e todo caminho deu no mar

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"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sexta-feira, 11 de março de 2011

Tenho algo a te dizer


para R Machado

Este longo romance inglês foi publicado em 2008. Hanif Kureishi, o autor, é também filósofo e roteirista de filmes marcantes da década de 80 como Minha adorável lavanderia. O texto de Hanif tem muito do ritmo das viagens, da oralidade urbana e dos temas típicos e cotidianos dos escritores beats e marginais. Sua prosa é repleta de sexo e cadáveres, amores e aflição, famílias e drogas. Haja desejos e deslocamentos.

Tenho algo a te dizer diz, em 500 páginas, das várias identidades culturais e das múltiplas sensibilidades contemporâneas que nos circundam. O autor é um exímio leitor de contextos. Um pouco mais de concisão na forma e um pouco menos de estridência na linguagem seriam bem vindos. Embora isso não retire a força da narrativa nem a marca do autor, como demonstram estes fragmentos:


- Meus prazeres desapareceram com os meus vícios.
p. 18

- ... todos os lugares estão se tornando Londres agora, a mancha se espalha.
p. 25

- Está ficando louco por causa da respeitabilidade de sua geração. Antes eles eram hippies drogados, agora são diretores. O próprio Blair é uma mistura de escoteiro com a senhora Thatcher.
P. 43

- Henry e sua geração fizeram um bocado para nos educar a respeito da natureza do desejo.
p. 47

- “Navegamos com um cadáver no porão da carga.”
p. 49

- Todo mundo tem o coração despedaçado em algum momento.
p.76

- Análise é, no mínimo, um exercício sobre a desilusão.
p. 77

- O que me compelia era a profundidade do cotidiano, o quanto havia no gesto ou na palavra mais sem sentido.
p. 100

- O rosto das pessoas que vivem tão perto de seu desejo!
p. 149

- ... era um amor triste, do pior tipo, que só aumentava a minha solidão.
p. 157

- ... exibia uma decadência sedutora que indicava que havia recusado poucas experiências...
p. 234

- ... era uma máquina de desejos...
p. 251

- Será que os mortos nunca vão nos deixar em paz?
p. 279







6 comentários:

Alexandra Moraes disse...

O que me compelia era a profundidade do cotidiano, o quanto havia no gesto ou na palavra mais sem sentido. p 100


isso é muito foda!!!

saudades de você poeta, muita saudade! saudade ...

Nonato Gurgel disse...

Vamos tomar café na segunda lá na Rural? bj

Leonardo Souza disse...

Eu estava lendo o seu Blog e fiquei inefável com essa citação: "Era um amor triste, do pior tipo, que só aumentava a minha solidão."
e "Todo mundo tem o coração despedaçado em algum momento."
Estava falando semana passada sobre como lembranças (mortos) do passado vêm nos assombrar. E vc me deixa essa no blog. "Será que os mortos nunca vão nos deixar em paz?" Estou querendo ler o livro, não o conhecia.
Vc já conseguiu me tirar da rota. Eu decidir que só voltaria a ler qualquer coisa (literatura) depois que eu passa-se num concurso. Só estava estudando e lendo coisas do gênero. Mas já estou querendo ler “Tenho algo a te dizer” de Hanif Kureishi.

Nonato Gurgel disse...

Não, Leo, os mortos nunca vão nos deixar em paz...rs
abç

Alexandra Moraes disse...

voltei aqui porque acabo de sair de seu Arquivo de formas, e precisava gritar no teu ouvido "com a inocência do turista" que "nem a pau" largo mão de "tuas gosmas transformadas em letras"!!!

saudades poeta, marcaremos nosso café, vou ligar pr'ocê!

Nonato Gurgel disse...

Eu tb, Alexandra: nem a pau eu largo a tua gosma vivida e letrada. bjs