e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sábado, 25 de maio de 2013

Derrida: força e significação



 
Ele é o cara que, segundo Roland Barthes, abriu o signo. Essa abertura desequilibrou, no século passado,  as estruturas culturais de Paris dos anos 60. Produziu polêmicas. Provocou abalo e rasura nos discursos e nos escritos da filosofia e demais disciplinas das ciências humanas. No texto e na vida, Derrida dilatou a sintaxe e os conceitos da metafísica. Interagiu com a literatura, a psicanálise e o marxismo, dentre outras áreas, nomeando os territórios da diferença, operando a desconstrução, intervindo.

Quase uma década após a sua morte, o filósofo e escritor Jacques Derrida (1930–2004) ganha a sua primeira biografia. Escrito pelo crítico e escritor francês Benoit Peeters, o livro foi lançado este mês, no Brasil, pela editora Civilização Brasileira. Com prefácio e revisão técnica de Evando Nascimento – aluno e tradutor do filósofo nascido na Argélia –, o volume com mais de 700 páginas é dividido em três partes: “Jackie”, “Derrida” e “Jacques Derrida”.

A parte I – “Jackie” – é dedicada aos anos da juventude e da formação do futuro autor de A escritura e a diferença, texto que “constitui talvez”, segundo o biógrafo, “o ato fundador do que logo virá a se chamar os “cultural studies” - os combativos estudos culturais. A parte II – “Derrida” – como o próprio título anuncia, registra a inscrição deste nome no universo acadêmico, e o desenvolvimento da obra filosófica do autor. Esse registro nominal leva em conta as leituras, os seminários, os escritos, as publicações do autor; ressalta suas filiações estéticas e institucionais, registra escolhas afetivas e atitudes políticas.  

 “Jacques Derrida” – a última parte – trata dos desdobramentos da obra e da sua celebração, ressaltando as posturas éticas e filiações sociais e políticas. São as travessias urabnas do autor pelos territórios - verbais, imagéticos - da desconstrução. Mas nem tudo tem a ver apenas com o homem que detonou a "clausura logocêntrica" e denunciou a existência do "significado transcendental". O alentado volume expõe também temas e episódios delicados como a depressão, o câncer e a prisão montada, em Praga, por porte de droga; além de um terceiro filho nascido da relação extraconjugal com a filósofa Sylviane Agacinsky.

Biografia entremeada de cartas, fotos, textos inéditos e depoimentos pessoais, o livro de Benoit é bastante informativo e confessional, além de bem escrito. Em algumas passagens, o seu texto ganha tons romanescos, sugerindo, na velocidade da ação narrativa, os desvios da paixão na - e pela - vida narrada. Tudo isso torna prazerosa e produtiva a sua leitura, e aviva os rastros e a "letra" do seu personagem - o cara que abriu o signo linguístico, e a quem Barthes agradeceu em vida. 


 

Nenhum comentário: