e todo caminho deu no mar

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"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

domingo, 3 de novembro de 2013

o leitor e os livros II



Pessoa personagens heterônimos


4 - Bernardo Soares diz, nO Livro do Desassossego, haver “metáforas que são mais reais do que a gente que anda na rua. Há imagens nos recantos de livros que vivem mais nitidamente que muito homem e muita mulher.” Qual personagem da literatura universal lhe vem à cabeça, ao ler essa afirmação do ajudante de guarda livros criado por Fernando Pessoa?

PC: No livro o Mentiroso, de Henry James, a personagem do coronel Capadose, o mentiroso, vive, respira e contamina a mulher, assim como os restantes. No final, não existe apenas um mentiroso, mas três, e cada qual encarna uma personagem. Sempre me pareceram reais, pessoas com quem poderíamos tomar um café, ou um chá no Pavilhão chinês.


5 – Sabendo que Bernardo Soares faz parte do seu cânone literário particular, com qual dos heterônimos de Pessoa você se sente mais identificado e por quê?

PC: Apesar de nascer no mesmo dia que o heterônimo Ricardo Reis, o meu preferido sempre foi o Álvaro de Campos. Na sua poesia, encontramos o tópico das viagens, quer sejam reais ou imaginarias, fala de mar, de aventuras, é sempre uma emoção ler um poema de Álvaro de Campos. A Ode Marítima é prova disso. A Poesia de Álvaro de Campos tem vida, movimento, um sal que não encontramos em Ricardo Reis nem em Caeiro. São poemas com genica, com força, parecem feitos de um só impulso.

 
6 – Poderia citar uma estrofe da Ode marítima que ratifica isso?

 PC: Toda a vida marítima! tudo na vida marítima!
Insinua-se no meu sangue toda essa sedução fina
E eu cismo indeterminadamente as viagens.
Ah, as linhas das costas distantes, achatadas pelo horizonte!
Ah, os cabos, as ilhas, as praias areentas!
As solidões marítimas, como certos momentos no Pacífico
Em que não sei por que sugestão aprendida na escola
Se sente pesar sobre os nervos o facto de que aquele é o maior dos oceanos
E o mundo e o sabor das coisas tornam-se um deserto dentro de nós!
A extensão mais humana, mais salpicada, do Atlântico!
O Índico, o mais misterioso dos oceanos todos!
O Mediterrâneo, doce, sem mistério nenhum, clássico, um mar pra bater
De encontro a esplanadas olhadas de jardins próximos por estátuas brancas!
Todos os mares, todos os estreitos, todas as baías, todos os golfos,
Queria apertá-los ao peito, senti-los bem e morrer!
 
 
 

4 comentários:

Anônimo disse...

E se você tivesse que escolher um heterônimo, qual seria?

Verônica disse...

E se você tivesse que escolher um heterônimo, qual seria?

Nonato Gurgel disse...

seria Anônimo

Nonato Gurgel disse...

bj, Val, fico imaginando qual seria o seu heterônimo predileto