
Ano ímpar: 2009,
Política, esporte, música, religião, literatura, teoria literária e medicina. Esses foram os universos nos quais colhi frases representativas de 2009. É claro que essa colheita é bastante arbitrária; reflete apenas algumas das minhas imagnes, leituras e escritas deste ano.
Existem múltiplas e infindas frases e formas que definem um ano. Copiei, aí no título, a forma do Benjamim Moser, biógrafo americano de Clarice Lispector, cujo título do volume é
Clarice, (2009). Antes de dizer, na Praia Vermelha, que a liberdade de Clarice foi uma conquista muito sangrenta, Moser pisou na bola: afirmou que CL era “mais mística do que escritora”. Mas ele acerta na vírgula do título que tem como ponto de partida a própria autora. É exatamente com uma vírgula que ela inicia o seu romance
Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1974).
Quem também não obedece as normas de pontuação e o rigor sistemático e fascista da gramática é o escritor José Saramago,
Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Após detonar as “insolências reacionárias” da Igreja Católica e chamar de cínica Vossa Santidade, o autor de
Caim (2009) dialoga com o próprio Criador, assim, nestes termos: “E tu quem és para pores à prova o que tu mesmo criaste, Sou o dono soberano de todas as coisas, E de todos os seres, dirás, mas não de mim nem da minha liberdade, Liberdade para matar, Como tu foste livre para deixar que eu matasse a abel quando estava na tua mão evitá-lo,...”
Quem não evita lembranças políticas é o jornalista Leandro Fortes. Ele tem na memória imagens tenebrosas do FHC. Algumas delas são narradas no seu blog
Brasília, eu vi, no longo texto "
Adeus, FHC", com epigrafe de Guilherme Arantes: “Adeus também foi feito pra se dizer”. Uma dessas imagens mais fortes é a do FHC inaugurando “uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la.”
Mestre mesmo, mestre de verdade é o Antonio Candido aos 91 do segundo tempo (em idade, ele só perde para a professora Cleonice Berardinelli, 93, ainda dando aulas). A lucidez do mineiro continua iluminando gerações, embora eu não concorde com ele quando afirma que o seu livro
Formação da Literatura Brasileira não esteja a altura de textos como
Casa-Grande & Senzala e
Raízes do Brasil. Concordo mais com Carlito Azevedo que assume haver sido bobo ao acreditar “no poema como essência.” Agora o poeta crê em outras. Da poesia de 2009 ficaram os poemas li(n)dos por Maria Bathânia no recital da PUC e os sambas vitalizados que ela canta no Cd
Encanteria.Num mundo sem remédios para a cura do Mal de Alzheimer – essa é a reclamação do médico e escritor Dráuzio Varella – resta ouvir as assertivas do Obama: “Esse é o cara! Eu adoro esse cara!" Bom mesmo é saber que o cara mora aqui, e que 2009 foi o ano no qual ele ajudou o Rio a sediar as Olimpíadas de 2016. Que vamos! Saudades do Futuro. O meu começou com a visão de sabres de luz e a leitura das
Passagens do Walter Benjamin. Por isso nunca vou esquecer 2009,