O
professor e tradutor italiano Gian Luigi de Rosa está no Brasil para participar, como convidado,
do IV SIMELP – Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa na Universidade
Federal de Goiás.
Pesquisador da língua portuguesa e exímio conhecedor das nossas produções culturais,
Gian curte cinema nacional, gosta de pão de queijo, açai e luta capoeira. Traduziu autores modernos e contemporâneos de nossa literatura, como Moacir C. Lopes, Zélia
Gattai, Marcelino Freire e Luiz Ruffato, dentre outros.
Autor
de Mondi Doppiati (2012), dentre outros livros, Gian
Luigi é PhD pela Universidade L’Orientale de Nápoles. Atualmente ele trabalha como
professor de Língua e Tradução Portuguesa e Brasileira nas Universidades de Milão e del Salento. Nesta última, ele coordenará o V SIMELP em 2015. gianluigiderosa@gmail.com
atento à realidade sincrética brasileira
NG: Gian, quais os principais títulos da sua produção bibliográfica?
GL: Alle Radici del cinema brasiliano (2003); Lingue Policentriche a confronto: quando la periferia diventa centro (2009); Dubbing Cartoonia. Mediazione interculturale e funzione didattica nel
processo di traduzione dei cartoni (2010), Identità culturale e protonazionalismo:
il ruolo delle Accademie nel Brasile del XVIII secolo (2011), Mondi Doppiati. Tradurre l’audiovisivo dal portoghese tra variazione linguistica e
problematiche traduttive (2012)
NG: O que difere Identità Culturale de
Protonazionalismo de Mondi Doppiati?
GL: Essas
duas obras tratam de dois assuntos totalmente diferentes. Na primeira obra o
objetivo é a reconstrução do processo de formação cultural e linguística quer
através da análise do movimento acadêmico do século XVIII, quer através do
processo de nativização do português nas áreas urbanas e rurais; no segundo
livro, Mondi Doppiati, o âmbito é o
processo tradutório audiovisual ligado tanto à legendagem de textos audiovisuais
portugueses e brasileiros, quanto às problemáticas linguísticas e culturais da
tradução audiovisual das formas de humor verbal e não verbal.
NG: Quais autores brasileiros formam o seu cânone cultural particular?
GL: Alcançar
o universal através do particular é o elemento que mais chama a minha atenção
de leitor e de pesquisador. A partir desse pressuposto os escritores que
conseguem chegar a uma dimensão universal utilizando traços culturais
fortemente ligados à própria terra e cultura me interessam. Além disso, precisa
evidenciar que as relações entre o autor e a sua escrita foram
sempre um elemento fundante do cânone literário e, hoje em dia, muitos
escritores, dentre os quais Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Paulo Lins, Ferréz,
etc. – na tentativa de reproduzir a
espontaneidade da fala e de tornar mais verossimilhante a língua literária – começaram
a empregar traços e variedades não padrão também na narração e na descrição,
além do espaço narrativo dialógico, espaço que sempre foi caraterizado pela
tentativa de aproximação das variedades orais.
NG: Quais traços da cultura brasileira mais chamam a sua atenção como leitor e
pesquisador?
GL: Os
traços que desde sempre considero fundamentais na minha tentativa de leitura e
releitura da(s) cultura(s) brasileira(s) são quase sempre atribuíveis à realidade
sincrética. De uma certa forma, aqueles segmentos culturais que até algumas
décadas atrás eram estigmatizadas, hoje veiculam, no Brasil e no estrangeiro, uma
ideia e uma imagem de Brasil capaz de atrair estimadores e, em termos
editoriais, leitores.
NG: O que você poderia dizer acerca do V Simelp a ser realizado na Itália em
2015?
GL: O V Simelp será um momento relevante para os Estudos de Língua Portuguesa na Itália
pelo fato de o congresso mundial de estudos de língua portuguesa se realizar num
país onde o português não é língua oficial. De fato, é a primeira vez que isso
acontece e será um desafio muito grande, podendo gerar uma série de reflexões sobre
a ausência e a falta que faz uma política linguística e cultural brasileira no
estrangeiro.
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