Analfabetismo, Amor, Auschwitz. Não necessariamente nessa ordem, são esses os ingredientes do filme O leitor. Stephen Daldry, o diretor, demonstra habilidade no diálogo entre letras e telas desde As Horas, onde narra a vida da escritora Virgínia Woolf.
Baseado num livro do escritor alemão Bernhard Schlink, O leitor é uma história carregada de dois ingredintes produtivos e perigosos: poesia e erotismo. A narrativa de Schlink é escrita numa linguagem clara e direta, numa forma linear, às vezes meio previsível. Mas a história não é nada previsível. Um garoto de 15 anos conhece farpas e mel - do amor e dos fatos - ao envolver-se com uma mulher de 36. Ela, uma ex-vigilante que encaminhava judeus para as câmaras de gás nos campos de concentração nazistas; ele, um jovem (futuro estudante de Direito) que lê Homero, Rilke, Cicero e Horácio, vivendo numa família cercada de Letras (seu pai é professor de Filosofia e sua irmã estuda Literatura).
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A ficção de Schlink se desenvolve numa Alemanha pós-guerra, cujo contexto traduz-se, no filme, em cores sóbrias que sugerem imagens trágicas. Entre os dois amantes rola sexo, leituras e "batalha verbal". Hanna doa para o seu amado -"menino" dois elementos raros na juventude: segurança e decisão. Em troca, Michael lê em voz alta - atendendo aos pedidos da funcionária do bonde - e submete-se às ciladas da "maturidade" feminina. As brigas e os descompassos produzem mais intimidades. Cenas de sangue e poesia se alternam e aproximam o casal que grita de prazer enquanto trepa.
Sem efeitos grandiloquentes nem ritmos alucinantes, O leitor cria ritmos. É aquele tipo de filme que afeta a respiração de quem vê. Isso, por um motivo atroz: aquele que narra e lê - belo, resignado, cheio de memórias - mostra que a verdade e a lei, em alguns contextos, são coisas bem distintas.
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