e todo caminho deu no mar

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"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sábado, 6 de outubro de 2012

leitor dos manuais


Lembro da casa de cores e cheiros fortes. Corpos quentes em quartos sombrios.  Lá, dançava quem não lia os manuais da carne e suas pequenas traições negociadas aos gritos ou na mudez mais sanguínea. Nunca esqueci este cenário da família do filme “Os sete gatinhos”, baseado na obra de Nelson Rodrigues.

Assim como a poeta Diva Cunha, o teatrólogo é um autor ocupado “com as coisas da carne”. Leitor da gramática da carne, o autor das Tragédias Cariocas não subestimava a morte. Conheceu-a bem cedo quando viu seu irmão Roberto ser assassinado numa redação de jornal. Em entrevista para o escritor Oto Lara Resende, Nelson diz que aos 40 anos sacou a idéia de finitude.

Peles e pelos. O universo erótico e familiar recortado pelo autor, em 17 peças teatrais, ajuda a entender o cotidiano burguês que a modernidade urbana inventou no século XX. Ajuda e nos situa a todos num mesmo e efêmero reino: o do corpo. É a carne e sua sinfonia que o autor ouve e põe no palco.

2 comentários:

ANNA disse...

Embora fosse o avesso dos manuais, nesta sociedade onde até os sons de prazer parecem tão precisos e pensados como sustenidos numa partitura, Nelson faria um bem danado se adotado como “cartilha” de condutas mais honestas e vicerais.
Abraços,
Anna Kaum.

Nonato Gurgel disse...

Gostei muito do "bem danado se adotado como "cartilha"...

Saudades de vc, Anna, bj