e todo caminho deu no mar

"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"
sábado, 6 de agosto de 2016
Carlos e Paulo
dita o deserto
nada de ombros
nem palavras
por aqui
o que suporta o mundo
é o riso o resto
é repetição
e espera
quarta-feira, 3 de agosto de 2016
Texto
escrito p a contracapa do livro Poema / rio - Eli de Araujo. Natal, Sol negro, 2016
A poética de Eli Celso pode
ser lida como um mapa. Uma declaração de afeto ao espaço e suas mutações: “a metamorfose/ ruge e fia”. A fiação resulta numa cartografia
labiríntica – múltiplos eus, formas e linguagens – que leciona os abismos da
pele, estepes da alma e as derivas da “planície.../... os trens/ e suas linhas...”.
O mapa
arma “asas em
casco”. Escala
pegadas de multifacetados eus sem aura, ideologia ou carta náutica. Eus que
celebram a alegria da carne letrada, a melancolia dos sorrisos de gesso e a felicidade
aflita de quem foi nutrido na “ceia das cinzas”. Alguns deles carregam em seus rastros um
lirismo irônico: “Ela me convidou a um
pequeno apocalipse/ e atalhou caminho por mundos estranhíssimos”. Outros eus são bem
humorados, alguns violentos, e tem aqueles que não abrem mão da audição dos mortos: “os clássicos cegam”. Outros sugerem, abismados,
o ceticismo e a dicção metafísica deste poeta moderno que leu Borges e Cioran,
e atravessou aceso a “rua do coração perdido”. As perdas e os atalhos deste mapa não desdenham
temas nobres ou menores – do universo das pulgas ao virtual – num fio memorial que
dá cria. Tocado pelo fogo poético, esse fio flagra o verbo pelas veredas do imaginário. Nessa ficcionalização de
reminiscências, Eli relê o horizonte polifônico de mitos como Sísifo, Judas, Medusa,
Quixote, Lilith, Argos e Fênix. Com trânsito pelas artes, ciências e religiões,
o “canibal” atualiza, nas formas do
vazio e da superfície do deserto, a urgência de lermos as cartografias contemporâneas.
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