e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Junho de Letras

I

Junho é sem dúvida um dos meses mais literários. Nele nasceram alguns dos autores que mais amo e admiro: Ana C, Fernando Pessoa, M Yourcenar, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jean-Paul Sarte, Ernesto Sábato... Como durante o ano estou sempre citando esses nomes (em salas de aula, mesas públicas ou aqui), escolhi homenagear a todos através de um autor que pouco cito, e que tem importância fundamental não apenas na minha carreira como professor de literatura, mas na minha vida: Ernesto Sábato. Hoje ele completa 98 anos.
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II
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Mais do que Borges, Cortázar ou Piglia, o argentino Sábato marcou a minha vida. Nenhum professor o indicou. Descobri a sua obra através das Páginas Amarelas da Veja, final dos anos 70, no internato em Junidaí-RN. Tinha por volta dos 15 anos. Desde então, nunca esqueci deste autor que é doutor em física, e que trocou as certezas dos teoremas e da lógica pela busca das "verdades" existenciais e literárias. Tenho de cor, até hoje, alguns trechos desta entrevista que possui "Sigam os sonhadores" como título. Nunca vi um autor com tanta crença nas letras. Nesta entrevista, Sábato falava da literatura como forma de ler a condição humana, e dizia uma coisa óbvia e que até hoje pouca gente tem coragem de dizer: só devemos ler o que nos interessa, o que nos apaixona. Dizia também que ninguém é o mesmo após ler Kafka (foi aí que eu mergulhei na Carta ao Pai, e quase me afogo; sem querer retornar nas férias para a casa paterna).
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III
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Anos depois li alguns textos do Sábato. O que mais me marcou não foi O Túnel, um dos seus romances mais recomendados pela crítica, mas O escritor e seus fantasmas. Esse foi, talvez, o primeiro livro barthesiano que li (antes de ler o próprio Barthes). Fragmentado e fruído, repleto de intertextos com a literatura, a filosofia e outras artes, este texto mais indaga e sugere do que aponta respostas para as questões que o próprio título anuncia. Tendo o romance e a forma como temas recorrentes, o livro enaltece o sonho, o indivíduo na sociedade e a arte. Embora seja permeado pelas noções de dualidades, de polaridades, e repleto de menções às idéia de profundidade, totalidade e universalidade - e as demais ilusões criadas pela modernidade do século XX -, este é sem dúvida um livro indispensável para quem transita pelo universo da criação e/ou ama o mundo das letras.
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IV
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Lendo o criador como um "exagerado" (Oi TT, será que Cazuza leu Sábato? rsrsrs), apaixonado por Van Gogh e Dostoievski, o escritor Ernesto Sábato me dá, além de ideías, sorte. Numa das provas determinantes da minha carreira acadêmica, caiu como questão a tradução de um trecho em espanhol de um livro que eu havia lido há cerca de vinte anos antes: O escritor e seus fantasmas. Resultado: obtive 9,8 na tal prova. A mesma edição deste livro (veja foto) acompanha-me desde Jardim do Piranhas - uma cidadezinha do RN banhada pelo rio Piranhas ou Açu, onde nasceram duas moças muito queridas: Carminha de Jeso e Edna Vale. Elas, assim como Sábato, me ajudaram a conviver com o ser humano e nossos fantasmas.

4 comentários:

Nivaldete disse...

enquanto muitos fazem sabotagem com pessoas assim, inspiradoras, vc faz saBAtagem... Homenagem é para os 'outros'.

Natália S. disse...

E quem diria... que atirado ao chão do corredor fantástico da letras, eu encontraria "El tunel", em sua versão em espanhol, pelo preço de uma coxinha de frango!
Beijos

Anônimo disse...

Nival e Nat, minhas musas,
quero continuar brincando de
sabatagem e adentrando el tunel
de la vida com vocezinhas.

bjs
lusos
hispânicos
potiguares

tete bezerra disse...

Como nossas histórias se cruzam.Li o Túnel,tinha 20 anos, finalzinho da década de 70,ainda morava na paraiba.Nonatinho,cada dia descubro mais mapa afetivo e literário no nosso percurso.