Para Lara A
Hermeto Pascoal é todo música.
Música em estado bruto. Seja do palco ou da platéia, ele retira, ao vivo, o
melhor do som dos seres. De ouvido, das antigas.
No diálogo que empreende
entre o piano e os demais instrumentos, o multiinstrumentista colhe e divide, com
os seus músicos e com os ouvintes, a alma sonora – geralmente inaudível, esquecida
– dos homens e das coisas simples.
Aos 77 anos, de pé
durante mais de uma hora, o músico rege, no Rio, uma sinfonia moderna
que sugere ouvidos desautomatizados. Através deles, Hermeto conecta-se com o
pulsar e os fonemas que a platéia lhe devolve, numa vibração que tonifica quem toca
e quem ouve, seja clássico, jazz, bossa nova ou baião.
Nessa sinfonia que
relê a memória musical do ouvinte, alguns objetos de uso cotidiano – como a
chaleira de metal ou o porquinho-cofre de barro, no balanço de suas moedas –, anunciam
a melodia que existe em todo utensílio ou fala.
Tocados pelo corpo de
Hermeto, esses instrumentos e linguagens revelam uma musicalidade multiétnica, ancestral, onde homens, bichos e coisas se tocam.
Musica atemporal do Olho d`água, onde nasceu o compositor alagoano, na trilha sonora do mundo.
4 comentários:
Professor, sempre tive curiosidade em ver(e ouvir)algum show do Hermeto. Sempre achei curioso o modo como ele cria(e retira)sons a partir de objetos "não-instrumentais". Agora com esta opinião do sr. atiçou-me mais ainda minha curiosidade. Obrigado por mostrar-me outros pontos da musicalidade deste grande artista brasileiro que, como sempre aqui,é mais reconhecido no exterior do que no nosso país. (Carlos-UFRRJ)
Bravo!
(Tergal)
Ouça muito Hermeto, Carlos, e envie
urgente o seu texto.
Gostei deste inusitado "tergal", embora não tenha a menor idéia
de qual anônimo ele veste, volte!
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