho”

Carlos Drummond de Andrade, Jornal Público, edição Porto, 21/10/13

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Portugal




"... que criou tanta treva e luz"