Neste
testemunho político e estético que é O mundo de ontem: recordações de um europeu,
Stefan Zweig inscreve o seu convívio com alguns dos principais artistas e
intelectuais modernos do século XX. São encontros com Joyce,
Rodan, Strauss, Gorki e Salvador Dali, dentre outros, além de políticos do contexto das duas grandes guerras.
Dentre as relações duradouras de sua vida, Stefan relembra Freud e Rilke, dentre outros. Diz do preço pago, pelo amigo médico
e conterrâneo, ao negar o poder da cultura sobre o instinto; e da amplitude do silencioso Rilke, como poeta e como ser humano que “amava os livros como se fossem animais mudos”.
O mundo de ontem é um texto de sintaxe romanesca. Um livro do tempo das longas narrativas. Uma prosa com parágrafos caudalosos que parecem embalar o leitor. Documento
de uma época na qual a literatura, sua sintaxe preciosa e dilatada, tinha aura. Deste “mundo” relido no final da vida, emergem luzes e sombras. Emergem imagens e tons que afetam
as percepções de quem lê.
Pelos
cenários dO mundo de ontem, o leitor de hoje ouve e vê. Sente cheiros de
ambientes kafkianos. Espaços sombrios e burocráticos, com carimbos, digitais exiladas e números. Ambientes que registram como a inflação alemã, nas primeiras décadas
do século XX, foi determinante para o exercício da violência instaurada por Hitler
– o responsável pelo exílio e
morte de Stefan Zweig no Brasil.
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