e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sábado, 30 de julho de 2011

“voz cheia de carne”

“A poesia salva porque recolhe os fragmentos”. Gosto muito dessa assertiva do nosso mais jovem imortal da ABL, o escritor Marco Lucchesi. Penso nele ao ler Trans (Cosacnaify, 2011) – o livro de Age de Carvalho que li de uma tacada.

 Essa recolha dos fragmentos, feita pela poesia, me faz reconhecer neste livro um ritmo que vem das águas e dos ventos. Ventos nos quais se ouve de tudo: da voz do homem (“Ave, teu pênis loquaz, falador”) até as vozes de deus nos ventos do norte (“e deus ali, silvestre”).  Além do homem e de deus, ouvem-se, dentre outros, águas infindas, "o ar cerrado" e montanhas que se movem.

Esses ritmos eólicos e aquáticos que ouço em Trans não remetem a nenhuma dimensão natural nem metafísica ou ontológica. Porque dialogam com a pele, esses ritmos sonorizam uma “memória/ em viagem/ selada na carne”. Essa "memória" gera uma voz. Uma “voz cheia de carne”, colhida entre fragmentos de nomes de pessoas e lugares (às vezes em excesso), mas que faz toda diferença.

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