e todo caminho deu no mar

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"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

letras “com sabor de fruta mordida”


 

Para Marília Gonçalves,
leitora de Palmira Wanderley

 

... bongava pelas confeitarias algumas frutas...

Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma

 

Sempre gostei de frutas. Com o passar do tempo, aumentei o consumo. O paladar e o olfato, maduros, voltam a bongar e saborear – repetidamente – as mesmas frutas da infância: manga, melancia, laranja... Principalmente a pinha. Conhecida como ata ou fruta de conde, saboreio, com freqüência, sua simbologia dual expressa na dureza do caroço negro e na delicadeza da carne branca.

 

Frutas avivam o paladar e a memória. Tornam o cotidiano menos amorfo e indolor. Comestíveis e ornamentais, elas aumentam o nosso apetite pela vida. Fazem pensar nas relações entre o corpo e os “cenários alimentares” (Ilza Matias). A escrita nasce nestes “cenários”. Brota do “galho” onde “a fruta/ toda pronta/ espera em tremores/ o marfim de um dente/ que a devolva inteira/ a condição de semente” (Diva Cunha).

 

A semente, seus cheiros e sabores abundam nos solos frutíferos. Formas e seivas da fruticultura rendem uma espécie de estética frutífera ligada ao universo agrário, onde se cultiva até “um pomar às avessas” (João Cabral). Os frutos – símbolo da abundância – simbolizam muito dos nossos desejos. Por isso, podem render uma saborosa escritura onde o que falta – como na “fruta mordida” – produz o sabor.

 

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