e todo caminho deu no mar

"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"
sábado, 22 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Verdadeiro com a época e suas palavras
Uma versão desta minha resenha foi publicada na Revista Via Atlântica n 21 do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa - FFLCH / USP - São Paulo, 2012
Literatura e Afrodescendência no Brasil
I
Um marco nos estudos da Literatura Negra produzida no Brasil. Este é o
tom da recepção crítica que vem tendo a antologia “Literatura e Afrodescendência
no Brasil” (UFMG, 2011), organizada em 4 volumes pelo professor Eduardo de
Assis Duarte. Objetivando o “resgate e a revisão historiográfica e crítica”, a obra
compila a produção de 65 pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras,
envolvendo obras de 100 escritores afrodescendentes que datam do século XVIII
até o século XXI.
Os sumários dos livros, suas apresentações, os depoimentos e demais
roteiros biobibliográficos sugerem ao leitor um trânsito prazeroso pelos
estudos acerca da produção literária de autoria negra no Brasil, e por gêneros
como a narrativa, o ensaio, a biografia e a poesia, dentre outros. Essa
multiplicidade de formas, assim como a releitura do acervo histórico-estético
da tradição negra, engendra um debate acadêmico no qual ecoam as vozes da
Literatura Afro-Brasileira e seus conceitos em construção. Representativas das
diferentes identidades culturais, essas vozes produzem um profícuo intertexto –
histórico, crítico, ficcional – entre os autores negros de diferentes contextos
históricos e estéticos.
A produção dessa intertextualidade negra auxilia na inscrição de uma
tradição que começa a consolidar-se no Brasil a partir dos anos de 1930. “Nesse
momento, o que era esparso assumiu uma identidade”, diz o escritor Abdias
Nascimento – “o mais importante nome da cultura negra no Brasil”, segundo Maria
Nazareth Soares Fonseca. Ela é co-organizadora do volume 4 da Antologia, e
autora dos textos de apresentação dos poetas contemporâneos Cuti e Éle Semog. Em
seu ensaio “Literatura Negra”, a professora contrapõe a questão do ritmo na
cultura africana à questão das vozes, e condensa um roteiro histórico e
cultural da Literatura Negra produzida nos Estados Unidos, na Europa e no
Brasil. Acionar o diálogo entre esta tradição negra, os autores modernos e a
produção da contemporaneidade parece ser a base do roteiro construído por Assis
Duarte, como sugerem as apresentações e bibliografias atualizadas nos quatro
livros assim intitulados: 1 – Precursores; 2 – Consolidação; 3 –
Contemporaneidade; 4- História, teoria, polêmica.
II
Fruto de uma década de pesquisas, a obra se inscreve num contexto marcado
pelo resgate de anos de luta política e embates culturais em torno da
identidade do negro e sua produção estética e intelectual. Além disso, a
referida coleção questiona posturas conservadoras e/ou diletantes que dialogam
com a literatura como se ela fosse “um privilégio das elites” (Márcio Barbosa),
e tivesse a sua fundamentação apenas naquele objeto artístico de filiação
essencialmente verbal, cujo apogeu se deu no século XIX, ratificando o discurso
de uma tradição cristã, branca, basicamente heterossexual e de vinculação
eurocêntrica.
Os tempos são outros. De acordo com Abdias do Nascimento, em um dos
momentos mais lúcidos do seu depoimento, “a gente tem que ser verdadeiro com a
época em que estamos vivendo.” Em sintonia com o criador do Teatro Experimental
do Negro, sabemos que a maioria dos leitores, escritores e pesquisadores contemporâneos,
todos nós convivemos com a Literatura de forma problematizada. Nenhuma aura, nenhum
diletantismo nos resta. As linguagens e os demais produtos da cultura
construídos neste início de milênio são carregados da história, do gênero e da
cor de quem cria. Se, como argumentam alguns, embaixo de toda pele corre o sangue
da mesma cor, por cima da nossa tez a história transcorre de forma diferente, e
começa a ganhar outras versões.
Como atestam as versões da margem aqui copiladas, nossa história é
violenta. Contrapondo-se ao histórico repressivo e ao “passo retardado da
comunidade afro-brasileira” (Abdias Nascimento), a Antologia critica “o
discurso da brasilidade mestiça e tolerante” (Assis Duarte), e sugere a urgência
de narrar travessias e deslocamentos das “culturas africanas transplantadas ao
Brasil pelos navios negreiros” (Silviano Santiago). A dívida da nossa sociedade
com os autores “marcados pela cor da pele” é antiga; o que, de certa forma,
pode ser mensurado na radicalidade de posturas ideológicas e propostas
estéticas de autores como o poeta Cuti, que, consciente de que já não basta
reproduzir os estereótipos da esquerda e os discursos ideológicos, afirma que o
“viés estritamente sociológico” prejudica a Literatura Negra.
Crítico do cânone literário brasileiro, Cuti questiona alguns autores
imortais e midiáticos e, atento às relações entre ética e discurso, vê a
Literatura como jogo e forma de transgressão, através da qual é possível erigir
o “universo subjetivo negro”. Sua leitura estética vai além da elaboração
intelectual e sugere, através da bela metáfora de uma mãe negra que ama os seus
filhos, a forma de pensar o futuro desses filhos resgatando elementos para além
de suas consciências.
O autor de Contos crespos é
representativo de uma geração de poetas para a qual é importante assumir a
identidade negra, é imprescindível escrever os textos e publicar os livros; mas
isso não basta. Eles sabem que, independente da cor de quem escreve, o autor
precisa ter consciência da historicidade e da materialidade cultural da
linguagem e das formas com as quais trabalha. Sabem ser salutar conhecer o
arquivo de formas da tradição. Cuti dialoga com esta tradição afrodescendente
de forma crítica, assim como o poeta e antropólogo Edmilson de Almeida Pereira
que, ao combinar “lucidez e ludismo” em sua poética, usa a palavra “no sentido
lúdico de recriação e ampliação da realidade.”
III
Como Cuti e Márcio Barbosa, o professor Edmilson de Almeida (uma das
bibliografias mais alentadas das poéticas contemporâneas) “circula” pela
Antologia em mais de um volume. Quando lido pelas lentes certeiras da ensaísta
Maria José Somerlate, Edmilson surge como autor de poemas que provocam e
“costumam desarmar os leitores mais incautos”. Autor dos perfis literários de
Estevão Maya-Maya e Salgado Maranhão, o ensaísta Edmilson de Almeida destaca-se
também entre os autores de depoimentos no volume 4. Além do seu discurso
elucidativo, ressalto, no referido volume, as falas de Abdias Nascimento, Cuti
e Zilá Bernd; principalmente pela forma como eles inscrevem seus roteiros
existenciais e constroem os seus textos, entre a lucidez afirmativa da experiência
social e a construção de uma “estética negra”, cuja história é assinada muitas
vezes com sangue. Para Cuti, a construção dessa estética “é uma questão de
sobrevivência.”
O discurso de cunho ético-estético-ideológico elaborado por Cuti – e
ratificado por Edmilson de Almeida e outros contemporâneos – filia-se ao
discurso da consciência negra oriundo da tradição. Como exemplos dessa filiação
histórica destacam-se, dentre outros, os escritores “consolidados” Domício
Proença Filho, Joel Rufino dos Santos e Oswaldo de Camargo, para quem a
“conquista estética também é luta”. Em seu depoimento, o autor ratifica as
idéias apresentadas por Regina Dalcastagné, cujo texto problematiza, por meios
gráficos e estatísticos, as dificuldades do autor negro frente à falta de
modelos na tradição literária.
Há no nome dessa tradição, querelas infindas: Literatura Negra ou
Literatura Afrodescendente? A radicalidade de algumas leituras pode ser aferida
já na seleção dos vocábulos com os quais os estudiosos buscam cognominar esta
Literatura. A pesquisadora Zilá Bernd lembra que alguns autores continuam
acreditando numa “singularidade” e numa “essência única”. Para esses autores, “negra” é a palavra que
melhor adjetiva esta literatura, principalmente por carregar em seu significado
a inscrição das inúmeras lutas sociais empreendidas pelos negros. A autora de Introdução à literatura negra critica
este olhar “defasado” e, em sintonia com um referencial teórico do seu tempo,
apresenta uma postura reflexiva que difere da maioria ao lembrar que separar
autores pela cor é racismo.
IV
Corpus de ponta e crendo que “a concepção
de arte é mutável”, Assis Duarte elege o vocábulo afrodescendente como palavra
que revitaliza a cultura produzida pelos negros no atual contexto. Tal revitalização
atualiza uma produção que começa a se inscrever na “Linguagem dos olhos”
românticos do poeta letrado Domingos Caldas Barbosa, e chega aos contemporâneos
sem nenhuma crença em aura ou essência, assim: “em cruz fico muito à vontade/
para reunir setas de revolta” (Cuti). Na
leitura em torno desta tradição e dos diálogos estabelecidos entre ela e os
autores modernos e contemporâneos, o organizador demonstra a contemporaneidade e
a contribuição valiosa da sua empresa.
Atentando para o lugar de onde as coisas são vistas e/ou ditas, esse olhar
contemporâneo é acionado principalmente em “Entre Orfeu e Exu, a
afrodescendência toma a palavra”, onde Assis Duarte traça uma linha dialógica da tradição
negra, e em “Por um conceito de Literatura Afro-Brasileira”, texto que aciona
várias vozes em torno da questão do conceito de Literatura escrita pelos
negros. Para a apresentação deste conceito
em construção, o ensaísta e pesquisador desconstrói signos culturais e estéticos. Nessa
desconstrução, ele dimensiona a saturação histórica de palavras como “negro”,
cujo significante atravessa, desde a Bíblia, contextos históricos datados,
carregados de muitos preconceitos sociais. Esse olhar contemporâneo que desconstrói e sugere outros ângulos de leitura faz desta uma antologia imprescindível para quem lê, estuda ou deseja conhecer a Literatura Negra produzida no Brasil.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
2 poetas concretos
a vida é curva
Oscar Niemryer
arquiteto carioca e senhor das curvas, dizia ser a vida mais importante que a arquitetura
1907 - 2012
não finge o pasmo, não inventa que é chapado:
quem pira além da piração não é pirado.
Décio Pignatari
escritor paulista e senhor "cloaca", para quem a literatura parecia ser mais importante que a vida
1927 - 2012
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Bruta aventura em versos
Exibição e debate do filme sobre Ana Cristina Cesar
UFRJ 05/12/12 - 13 h
Mesa de debates
Letícia Simões, cineasta
Nonato Gurgel, Prof. de Teoria Literária da UFRRJ
Heleine Fernandes, Pesquisadora do Mestrado em Ciência da Literatura da UFRJ
Mesa de debates
Letícia Simões, cineasta
Nonato Gurgel, Prof. de Teoria Literária da UFRRJ
Heleine Fernandes, Pesquisadora do Mestrado em Ciência da Literatura da UFRJ
Mediadora: Anélia Pietrani, Profa. de Literatura Brasileira da UFRJ
Integração dos Núcleos Interdisciplinares de Literatura e Cinema(NILC)
e de Estudos Literários da Mulher (NIELM).
II MOSTRA CULTURAL DA FAC. DE LETRAS DA UFRJ
Validade de 03 horas para certificado de AACC
Integração dos Núcleos Interdisciplinares de Literatura e Cinema(NILC)
e de Estudos Literários da Mulher (NIELM).
II MOSTRA CULTURAL DA FAC. DE LETRAS DA UFRJ
Validade de 03 horas para certificado de AACC
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