Retrato sonoro de Canudos marca o retorno de Gereba ao Rio, século XXI. Seu espetáculo multimídia (música, vídeo, fotografia) e intertextual (poesia, história, política) dialoga, em alguns aspectos, com Os Sertões, de Zé Celso. Ambos os espetáculos ostentam uma alta dose de sintonia estética e cultural com o Brasil contemporâneo.
Dos momentos marcantes do show, registro "Ladainha de Canudos", “Duas Pedras” – a parceria cabralina com João Ba, e “A história fará sua homenagem” – letra do poeta Ivanildo Vilanova, que começa assim: “Num profundo deserto sem ter fonte/ já surgiu um regime igualitário”. Além de músico consagrado, Gereba é bom narrador. São marcantes os momentos nos quais ele narra memórias pessoais e causos da história e da tradição sertaneja. Traça relações entre os habitantes de Canudos – o lugar onde nasceu –, o Rio de Janeiro e as origens da favela. Com leveza, sem tonalidade panfletária, essas micro-narrativas orais sugerem imagens de poesia e violência que aproximam o Rio e a Bahia – o Brasil urbano e o país rural.
Retrato sonoro de Canudos faz pensar nas inúmeras leituras que podem ser acionadas entre Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e alguns textos modernos e contemporâneos como a novela A Hora da Estrela (1977), de Clarice Lispector, o romance Cidade de Deus (1997), de Paulo Lins, ou o livro que venceu o Prêmio Jabuti como melhor obra de não-ficção de 2004 – Abusado, o dono do morro Dona Marta, de Caco Barcellos.
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